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Banco central turco sobe juros pela porta dos fundos

O presidente turco rejeita subir a taxa de juro, alegando que irá beneficiar apenas os mais ricos. Para contornar essa exigência, o banco central turco está a utilizar outra estratégia para subir indirectamente os juros.

Negócios jng@negocios.pt 16 de Agosto de 2018 às 14:28
Recep Erdogan rejeita subir a taxa de juro num momento em que a divisa turca afundou, a inflação é de 16% e a economia está sobreaquecida. Os economistas argumentam que não há volta a dar: o banco central tem de aumentar o "preço do dinheiro". E é isso que o Banco Central da Turquia está a fazer, mas pela porta dos fundos. 

Perante a crise da divisa turca, o banco central determinou que faria tudo o que fosse necessário para manter a estabilidade financeira. Contudo, com o reforço dos poderes de Erdogan, não deverá ter margem para subir os juros - uma estratégia rejeitada pelo presidente turco. As taxas de juro altas "são a mãe e o pai de todo o mal", disse, argumentando que beneficiam os mais ricos e penalizam os mais pobres. 

Assim, segundo a imprensa internacional, o Banco Central da Turquia tem utilizado outro esquema para aumentar a taxa de juro. Em causa está a suspensão dos leilões de lira, a divisa turca, a uma semana que têm actualmente um juro de 17,75%. Desta forma, os bancos ficaram obrigados a recorrer aos leilões nocturnos onde à taxa normal soma-se uma "multa" que agrava o juro para 19,25%. Ou seja, sem aumentar os juros de forma oficial, o banco central conseguiu subir o "preço do dinheiro", forçando uma redução da liquidez no mercado - diminuindo a oferta para a divisa subir - neste momento em que a lira está pressionada.

No entanto, esta subida "artificial" não parece ser suficiente para os investidores. Primeiro porque existem dúvidas sobre as decisões do Banco Central da Turquia, de tal forma que a própria chanceler alemã, Angela Merkel, já alertou para a necessidade de ser preservar a independência do banco central. Além disso, há quem duvide das reais intenções do banco central. 

"Isto é o clássico do Banco Central da Turquia. Eles ajustam as coisas à margem e esperam que funcione, mas não irá funcionar", disse o economista da Oxford Economics, Nafez Zouk, ao Financial Times. "A economia precisa de medidas drásticas neste momento", defende, referindo que "o banco central nunca irá realmente aumentar os juros, o que iria mostrar aos mercados que eles estão [a levar esta crise] a sério". 

Para o economista esta queda da lira é algo que "a maior parte das pessoas nunca tinha visto nas suas carreiras inteiras". "Numa situação como esta, é necessário que os juros estejam entre 5 a 10% acima da inflação", assinala, o que implicaria, neste caso, um aumento de 800 pontos base.

Lira recupera há três sessões consecutivas

Depois da tempestade, a bonança chegou na terça-feira com a divisa turca a inverter a sua tendência, depois de uma queda de quase 40% face ao dólar para mínimos nunca antes vistos. Com a promessa do Qatar de um investimento de 15 mil milhões de euros no sistema financeiro turco e o apoio da Alemanha, a lira continua a recuperar esta quinta-feira, dia 16 de Agosto, acumulando três sessões de ganhos.

Apesar desta recuperação, a lira continua abaixo dos níveis que se registavam anteriormente a sexta-feira, o dia em que esta crise se acentuou, depois dos EUA decidirem duplicar a taxa aduaneira do aço e alumínio turco como resposta à recusa da Turquia em libertar um pastor norte-americano. Na sessão de hoje a lira está a subir 1,93% para os 0,172 dólares, mas já chegou a somar quase 4%, aproximando-se dos níveis anteriores de 0,18 ou 0,19 dólares.
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