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Trump reconhece Jerusalém como a capital de Israel
O presidente dos Estados Unidos reconheceu formalmente Jerusalém como a capital de Israel. Donald Trump afirma que esta decisão assinala o "início de uma nova abordagem sobre o conflito entre Israel e os palestinianos". Comunidade internacional unida na condenação à decisão de Washington.
"Decidi que é tempo de reconhecer oficialmente Jerusalém como a capital de Israel", anunciou Donald Trump num discurso feito a partir da Casa Branca. Optimista acerca do anúncio, o presidente americano garantiu que este assinala o "início de uma nova abordagem sobre o conflito entre Israel e os palestinianos".
.@POTUS: @VP Pence viajará para a região nos próximos dias para reafirmar nosso compromisso de trabalhar com parceiros em todo o Oriente Médio para vencer o radicalismo que ameaça as esperanças e os sonhos das futuras gerações: pic.twitter.com/aJSuXSnMrv
— USA em Português (@USAemPortugues) 6 de dezembro de 2017
Como tal, o presidente americano puxou dos galões e, notando estar a cumprir uma promessa por si feita durante a campanha eleitoral para as presidenciais de há um ano, lembrou que os anteriores presidentes falharam o cumprimento de tal compromisso.
"Ao longo de todos estes anos, os presidentes dos EUA rejeitaram reconhecer oficialmente Jerusalém como a capital de Israel (...) Recusámos reconhecer qualquer capital de Israel. Mas hoje finalmente reconhecemos o óbvio. Que Jerusalém é a capital de Israel", disse.
De seguida, e apesar de ao alterar o estatuto atribuído a Jerusalém poder estar a abrir a porta a um novo período de violência na região, Donald Trump frisou estar "comprometido com um acordo de paz que possa ser aceitável para ambas as partes", leia-se para Israel e para a Palestina. Trump promete fazer "tudo" para alcançar a paz.
No entender do governante norte-americano, esta decisão é "no melhor interesse" dos Estados Unidos e favorável à prossecução da paz entre israelitas e palestinianos. Defendendo que "Israel é uma nação soberana", pelo que tem o "direito de determinar a sua capital", Trump mostrou-se confiante em que a cidade santa seja um local de convivência pacífica entre as três religiões monoteístas (cristianismo, judaísmo e islão) que ali têm santuários.
Já perto do final da intervenção, Trump acrescentou que daria ordem imediata para que o Departamento de Estado americano inicie a preparação para a mudança da embaixada americana de Telavive para Jerusalém. E assegurou que "a nova embaixada, quando estiver concluída, será um magnífico contributo para a paz".
O primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu prontificou-se a agradecer a "coragem" da "justa decisão" de Trump, que disse ser um "importante passo" para a paz. Netanyahu apelou aos restantes países das Nações Unidas para que sigam os passos dos EUA e reconheçam Jerusalém como a capital de Israel. Até hoje, a ONU não reconhece Jerusalém como a capital e já condenou em diversas resoluções a política israelita de construção de colonatos.
Trump favorável à solução dois Estados
Sublinhando o "empenho" dos EUA numa solução pacífica, Trump revelou ser a favor da "solução dois Estados", que consiste na constituição da Palestina como país soberano. Note-se que a Palestina pretende criar um Estado com capital na zona Leste de Jerusalém, parte onde as autoridades israelitas têm implantado colonatos com o objectivo de "judaizar" a zona oriental da cidade. O ex-presidente Barack Obama condenou a política de colonatos seguida pelo primeiro-ministro Netanyahu.
Mas até que seja possível chegar a esta solução, sempre rejeitada por Israel, Trump apelou "a todos a manutenção do status quo" na cidade. O presidente anunciou ainda que o seu vice, Mike Pence, irá nos próximos dias até ao Médio Oriente numa missão para "reafirmar o nosso compromisso" em, com o apoio dos aliados americanos na região, "derrotar o radicalismo que ameaça a esperança e os sonhos das gerações futuras". Nesse sentido, apelou aos líderes políticos e religiosos da região para que unam esforços "na nobre tarefa da paz duradoura".
Enquanto Netanyahu reagiu de imediato à pré-anunciada decisão de Trump, falando num "dia histórico", a comunidade internacional coincidiu na condenação da acção unilateral americana. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou que qualquer solução para o conflito israelo-palestiniano terá de decorrer de negociações entre as duas partes. E insistiu na constituição de dois Estados independentes.
UN SG Antonio Guterres says #Jerusalem a final status issue, must be resolved through negotiations btw the 2 parties on basis of SC/GA resolutions. Adds, in moment of great anxiety, I want to make it clear - no alternative to 2 state solution.
— Nada Tawfik (@bbcnadatawfik) 6 de dezembro de 2017
O presidente francês Emmanuel Macron disse que França "não aprova" esta decisão, e o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, garantiu que esta acção não tem efeitos práticos. Outro aliado americano, o Egipto, recusa aceitar a decisão dos EUA.
Por cá, o PCP condenou "veementemente" a decisão, "que representa um apoio explícito por parte dos EUA à política sionista de Israel e uma agressão frontal ao martirizado povo palestiniano e provocação aos povos árabes, com perigosas e imprevisíveis consequências".
"O PCP considera esta decisão (…) tão mais grave quando é tomada num momento em que se tornam cada vez mais claros os planos para uma nova escalada militar na região, que encerra o perigo duma enorme confrontação, com consequências para além do Médio Oriente", sublinhou o partido em comunicado.
Já o movimento islamista Hamas fala em "agressão flagrante" dos EUA contra a Palestina e o presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, condena e rejeita aceitar a decisão de Trump. Abbas defende que com esta acção Washington está a abdicar do papel de intermediário no processo de paz entre Israel e a Palestina. Na Faixa de Gaza irromperam protestos com imagens de Trump a serem queimadas.
Com base na convicção de que só uma solução negociada entre Israel e a Palestina pode assegurar a paz na região, os diversos países mantêm as respectivas embaixadas em Telavive, recusando reconhecer Jerusalém como a capital do Estado israelita. Os acordos de paz (1993) assinados entre palestinianos e israelitas estabeleceram que a definição do estatuto de Jerusalém só poderia ser determinada numa fase final de conversações para a paz.
Na guerra de 1948, Jerusalém foi dividida em duas zonas, uma sob controlo da Jordânia e outra de Israel. Porém, depois da Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel tomou o controlo sobre a parte Leste da cidade, anexando território e alargando limites, embora a comunidade internacional sempre tenha recusado reconhecer tais acções. Apesar de ser Telavive a capital reconhecida de Israel, o centro político do país funciona em Jerusalém.
A decisão de Trump é vista como perigosa na medida em que pode fazer recrudescer a sempre latente tensão entre palestinianos e israelitas. A visita, em 2000, do então líder da oposição israelita, Ariel Sharon, ao Monte do Templo, em Jerusalém, debaixo de grande aparato securitário, deu origem à Segunda Intifada, que culminou com a morte de quase cinco mil pessoas.