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Air Force One de Trump está pronto para ganhar asas

Após várias décadas no ar, o avião presidencial está finalmente a ser alvo de "upgrade". A menos que o passageiro-chefe traga turbulência.

bloomberg
16 de Março de 2017 às 10:34
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Donald Trump há muito tempo que tem uma espécie de fixação com o Air Force One. Ele depreciou o avião presidencial durante a campanha eleitoral, dizendo que "ficava muito atrás … em todos os sentidos" face ao seu próprio avião, um opulento Boeing 757.

 

Trump ridicularizou o alto consumo de combustível dos motores do Air Force One e criticou o ex-presidente Obama por usá-lo para ir a comícios eleitorais e para ir de férias.

 

Depois, numa terça-feira de Dezembro, após já ter sido eleito presidente, mas antes de ter tido a oportunidade de usar a aeronave, pegou no seu Android e escreveu na sua conta do Twitter sobre um novo projecto para substituir o avião presidencial por um outro ainda mais potente e capaz. "Os custos estão descontrolados, mais de quatro mil milhões de dólares", escreveu às 8:52 da manhã. "Cancele-se a encomenda!"

 

Nos escritórios da Boeing, em Washington, D.C., os executivos cancelaram abruptamente a sua reunião estratégica matinal de rotina. O projecto Air Force One, monotonamente conhecido como Programa de Recapitalização da Aeronave Presidencial, não tinha sido assunto de cobertura jornalística recente, mas poucos minutos depois estava nas manchetes de todos os canais noticiosos. Quando a bolsa abriu, as acções da Boeing seguiam com uma queda superior a 1%.

 

As críticas de Trump estavam algo equivocadas. Primeiro, o Air Force One é maior, mais rápido e está equipado com uma tecnologia incomparavelmente mais sofisticada que o 757 de Trump, que ele comprou em segunda mão (um dos donos anteriores foi uma empresa aérea mexicana de baixo custo). Por outro lado, nenhum dos envolvidos no programa sabia a que "mais de quatro mil milhões de dólares" ele se referia.

 

Executivos da Boeing salientaram, nessa altura, que o único gasto público até àquele momento tinha sido um contrato de 172 milhões de dólares para estudar as capacidades do novo aparelho. Embora construir um novo Air Force One tenha um valor publicitário inegável para a companhia, em termos monetários isso mal se faz notar numa empresa com receitas anuais de 95 mil milhões de dólares.

 

Os executivos resmungaram, à porta fechada, que na verdade a Boeing perdeu dinheiro da última vez em que forneceu novos aviões presidenciais. Mas a construtora aeronáutica tem oportunidades de negócios maiores que poderiam desaparecer se as relações com a presidência descarrilassem. A Boeing espera obter autorização do governo para um acordo no valor de 16 mil milhões de dólares para a construção de aviões para o Irão, um contrato que se tornou possível graças ao acordo nuclear que Trump atacou ferozmente.

 

Depois do tweet, o CEO Dennis Muilenburg fez peregrinações a vários imóveis de Trump para se reunir com o presidente eleito e ouvir os seus receios. Acabou depois por anunciar planos vagos de redução do custo do avião e também teceu elogios à perspectiva comercial de Trump.

 

Isso bastou para que Trump considerasse essa missão cumprida. Em Fevereiro, já recorria ao Air Force One para viagens regulares a Mar-a-Lago (onde tem a sua casa de férias), na Florida, e usou-o como pano de fundo para uma visita às instalações da Boeing na Carolina do Sul. "Este avião, bonito como é, tem 30 anos de idade", disse Trump, gesticulando orgulhosamente. "O que poderia ser tão bonito aos 30?!"

 

Num comício em Melbourne, Florida, Trump gabou-se da sua renegociação com a Boeing. "Eles estavam prestes a assinar um acordo de 4,2 mil milhões de dólares pelo novo Air Force One", disse Trump. "Dá para acreditar? Eu disse-lhes: ‘Nem pensar. Recuso-me a usar um avião que custa 4,2 mil milhões. Recuso-me’." E acrescentou: "Conseguimos reduzir esse preço em mais de mil milhões de dólares e, para ser sincero, é provável que eu nem tenha chegado a falar uma hora sobre o projecto".

 

Quatro dias depois, um porta-voz da Força Aérea dos EUA disse que não fazia ideia de qual era a economia de mil milhões de dólares a que Trump se referia. "Qual foi o montante economizado não seu. Não fui notificado de que tenhamos essa informação", disse o coronel Patrick Ryder a jornalistas. "Peço que consultem a Casa Branca".

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