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BCE alerta: inflação e salários não estão a descolar

A inflação não descola e os salários crescem ao ritmo mais baixo da história do euro. Sinais preocupantes sobre o andamento da economia da Zona Euro que chegam numa análise do próprio BCE, que tem como missão aumentar os preços.

Reuters
05 de Maio de 2016 às 15:55
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A situação é preocupante: a inflação não descola de zero, os actores de mercado não acreditam que vá subir no médio prazo, e os salários também estão a crescer ao ritmo mais baixo da história da moeda única, analisa o Banco Central Europeu (BCE) no boletim económico mensal. Estes são resultados que justificam as medidas de estímulo monetário que o banco central está a implementar para puxar pelos preços, mas que também podem ser interpretados como sinais de que o programa de compra alargada de activos do BCE – agora a um ritmo de 80 mil milhões de euros por mês – não está a funcionar como o esperado.

"A inflação tem permanecido em níveis próximos de zero nos meses mais recentes" em parte puxada pela evolução dos preços da energia, mas mesmo descontando os bens energéticos e os bens alimentares, a inflação subjacente "continua a rondar os 1%", lê-se na publicação do banco central onde se acrescenta que "a maioria das medidas de inflação subjacente não evidencia qualquer tendência clara de subida", o que "sugere que a inflação subjacente não ganhou tracção de subida desde o Verão".

Mais perigoso para o banco central que a inflação baixa, é o facto dos agentes de mercado não anteciparem qualquer recuperação para o objectivo de 2% no médio prazo assumido pelo BCE. "As medidas de mercado de inflação de longo prazo estabilizaram em níveis baixos" lê-se no boletim, onde se vai mais longe: "depois de uma recuperação em Fevereiro, as expectativas de inflação para daqui a cinco anos "permanecem em níveis muito baixos (…) indicando que os actores de mercado consideram pouco provável que a inflação recupere em breve", avaliam os técnicos do BCE.

Aumentos salariais em mínimos históricos

A mesma análise sublinha que ao contrário dos indicadores de mercado (normalmente contratos financeiros sobre o valor esperado da inflação no futuro), os indicadores de expectativas de inflação baseados em inquéritos a especialistas têm registado valores mais estáveis e elevados. O último realizado pelo BCE em Abril aponta para inflação de 1,8% daqui a cinco anos.

Um dos problemas com estes dados é que as estimativas dos economistas para a inflação têm falhado, como aliás têm falhado as estimativas de aumentos salariais na Zona Euro – que são dos principais canais pelos quais se gera e sustém a inflação numa economia.

E este é outro dos desenvolvimentos preocupantes analisados no boletim económico: "não só os aumentos salariais têm sido baixos, como têm sido sistematicamente sobrestimados" nas previsões do BCE, reconhece o próprio banco central, que dá conta de subidas mínimas na Zona Euro: "No quarto trimestre de 2015, o aumento nas remunerações por empregado ficaram-se por 1,3% em termos homólogos, o que é um dos valores mais baixos registados na história da moeda única. O aumento nos salários negociados é mais robusto, mas também registou valores historicamente baixos em 2015". 

Os aumentos salariais abaixo do esperado são ainda mais surpreendentes porque ocorrem ao mesmo tempo que a criação de emprego tem surpreendido pela positiva.

O banco central encontra várias possíveis explicações para esta evolução: por um lado, a inflação baixa e preços de combustíveis mais baixos poderão estar a condicionar as negociações salariais; por outro, as reformas dos últimos anos a favor de maior flexibilidade no mercado de laboral poderão estar a traduzir-se em salários mais baixos num contexto de um mercado de trabalho ainda frágil e com muito sub-emprego; finalmente, os novos empregos criados estão concentrados em sectores de salários e produtividade baixas, como os serviços ou os transportes.

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