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Ana Gomes: Apoios são "caridadezinha assistencialista" e isso "no fundo, também é populismo"
Em entrevista ao DN e à TSF, Ana Gomes critica António Costa, a quem culpa pela crise política e diz que falta ao primeiro-ministro o ímpeto reformista que o momento impunha. João Galamba, acrescenta, ainda trará problemas.
As vantagens de "comprar" uma guerra com Marcelo Rebelo de Sousa serão, para o primeiro-ministro, "de muito curto prazo, porque, realmente, se olharmos a médio prazo, não compensa, entrar na guerra com o Presidente, que foi, realmente, um decisivo apoiante dos governos de António Costa".
O aviso vem de Ana Gomes, em entrevista esta sexta-feira ao DN e à TSF. A diplomata e ex-candidata à Presidência da República considera que "ainda há muita água que vai correr sob as pontes" e que "a Comissão de Inquérito Parlamentar sobre a TAP", empresa tutelada por João Galamba, "tem o potencial de trazer a lume muitas questões embaraçosas para o primeiro-ministro".
Por exemplo, "todas as questões que têm a ver com o período da reversão da privatização que foi feita no primeiro Governo de António Costa, com o amigo dele, Diogo Lacerda Machado, na administração da TAP, por nomeação do primeiro-ministro, a não poder não saber do "esquema macaco", digamos, da troca dos aviões e com todos os outros".
Para já é certo que Marcelo não quereria, neste momento, avançar com uma dissolução do Parlamento, até porque "não quererá ficar com o nome associado a uma entrada da extrema-direita para a governação do país". Mas tem "menos instrumentos para ir desgastando o Governo".
"Essas ameaças eram ocas e o primeiro-ministro cansou-se delas e decidiu, digamos, desfazer o bluff. Mas, a prazo, não sei se isso tem grandes vantagens para o próprio primeiro-ministro. E não tem, certamente, vantagens para a governação", entende Ana Gomes.
E o problema, diz, é que se está a "desviar o Governo daquilo que é essencial, que é ter à partida maioria absoluta e governar, fazer a diferença, reformar o país". Na área fiscal, da educação ou da saúde, exemplifica.
"As medidas com que se tem acorrido são medidas avulsas, distribuição de cheques casuísticos em função das pressões do momento. E esse tipo de caridadezinha assistencialista, no fundo, também é populismo", remata.