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Varoufakis preparou "Plano X" para moeda alternativa ao euro
O ex-ministro das Finanças grego assumiu que foi mandatado por Alexis Tsipras para equacionar uma alternativa à presença de Atenas na moeda única. O primeiro-ministro terá depois cedido a Berlim, diz Varoufakis.
O ex-ministro das Finanças grego Yanis Varoufakis disse esta quarta-feira que o primeiro-ministro, Alexis Tsipras, o encarregou, no ano passado, de criar um grupo de especialistas para projectar uma moeda paralela, caso a Grécia saísse do euro.
Numa entrevista terça-feira à noite à cadeia de televisão Sky, Varoufakis adiantou que, no âmbito da decisão, que ficou conhecida como "Plano X", os responsáveis governamentais tinham a tarefa de planear, se a Grécia saísse do euro e se o país não pudesse fazer face às suas obrigações financeiras, uma forma para ter acesso a medicamentos, combustíveis e alimentos.
O economista relatou que aconselhou Tsipras a pôr em marcha um plano para que a Grécia não pagasse 27.000 milhões de euros em obrigações que o Estado devia ao Banco Central Europeu (BCE), quando o primeiro-ministro avançou com o referendo em julho de 2015 sobre a proposta de acordo com as instituições credoras.
"Pensei que se tivéssemos feito o que decidimos como equipa de negociação e se anunciássemos que estávamos a reestruturar os laços e implementar o sistema de pagamento em paralelo, a discussão entre [Mario] Draghi e Merkel antes do referendo tinha acontecido", disse.
No entanto, Tsipras optou por seguir o conselho do seu vice-primeiro-ministro, Yanis Dragasakis, e recusou a adopção do plano desenhado por Varoufakis.
"O primeiro-ministro pensou sobre isso cuidadosamente, mas decidiu seguir a recomendação do Dragasakis e não a minha", disse.
O economista admitiu que se sentiu frustrado com Tsipras quando, durante as negociações, aceitou uma meta de superavit primário de 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) para os próximos anos.
O então ministro advertiu de que se tratava de um objectivo "macroeconómico impossível", mas Tsipras contestou que havia cedido em troca de receber um possível alívio da dívida.
"O nosso objectivo era mostrar que a Grécia era capaz de cumprir os acordos para obter crédito junto de outros países, com o objectivo de aumentar a pressão sobre o BCE e para que cumprisse com o seu dever de maneira efectiva. Este acordo alcançou-se, mas foi anulado por uma chamada telefónica de Berlim", relatou.
O ex-ministro confessou também o seu desacordo com o conhecido "programa de Salónica", um conjunto de medidas sociais desenhadas para fazer frente à crise económica e disse teve conhecimento de tais 'medidas' pelos jornais".
"De imediato me dei conta de que havia uma falta de coerência total entre uma lógica de negociação razoável e este programa", afirmou, assinalando que se chegou à conclusão de que o "plano se adaptaria a uma estratégia de negociação".
Varoufakis admitiu também ter gravado todas as reuniões do Eurogrupo nas quais participou, excepto a primeira, e, quando questionado sobre se pretendia usar o material, assegurou que "de momento" não tinha essa intenção.
O economista admitiu ainda ter falhado enquanto ocupou o cargo de ministro das Finanças.