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Fed mantém juros e sinaliza retirada de estímulos "em breve"
O banco central dos EUA decidiu não mexer na taxa dos fundos federais, que se manteve entre os 0% e os 0,25%. Também decidiu não proceder a qualquer alteração ao valor mensal da compra de obrigações. No entanto, anunciou que "em breve poderá ser garantida" uma moderação no ritmo destas compras.
A Reserva Federal norte-americana, liderada por Jerome Powell (na foto), manteve a taxa de juro diretora num intervalo entre 0% e 0,25%, tal como se esperava.
Além disso, decidiu também manter o atual ritmo de compra de ativos, no equivalente a 120 mil milhões de dólares por mês. Estes montantes repartem-se, mensalmente, por 80 mil milhões de dólares em obrigações do Tesouro e 40 mil milhões em títulos garantidos por hipotecas.
No entanto, sinalizou aquilo que tanto se esperava em relação ao ‘tapering’ (início da retirada gradual de estímulos), ao dizer que "em breve poderá ser garantida" uma moderação no ritmo de compra de dívida.
"Se continuar a haver bons progressos, tal como se espera, o comité considera que em breve se poderá garantir essa moderação no ritmo de compra de ativos", sublinha o Comité Federal de Mercado Aberto (FOMC).
Os observadores de mercado esperavam que a Fed mantivesse os juros diretores nos atuais mínimos históricos, mas estavam bastante expectantes quanto ao que iria ser anunciado em relação a este programa de estímulos da era pandémica.
Existia um consenso cada vez maior de que o banco central dos EUA pudesse anunciar o início do ‘tapering’, mas também havia quem considerasse que a Fed adiaria essa desaceleração na compra de dívida, uma vez que o mercado de trabalho ainda não está robusto e que o espectro de um aumento permanente da inflação está a atenuar-se. Agora, a Fed desvaneceu as dúvidas ao dizer que estará para breve essa retirada dos estímulos.
Mas "embora o anúncio do ‘tapering’ possa vir, provavelmente, em novembro, o facto de a Fed não o ter feito hoje reflete um comité ainda bastante ‘pomba’ [uma postura mais branda, acomodatícia]", comentou à CNBC o diretor de investimento do Bleakley Advisory Group, Peter Boockvar. No entanto, o principal estratega da Jefferies, David Zervos, destacou à mesma fonte que Powell, na conferência de impresa de hoje, revelou um lado "um pouco mais falcão" (não tão brando) do que aquele que vinha a revelar ultimamente.
O mocho sábio
Powell sempre foi conhecido como tendo uma postura mais "hawkish", sobretudo por não defender um endurecimento monetário em nome da estabilidade financeira, mas também advoga ideias que pendem mais para o lado "dovish", sendo por isso considerado um homem que está no meio termo.
Quando Powell foi eleito para comandar a Fed, Richard Fisher, ex-presidente da Fed de Dallas, dizia que o novo líder não era "nem falcão, nem pomba". "Costumava dizer que todos queremos ser mochos sábios. E penso que Powell se encaixa muito bem nessa categoria", sublinhou então em declarações ao New York Times.
PIB revisto em baixa e inflação em alta
Hoje foi também dia de o banco central atualizar as suas previsões para o crescimento económico, emprego e inflação.
"Com os progressos na vacinação e um forte apoio das medidas avançadas pelos decisores políticos, os indicadores da atividade económica e do emprego têm continuado a fortalecer. Os setores mais adversamente afetados pela pandemia melhoraram nos últimos meses, mas o aumento de casos de covid-19 desacelerou a sua recuperação", destaca a Fed.
Por conseguinte, o banco central reviu em baixa de 1,1 pontos percentuais a sua estimativa para o crescimento do PIB em 2021, que coloca agora nos 5,9% (contra os 7% projetados em junho). Para 2022, a Fed reviu em alta de 0,5 pontos percentuais a sua previsão de crescimento do PIB, que coloca agora nos 3,8%.
Já a taxa de desemprego é esperada agora nos 4,8% este ano, 0,3 pontos percentuais acima das estimativas de junho passado.
"No geral, as condições financeiras continuam acomodatícias, em parte refletindo as medidas de apoio à economia e o fluxo de crédito para as empresas e famílias norte-americanas", frisa o relatório.
A Fed destaca também que o rumo da economia continua a depender da trajetória do vírus. "Os avanços nos programas de vacinação deverão continuar a reduzir os efeitos da crise de saúde pública sobre a economia, mas persistem riscos para o panorama económico", adverte.
Quanto à inflação, diz que "está elevada sobretudo devido a fatores transitórios", como tem salientado reiteradamente.
O FOMC voltou a dizer que procura alcançar um nível de máximo emprego e uma taxa de inflação de 2% no longo prazo. Como a inflação esteve persistentemente abaixo desta meta, o comité aceita uma inflação moderadamente acima de 2% durante algum tempo, de modo a que a inflação atinja a média dos 2%, explicou.
Esta declaração reflete a nova estratégia do banco central, em que permite que a inflação supere os 2% depois de períodos em que fique abaixo dessa meta. Essa mudança, recorde-se, foi anunciada por Powell em agosto do ano passado.
A Fed reviu as suas projeções para a inflação deste ano em alta de 0,8 pontos percentuais, para 4,2%. Mas antecipa uma desaceleração nos dois próximos anos.
Metade dos membros da Fed antecipa agora subida dos juros em 2022
Um outro foco dos mercados, relativamente a esta reunião da Fed, estava no "dot plot" – um mapa que mostra como cada representante do banco central estima as mexidas nos juros diretores.
E esse mapa mostra que metade dos membros da Reserva Federal perspetiva agora um aumento das taxas de juro já no próximo ano.
Nove dos 18 membros do FOMC esperam assim uma subida dos juros em 2020, quando nas previsões de junho apenas sete tinham essa previsão.
Todos os membros, exceto um, esperam pelo menos um aumento da taxa diretora até ao final de 2023 e, desses, 13 antecipam duas subidas ao longo de 2021.
Powell diz que retirada de estímulos não é sinónimo de subida dos juros
Jerome Powell, que falou a seguir ao anúncio das decisões de política monetária da Fed, reafirmou que o ‘tapering’ "não pretende ser um sinal imediato" de aumento dos juros diretores.
O presidente da Fed declarou assim que essa retirada dos estímulos não é sinónimo de ‘timing’ para a subida da taxa dos fundos federais.
Powell, que deverá manter-se nos comandos do banco central por mais um mandato, declarou ainda que será apropriado que o ‘tapering’ termine em torno de meados de 2022".
Entretanto, o líder da Reserva Federal disse também na conferência de imprensa que muitos membros da Fed estão convictos de que o emprego no país já alcançou os padrões do banco central para um "substancial progresso adicional".
Quando questionado sobre a infuência que os dados do mercado laboral de setembro poderão ter sobre futuras subidas dos juros, Powell respondeu que não está à procura de números específicos, mas sim de um "progresso acumulado".
"Para mim, não será preciso um relatório bombástico, espetacular e super robusto" para se subir os juros. "Será preciso haver um relatório do emprego razoavelmente bom para que sinta que esse teste foi superado", salientou.
"Muitos membros do comité consideram que o teste a um substancial progresso adicional no emprego já foi superado… Quanto a mim, acho que está quase superado", disse.
(notícia atualizada pela última vez às 20:58)