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Noite de terror em Paris faz mais de 120 mortos e centenas de feridos
A imprensa francesa e os internautas deram conta, ao longo de algumas horas, de tiros e explosões em diferentes bairros de Paris. Perto da meia-noite a polícia conseguiu pôr termo ao sequestro na sala de concertos do Bataclan. O balanço oficial aponta para 129 mortos e 352 feridos, estando 99 em estado grave.
Paris viveu uma noite de terror. Alertas no Twitter e Facebook e muitas informações a serem relatadas aos poucos pelos órgãos de comunicação social dão conta de um tiroteio no Bataclan, uma sala de espectáculos no 11º arrondissement (bairro) de Paris, e em mais seis zonas distintas na capital francesa.
Segundo a i-Télé, o presidente francês, François Hollande, que assistia no Estádio de França ao jogo entre França e a Alemanha, foi imediatamente retirado do local. Dois quiosques do estádio terão sido atingidos por uma explosão e os acessos ao recinto foram encerrados. Ninguém entrou ou saiu durante mais de uma hora. Uma multidão acorreu ao relvado do campo, onde esteve concentrada. Numa filmagem, é possível ouvir as explosões enquanto decorria o jogo.
O balanço, "provisório e em evolução", foi avançado pelo procurador de Paris, François Molins, que acrescentou que "sete terroristas foram mortos durante a sua ação criminosa" e que um deles já foi "formalmente identificado".
As primeiras conclusões da investigação sugerem que "pelo menos três equipas" distintas de terroristas perpetraram os atentados.
Oito terroristas, todos com coletes de explosivos, atacaram seis locais, entre eles uma sala de espectáculos e o estádio nacional, onde decorria um jogo de futebol entre as selecções de França e da Alemanha. Morreram oito atacantes, sete dos quais suicidas, de acordo com as mesmas fontes.
A França decretou o estado de emergência e restabeleceu o controlo de fronteiras na sequência daquilo que o Presidente François Hollande classificou como "ataques terroristas sem precedentes no país".
Um internauta dizia ter ouvido mais de 100 tiros quando tudo começou, conta o Libération. Em declarações ao jornal, uma outra testemunha afirmava que dois homens abriram fogo na rue de Charonne, na esplanada de um café.
Ouviam-se tiros de kalashnikov no 10º arrondissement de Paris e uma outra testemunha partilhava ao mesmo tempo, no Twitter, a foto da vitrina do restaurante Le Petit Cambodge atingida por projécteis.
O Libération referiu também que se ouviu um forte tiroteio perto do Bataclan, uma sala de espectáculos no 11º arrondissement de Paris. A agência France Presse avançou entretanto que foram feitos reféns no Bataclan e um jornalista do Le Monde apontou, citando um polícia, que no interior havia pelo menos um homem com explosivos.
Já um outro jornalista, da Europe 1, que estava no interior do Bataclan - onde decorria um concerto na presença de mais de 1.500 pessoas - quando começou o tiroteio, contou que vários indivíduos armados entraram e começaram a abrir fogo com armas automáticas. Julien Pearce sublinhou que o ataque durou 10 a 15 minutos e que "foi extremamente violento". "Os indivíduos tiveram tempo de recarregar as armas pelo menos três vezes. Não estavam mascarados e eram muito jovens", contou.
Junto ao McDonald’s de Faubourg du Temple, no 3º arrondissement, via-se um Clio crivado de balas e uma moto no chão.
"Pensámos que era fogo de artifício", conta ao Libération um funcionário do restaurante Toro Borracho, na rue de Charonne. "Estamos confinados ao interior do restaurante à espera que a polícia nos autorize a sair", acrescentou.
Um grupo de estudantes estrangeiros que estava no bar Le Carillon, perto do restaurante Le Petit Cambodge, contou ainda que ouviu uma pessoa gritar "Allah Akbar" (Alá é grande) antes de abrir fogo.
MORE: Live feed from scene of #ParisAttacks https://t.co/h5irPM03C6 pic.twitter.com/bKPuHozDms
— Sputnik (@SputnikInt) 13 novembro 2015
Às 22:20 de Lisboa (menos uma hora do que em Paris) a Europe 1 falava entretanto sobre um tiroteio a decorrer em Halles, no centro de Paris.
Solidariedade em três tempos
On habite entre le Bataclan et la rue de Charonne, s'il y en a qui veulent se mettre au chaud et boire un thé.
— Régolithe (@regolithe) 13 novembro 2015
De todo o mundo chegaram também a França vozes de solidariedade e condenação destes ataques. De Portugal, Passos Coelho manifestou as suas condolências, dizendo repudiar todas as formas de terrorismo, e António Costa enviou também uma mensagem de solidariedade a Hollande.
