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Trump reconhece Jerusalém como a capital de Israel

O presidente dos Estados Unidos reconheceu formalmente Jerusalém como a capital de Israel. Donald Trump afirma que esta decisão assinala o "início de uma nova abordagem sobre o conflito entre Israel e os palestinianos". Comunidade internacional unida na condenação à decisão de Washington.

06 de Dezembro de 2017 às 18:14
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O presidente dos Estados Unidos anunciou esta quarta-feira, 6 de Dezembro, o reconhecimento formal da cidade sagrada de Jerusalém como a capital de Israel. Em cerca de 15 minutos, Donald Trump conseguiu reverter praticamente toda a política diplomática praticada pelos EUA em relação ao conflito israelo-palestiniano ao longo dos últimos 70 anos. 

"Decidi que é tempo de reconhecer oficialmente Jerusalém como a capital de Israel", anunciou Donald Trump num discurso feito a partir da Casa Branca. Optimista acerca do anúncio, o presidente americano garantiu que este assinala o "início de uma nova abordagem sobre o conflito entre Israel e os palestinianos". 

Trump sustentou que "não podemos resolver os problemas" na região "repetindo os erros do passado", o que o levou a não repetir as decisões dos seus antecessores (Clinton, W.Bush e Obama), que validando sucessivas ordens de adiamento do projecto de lei aprovado em 1995, com "abrangente maioria bipartidária", como hoje Trump fez questão de sinalizar, através do qual Washington reconhecia Jerusalém como capital de Israel. 


Como tal, o presidente americano puxou dos galões e, notando estar a cumprir uma promessa por si feita durante a campanha eleitoral para as presidenciais de há um ano, lembrou que os anteriores presidentes falharam o cumprimento de tal compromisso.

"Ao longo de todos estes anos, os presidentes dos EUA rejeitaram reconhecer oficialmente Jerusalém como a capital de Israel (...) Recusámos reconhecer qualquer capital de Israel. Mas hoje finalmente reconhecemos o óbvio. Que Jerusalém é a capital de Israel", disse. 

De seguida, e apesar de ao alterar o estatuto atribuído a Jerusalém poder estar a abrir a porta a um novo período de violência na região, Donald Trump frisou estar "comprometido com um acordo de paz que possa ser aceitável para ambas as partes", leia-se para Israel e para a Palestina. Trump promete fazer "tudo" para alcançar a paz.

No entender do governante norte-americano, esta decisão é "no melhor interesse" dos Estados Unidos e favorável à prossecução da paz entre israelitas e palestinianos. Defendendo que "Israel é uma nação soberana", pelo que tem o "direito de determinar a sua capital", Trump mostrou-se confiante em que a cidade santa seja um local de convivência pacífica entre as três religiões monoteístas (cristianismo, judaísmo e islão) que ali têm santuários. 

Já perto do final da intervenção, Trump acrescentou que daria ordem imediata para que o Departamento de Estado americano inicie a preparação para a mudança da embaixada americana de Telavive para Jerusalém. E assegurou que "a nova embaixada, quando estiver concluída, será um magnífico contributo para a paz".

O primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu prontificou-se a agradecer a "coragem" da "justa decisão" de Trump, que disse ser um "importante passo" para a paz. Netanyahu apelou aos restantes países das Nações Unidas para que sigam os passos dos EUA e reconheçam Jerusalém como a capital de Israel. Até hoje, a ONU não reconhece Jerusalém como a capital e já condenou em diversas resoluções a política israelita de construção de colonatos. 




Trump favorável à solução dois Estados


Sublinhando o "empenho" dos EUA numa solução pacífica, Trump revelou ser a favor da "solução dois Estados", que consiste na constituição da Palestina como país soberano. Note-se que a Palestina pretende criar um Estado com capital na zona Leste de Jerusalém, parte onde as autoridades israelitas têm implantado colonatos com o objectivo de "judaizar" a zona oriental da cidade. O ex-presidente Barack Obama condenou a política de colonatos seguida pelo primeiro-ministro Netanyahu.

Mas até que seja possível chegar a esta solução, sempre rejeitada por Israel, Trump apelou "a todos a manutenção do status quo" na cidade. O presidente anunciou ainda que o seu vice, Mike Pence, irá nos próximos dias até ao Médio Oriente numa missão para "reafirmar o nosso compromisso" em, com o apoio dos aliados americanos na região, "derrotar o radicalismo que ameaça a esperança e os sonhos das gerações futuras". Nesse sentido, apelou aos líderes políticos e religiosos da região para que unam esforços "na nobre tarefa da paz duradoura".

Enquanto Netanyahu reagiu de imediato à pré-anunciada decisão de Trump, falando num "dia histórico", a comunidade internacional coincidiu na condenação da acção unilateral americana. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou que qualquer solução para o conflito israelo-palestiniano terá de decorrer de negociações entre as duas partes. E insistiu na constituição de dois Estados independentes.

 


O presidente francês Emmanuel Macron disse que França "não aprova" esta decisão, e o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, garantiu que esta acção não tem efeitos práticos. Outro aliado americano, o Egipto, recusa aceitar a decisão dos EUA.

Por cá, o PCP condenou "veementemente" a decisão, "que representa um apoio explícito por parte dos EUA à política sionista de Israel e uma agressão frontal ao martirizado povo palestiniano e provocação aos povos árabes, com perigosas e imprevisíveis consequências".

"O PCP considera esta decisão (…) tão mais grave quando é tomada num momento em que se tornam cada vez mais claros os planos para uma nova escalada militar na região, que encerra o perigo duma enorme confrontação, com consequências para além do Médio Oriente", sublinhou o partido em comunicado.

 

Já o movimento islamista Hamas fala em "agressão flagrante" dos EUA contra a Palestina e o presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, condena e rejeita aceitar a decisão de Trump. Abbas defende que com esta acção Washington está a abdicar do papel de intermediário no processo de paz entre Israel e a Palestina. Na Faixa de Gaza irromperam protestos com imagens de Trump a serem queimadas.

Com base na convicção de que só uma solução negociada entre Israel e a Palestina pode assegurar a paz na região, os diversos países mantêm as respectivas embaixadas em Telavive, recusando reconhecer Jerusalém como a capital do Estado israelita. Os acordos de paz (1993) assinados entre palestinianos e israelitas estabeleceram que a definição do estatuto de Jerusalém só poderia ser determinada numa fase final de conversações para a paz.

 

Na guerra de 1948, Jerusalém foi dividida em duas zonas, uma sob controlo da Jordânia e outra de Israel. Porém, depois da Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel tomou o controlo sobre a parte Leste da cidade, anexando território e alargando limites, embora a comunidade internacional sempre tenha recusado reconhecer tais acções. Apesar de ser Telavive a capital reconhecida de Israel, o centro político do país funciona em Jerusalém.

 

A decisão de Trump é vista como perigosa na medida em que pode fazer recrudescer a sempre latente tensão entre palestinianos e israelitas. A visita, em 2000, do então líder da oposição israelita, Ariel Sharon, ao Monte do Templo, em Jerusalém, debaixo de grande aparato securitário, deu origem à Segunda Intifada, que culminou com a morte de quase cinco mil pessoas. 

 

(Notícia actualizada às 19:55)
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