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Estados Unidos e UE propõem cortar orçamento de Guterres
À entrada para o segundo ano à frente das Nações Unidas, afigura-se ainda mais difícil o trabalho de António Guterres no "cargo mais difícil do mundo". Estados Unidos e a União Europeia querem reduzir drasticamente o orçamento da ONU.
Os Estados Unidos querem reduzir o orçamento central das Nações Unidas para o biénio 2018-2019 em 250 milhões de dólares, uma intenção acompanhada pela União Europeia que propõe uma redução de 170 milhões de dólares.
Em declarações à agência AFP, dois diplomatas revelaram que Washington propôs que o orçamento disponível da ONU para os próximos dois anos seja cortado em 250 milhões de dólares, um corte a somar à já proposta redução orçamental em 200 milhões de dólares feita pelo secretário-geral da instituição multilateral, António Guterres.
O português propôs este ano estabelecer um tecto máximo para o orçamento das Nações Unidas nos 5,4 mil milhões dólares, que pressupõe a referida redução orçamental de 200 milhões de dólares comparativamente com a dotação financeira executada no biénio 2016-2017.
Segundo o site especializado em assuntos europeus EuroActive, a UE propõe uma redução adicional de 170 milhões de dólares. As propostas foram apresentadas junto da Assembleia Geral da ONU que está a discutir a dotação orçamental para 2018-19, uma decisão que terá de ser tomada até ao final deste ano.
Fontes oficiais citadas pela AFP explicam que será difícil concretizar a intenção americana, que representa um corte de 5% ao orçamento da ONU. As mesmas fontes notam ainda que esta é uma discussão habitual, já que os Estados Unidos e a UE são os principais contribuintes financeiros das Nações Unidas. Os EUA asseguram cerca de 20% do orçamento da organização liderada por Guterres, sendo maior contribuinte em termos financeiros.
No entanto, desta feita os cortes propostos não só têm maior margem para serem aprovados como as consequências podem ser ainda mais gravosas, isto tendo em conta o reforço da instabilidade no Médio Oriente.
Em primeiro lugar porque desde a campanha eleitoral e já depois de garantir a chefia da Casa Branca, o presidente americano, Donald Trump, tem criticado a ineficácia e despesismo das Nações Unidas, ameaçando em diversas ocasiões reduzir a contribuição norte-americana para a instituição.
Por outro lado, como referiram os diplomatas citados pela AFP, os cortes propostos poderão implicar a diminuição dos orçamentos atribuídos às missões da ONU em curso na Líbia e no Afeganistão, bem como o gabinete para os direitos da população palestiniana.
Em causa está o orçamento operacional da ONU, que é distinto ao orçamento relativo às operações de manutenção de paz das Nações Unidas que, já este ano, foi reduzido em 600 milhões de dólares na sequência da pressão exercida por Donald Trump.
Guterres e Trump, uma relação difícil
Em Setembro, marcando pela primeira vez presença na Assembleia Geral das Nações Unidas, Trump criticou o facto de a instituição não ter conseguido cumprir o seu potencial, acrescentando que os "resultados" alcançados não justificam o investimento feito por Washington. Porém, Trump deixou elogios ao processo de reforma proposto por Guterres.
Em causa está um plano de reestruturação apresentado pelo actual secretário-geral através do qual se pretende reduzir o nível excessivamente burocrático da ONU e melhorar a eficiência nas decisões e missões.
Esta terça-feira, no dia que assinalou um ano após o juramento feito por Guterres, que assumiu a liderança efectiva da ONU em 1 de Janeiro deste ano, o português marcou presença na cimeira do Clima realizada em França sob proposta do presidente gaulês Emmanuel Macron.
Guterres deixou críticas implícitas à decisão de Trump abandonar o Acordo de Paris sobre Alterações Climáticas, notando que o fim da idade da pedra não foi ditado pelo fim da pedra, pelo que também o fim da era combustíveis fósseis não tem de ser ditada pelo esgotamento da matéria-prima.
Noutras ocasiões, Guterres já mostrou uma clara discordância relativamente à oposição de Trump ao multilateralismo, considerando que o diálogo e a cooperação internacional beneficiam toda a comunidade internacional.
Mais recentemente, numa entrevista concedida ao programa de geopolítica GPS, na CNN, Guterres lamentou a decisão do presidente americano de ordenar a transferência da embaixada americana em Israel para Jerusalém, reconhecendo "de jure" a cidade santa como a capital israelita.
O líder da ONU disse que tal decisão pode "comprometer" o diálogo entre as partes e reiterou a sua defesa a uma solução de dois Estados mediante a criação de um Estado na Palestina.