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Estudo apresentado em Sintra defende que BCE deve continuar a reduzir juros
Economista apresentou estudo concluindo que a inflação no pós covid se deveu sobretudo a choques do lado da procura, mas elogiou ação do BCE. E defende que as taxas de juro devem descer gradualmente.
O arranque do segundo dia do Fórum do Banco Central de Europeu (BCE), que decorre em Sintra, começou com um recado para os banqueiros centrais do euro: as taxas de juro devem continuar a descer gradualmente.
Nesta terça-feira, 2 de julho, na apresentação de um estudo sobre os motores da inflação no pós-pandemia, o economista Giorgio Primiceri, da Northwestern University, um dos autores, começou por concluir que a subida acentuada de preços a partir do final de 2021 deveu-se sobretudo a um choque do lado da procura e não da oferta.
"A inflação pós-covid foi conduzida, de forma inesperada, predominantemente por fortes forças do lado da procura, não só nos Estados Unidos, mas também na Zona Euro. O impacto inflacionário de choques da oferta foram menos pronunciados - ainda que tenham constrangido significativamente a atividade económica", concluiu Giorgio Primiceri, causando alguns sinais de discordância na audiência. Recorde-se que a linha mais comum na leitura das causas da inflação tem sido a oposta.
Depois, o economista usou um modelo contrafactual para testar as suas conclusões. Primeiro tentou perceber o que teria acontecido se o BCE tivesse aumentado as taxas de juro na mesma dimensão, mas mais cedo. "Em consequência, a inflação teria atingido um pico de 6% - 3 pontos menos - mas o PIB teria sido inferior", lê-se no estudo.
A seguir, tentou perceber qual seria o efeito de uma política monetária mais restritiva que tivesse mantido a inflação perto de 2% durante o período pós-pandemia. "Para isso, o BCE teria de ter suprimido o impacto de todos os choques - do lado da procura e da oferta", com um impacto negativo de 5 pontos do PIB da Zona Euro, refere o estudo.
Ou seja, já que a economia do euro acabou por não cair tanto e a inflação aproxima-se cada vez mais da meta de 2%, Georgio Primiceri conclui que "a conduta atual do BCE da política monetária acomodou as pressões inflacionistas" no pós-covid. Sem impactos significativos no PIB. Ou seja, conseguiu uma "aterragem suave".
A questão, agora, é saber qual deve ser a política para o futuro, sobretudo dado que a inflação está a chegar aos 2%. Também hoje o Eurostat divulgou a sua estimativa rápida para a inflação na Zona Euro, que desceu em junho para 2,5%.
O economista avançou para uma segunda parte do estudo: estimar a evolução da economia, da inflação e das taxas de juro nos próximos até 2026.
"Com a inflação controlada e um crescimento moderado do PIB, o nosso modelo também diz que as taxas de juro devem continuar a descer gradualmente. Espera um alívio continuado, depois do que o BCE já começou a fazer", afirmou o economista.
(Notícia atualizada às 10:37 com mais informação)