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Lagarde: "O nosso trabalho não está terminado e temos de permanecer vigilantes"
A presidente do Banco Central Europeu sinalizou que a descida de juros será mais lenta do que o ritmo de subidas. E admitiu que uma aterragem suave da economia não está "garantida".
01 de Julho de 2024 às 20:00
"Os primeiros 90 minutos são os mais importantes". Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE), recorre às palavras do antigo jogador e treinador de futebol Bobby Robson para garantir que a autoridade monetária não vai descansar enquanto o jogo não estiver vencido - uma vitória que significa o regresso da inflação à meta dos 2%. Para isso, poderá não voltar a descer já as taxas de juro de referência na Zona Euro.
Lagarde deu, esta segunda-feira, o pontapé de saída ao fórum anual em Sintra com garantias de que é preciso manter os juros elevados após dois anos de esforços para domar a escalada dos preços. "Em outubro de 2022, a inflação atingiu o pico em 10,6%. Em setembro de 2023, na última vez que subimos os juros, tinha descido para menos de metade, para 5,2%. E nove meses de juros inalterados depois, vimos a inflação a diminuir novamente para metade, para 2,6%, o que nos levou a cortar os juros pela primeira vez em junho", lembrou a líder do banco central.
Após dez subidas de juros, num total de 450 pontos base, ao longo desse período, o BCE avançou a 6 de junho com uma descida de 25 pontos. A taxa de depósitos recuou para 3,75%, a aplicável às operações principais de refinanciamento para 4,25% e a de cedência de liquidez para 4,5%.
"O nosso trabalho não está terminado e temos de permanecer vigilantes. Mas estes progressos permitem-nos olhar para trás e refletir sobre o caminho que percorremos", afirmou, no discurso inaugural do evento que reúne todos os anos banqueiros centrais, líderes e economias em Portugal e está a decorrer até quarta-feira em Sintra.
Os economistas dividem-se sobre a origem do atual episódio de inflação, mas a análise do BCE conclui que, no pico, os choques de oferta foram três vezes mais importantes do que os choques de procura para explicar o desvio da inflação em relação à sua média.
Lagarde explica que decisões de política monetária tiveram por base não só a origem dos choques, mas também a sua dimensão e persistência. "Isto porque os choques foram tão grandes e persistentes que nos confrontámos com um risco genuíno para as expectativas de inflação", refere. "Mas como é que a política monetária ancora as expectativas de inflação? Não se trata apenas do destino da política, mas também de definir a trajetória correcta das taxas para lá chegar".
A análise do BCE mostra que, se não tivesse reagido, o risco de desligamento entre expectativas e inflação ("desancoragem") teria sido superior a 30% em 2023 e 2024. Já se as taxas tivessem parado nos 2%, o risco de desancoragem continuaria a ser de cerca de 24%.
"Mas, à medida que as taxas diretoras se aproximavam de território restritivo, o desafio deixou de ser agir rapidamente e passou a ser calibrar a trajetória com precisão", refere. "Esta trajetória exigiu também que adotássemos uma abordagem diferente da do passado".
Confrontado com múltiplos choques de grandes dimensões, o BCE viu-se a braços com uma incerteza "significativa" quanto à forma de interpretar e classificar as informações que foram sendo recebidos da economia. E Lagarde sublinha que a estratégia para combater a inflação teve efeitos na economia.
Durante o seu discurso, a francesa deixou claro que dada a "magnitude" do choque na inflação, o cenário "aterragem suave ainda não está garantido". A "aterragem suave" ou inglês "soft landing" é um conceito económico que exprime a desaceleração da economia (por norma, após um ciclo de política monetária restritiva), mas sem chegar à recessão.
Lagarde deu, esta segunda-feira, o pontapé de saída ao fórum anual em Sintra com garantias de que é preciso manter os juros elevados após dois anos de esforços para domar a escalada dos preços. "Em outubro de 2022, a inflação atingiu o pico em 10,6%. Em setembro de 2023, na última vez que subimos os juros, tinha descido para menos de metade, para 5,2%. E nove meses de juros inalterados depois, vimos a inflação a diminuir novamente para metade, para 2,6%, o que nos levou a cortar os juros pela primeira vez em junho", lembrou a líder do banco central.
"O nosso trabalho não está terminado e temos de permanecer vigilantes. Mas estes progressos permitem-nos olhar para trás e refletir sobre o caminho que percorremos", afirmou, no discurso inaugural do evento que reúne todos os anos banqueiros centrais, líderes e economias em Portugal e está a decorrer até quarta-feira em Sintra.
Os economistas dividem-se sobre a origem do atual episódio de inflação, mas a análise do BCE conclui que, no pico, os choques de oferta foram três vezes mais importantes do que os choques de procura para explicar o desvio da inflação em relação à sua média.
Lagarde explica que decisões de política monetária tiveram por base não só a origem dos choques, mas também a sua dimensão e persistência. "Isto porque os choques foram tão grandes e persistentes que nos confrontámos com um risco genuíno para as expectativas de inflação", refere. "Mas como é que a política monetária ancora as expectativas de inflação? Não se trata apenas do destino da política, mas também de definir a trajetória correcta das taxas para lá chegar".
A análise do BCE mostra que, se não tivesse reagido, o risco de desligamento entre expectativas e inflação ("desancoragem") teria sido superior a 30% em 2023 e 2024. Já se as taxas tivessem parado nos 2%, o risco de desancoragem continuaria a ser de cerca de 24%.
"Mas, à medida que as taxas diretoras se aproximavam de território restritivo, o desafio deixou de ser agir rapidamente e passou a ser calibrar a trajetória com precisão", refere. "Esta trajetória exigiu também que adotássemos uma abordagem diferente da do passado".
Confrontado com múltiplos choques de grandes dimensões, o BCE viu-se a braços com uma incerteza "significativa" quanto à forma de interpretar e classificar as informações que foram sendo recebidos da economia. E Lagarde sublinha que a estratégia para combater a inflação teve efeitos na economia.
O cenário de "aterragem suave ainda não está garantido"
Durante o seu discurso, a francesa deixou claro que dada a "magnitude" do choque na inflação, o cenário "aterragem suave ainda não está garantido". A "aterragem suave" ou inglês "soft landing" é um conceito económico que exprime a desaceleração da economia (por norma, após um ciclo de política monetária restritiva), mas sem chegar à recessão.
A presidente do BCE recordou que nos ciclos históricos das taxas de juro desde 1970, verifica-se que quando os principais bancos centrais aumentaram as taxas de juro, enquanto os preços da energia estavam elevados, os custos para a economia (desta subida das taxas de referência) foram elevados.
Nestes casos "apenas cerca de 15% das aterragens suaves foram bem sucedidas", ou seja, só nesta percentagem se conseguiu "evitar uma recessão ou uma deterioração do emprego". Ainda assim, Lagarde desdramatiza e numa nota de otimismo salienta que "até ao momento, este ciclo não seguiu os padrões do passado".
Em concreto, a líder da autoridade monetária recorda que a inflação atingiu um pico mais elevado do que nos anteriores "soft landings", mas que desta vez "também abrandou mais rapidamente".
Além disso, o crescimento económico "manteve-se dentro do intervalo dos anteriores cenários de aterragem suave", ainda que mais perto do ponto mais baixo desta moldura. Paralelamente, "o desempenho do mercado de trabalho tem sido, excecionalmente, favorável", considerou Lagarde.
"Os choques foram tão grandes e persistentes que nos confrontámos com um risco genuíno para as expectativas de inflação." Christine Lagarde, presidente do BCE