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Suécia vira a página dos juros negativos com subida contracíclica

O banco central da Suécia decidiu subir os juros, abandonando o território negativo que adotou durante meia década. A decisão ocorre numa altura em que a economia está a desacelerar.

3 - Suécia
Reuters
19 de Dezembro de 2019 às 10:28
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O banco central da Suécia, o Riksbank, decidiu esta quinta-feira, 19 de dezembro, subir os juros diretores em 25 pontos base para os 0%, virando assim a página dos juros negativos que marcou a política monetária do país desde 2015. Com esta subida, os juros regressam ao patamar de outubro de 2014.

Apesar da desaceleração da economia sueca, o banco central considera que a aproximação da inflação aos 2% e o crescimento do PIB numa "situação normal" permitem uma subida dos juros. Esta decisão já era antecipada pelos mercados dado que esta subida tinha sido prevista na reunião de outubro.

Na Suécia, os juros diretores atingiram o nível mais baixo em fevereiro de 2016 com uma descida para os -0,5%. Em dezembro do ano passado, o Riksbank efetuou a primeira subida para os -0,25% e, um ano depois, volta a subir para os 0%.

Segundo a Bloomberg, ao justificar a decisão, o governador do Banco da Suécia, Stefan Ingves, desvalorizou a travagem da economia, realçando os "perigos" de custos de financiamento muito baixos, nomeadamente o investimento em ativos mais arriscados. 

Os juros negativos têm sido usados pelos bancos centrais como um incentivo aos bancos para emprestarem dinheiro dado que são "penalizados" se o guardarem nos cofres. A subida dos juros na Suécia para o patamar zero retirará alguma pressão à indústria financeira.

A Suécia torna-se assim a primeira economia avançada que praticou juros negativos a sair dessa situação, servindo de caso "experimental" para os restantes bancos centrais nessa situação, como é o caso do Banco Central Europeu (BCE), o Banco da Suíça (SNB), o Banco da Dinamarca e o Banco do Japão. Ainda assim, o Riksbank antecipa que os juros deverão manter-se nos 0%, um nível historicamente baixo, "durante os próximos anos". 

Para o banco central, esta decisão não é incompatível com uma política monetária expansionista até porque o quantitative easing (QE) - a compra de ativos, nomeadamente de dívida pública - mantém-se até chegar a um total de 45 mil milhões de coroas suecas entre julho deste ano e dezembro do próximo ano. "Com esta política monetária expansionista, a economia deverá estar equilibrada nos próximos anos e as condições serão boas para a inflação se manter próxima da meta no futuro", escreve o banco central. 

Esta decisão arrojada face à tendência dos outros bancos centrais - o BCE baixou uma das suas taxas para -0,5% em setembro, por exemplo - não é, porém, irreversível. "Se o 'outlook' da economia e as perspetivas de inflação mudarem, a política monetária poderá ter de ser ajustada", admite o Riksbank, sugerindo que tanto pode subir como descer os juros ou tomar outras medidas para tornar a política monetária mais acomodatícia.

Citado pela Bloomberg, o economista da Morgan Stanley, João Almeida, considera que a medida pode ser vista como "contra-intuitiva" dado que a economia sueca também foi afetada negativamente pela queda da produção industrial a nível mundial. "Contudo, de um ponto de vista cíclico, a Suécia é uma economia com um hiato do produto [PIB] positivo e a inflação não está longe do objetivo", acrescentou. 

A decisão é polémica e poderá ser comparada à subida dos juros em plena crise, em 2010, o que na altura foi duramente criticado por vários economistas, inclusive o Nobel da Economia Paul Krugman. Mesmo dentro do Riksbank, a decisão desta quinta-feira não foi consensual: os vice-governadores Anna Breman e Per Jansson mostraram "reservas" contra a subida dos juros, mostrando preferência por uma indicação [forward guidance] de que os juros iriam subir no futuro em vez de uma subida imediata.

Noruega sugere que pode subir juros em 2020
Numa situação diferente está o banco central da Noruega que durante este ano esteve a "apertar" a política monetária com a subida dos juros, em contraciclo com os bancos centrais das economias avançadas. O Norges Bank manteve esta quinta-feira os juros nos 1,5%, tal como era esperado pelos mercados, mas deixou uma pista subtil de que não se deve excluir um cenário de subida dos juros em 2020.
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