A CNN, por seu lado, reportou que a Torre da Liberdade ("Freedom Tower"), situada no local do novo World Trade Center, em Nova Iorque, ficou iluminada com as cores da bandeira francesa.
Gabinete de crise
Entretanto, o presidente François Hollande reuniu de imediato um gabinete de crise e as forças anti-terrorismo foram chamadas a chefiar as operações na rua.
O Libération salientava por essa altura que tinham sido enviados 200 soldados Sentinela para os 10º e 11º arrondissement para reforçar a segurança. Mais tarde, esse número foi aumentado para 400. Do exército foram também destacados 1.500 soldados.
Depois dos atentados de 7, 8 e 9 de Janeiro, que começaram com o ataque ao semanário satírico Charlie Hebdo, o exército francês criou a Operação Sentinela, com cerca de 10 mil homens, para fazer face a ameaças terroristas no país.
Perto das 23:00 (meia-noite em Paris), o presidente francês fez uma declaração ao país dizendo ter decidido decretar o estado de emergência nacional e o encerramento das fronteiras em todo o território.
Às 23:50 a i-Télé deixou de transmitir, a pedido das forças de segurança, as imagens do assalto da polícia ao Bataclan na tentativa de libertar os reféns. A imprensa francesa diz que se ouvem tiros de armas automáticas e explosões.
Era já meia-noite em Lisboa quando as televisões francesas começaram a noticiar que o assalto policial ao Bataclan tinha terminado, pondo assim fim ao sequestro e tendo sido mortos três terroristas. Passados 20 minutos o presidente francês e vários ministros deslocaram-se ao local.
"Eagles of Death Metal" era o nome da banda que actuava na sexta-feira à noite no Bataclan, por altura dos ataques, não se sabendo ainda o que aconteceu aos membros do grupo.
Segundo o que foi dito por várias testemunhas à AFP e ao Libération, pelo menos um dos terroristas no Bataclan terá invocado a intervenção francesa na Síria quando abriu fogo, aleatoriamente, sobre os espectadores.
Nova Iorque em alerta e incêndio em Calais
Enquanto isso, do outro lado do Atlântico, a cidade de Nova Iorque ficou também em alerta máximo. As autoridades norte-americanas têm estado em contacto com os agentes anti-terroristas franceses e, segundo a Lusa, foram deslocados agentes policiais para bairros de Nova Iorque conhecidos por serem enclaves franceses.
Quando as coisas pareciam querer "acalmar" em França, deflagrou um incêndio já depois da meia-noite (01:00 em Paris) na chamada "selva" de Calais, sem que se saiba ainda se poderá ter ligação aos atentados desta noite. O colectivo "Habitantes de Calais enraivecidos", que milita contra os migrantes naquela zona, colocou um vídeo do incêndio na sua conta de Facebook.
Diga ao Facebook se está em segurança
A rede social Facebook reagiu rapidamente aos acontecimentos desta noite em Paris e já accionou um controlo de segurança. Através deste endereço, os parisienses que estão em segurança podem indicá-lo, deixando assim aliviadas famílias e amigos.
Esta nova ferramenta do Facebook foi lançada há algumas semanas, depois do sismo no Afeganistão e no Paquistão, sendo agora usada pela primeira vez em França. A rede social, pela 01:00 da manhã em Paris, fez cair nos telemóveis dos parisienses o pedido de notificação deste "safety check", perguntando-lhes se estavam nalguma zona afectada pelos ataques e se estavam em segurança.
O Ministério francês do Interior também disponibilizou uma página que está a funcionar como meio de informação para quem não tem notícias de algum familiar ou para quem queira entrar em contacto com os investigadores.
Hollande no Bataclan: "Combate aos terroristas será impiedoso"
Perto das 02:00 em Paris (01:00 em Lisboa), o presidente francês falou novamente ao país, desta vez no Bataclan - onde se fez acompanhar por dois ministros e pelo chefe do Governo, Manuel Valls -, tendo dito que "o combate aos terroristas será impiedoso".
Mais ou menos à mesma hora, o Eliseu publicava um comunicado a oficializar o estado de emergência nacional decretado e anunciado duas horas antes por Hollande, a par com o encerramento das fronteiras. A medida "entra imediatamente em vigor, em todo o território metropolitano e na Córsega", refere o documento.
Segundo o Procurador de Paris, "foram neutralizados cinco terroristas" nas operações desta noite.
Às 02:24 em Paris, a câmara municipal da cidade anunciava que "a partir de amanhã, todas as instalações municipais estarão encerradas: escolas, museus, bibliotecas, ginásios, piscinas, mercados alimentares".
Imprensa internacional dedica as primeiras páginas a Paris
À medida que começavam a ser divulgadas as capas da imprensa internacional, muitos órgãos mostravam ter decidido dedicar toda a primeira página a Paris, como foi o caso dos jornais britânicos The Guardian, The Telegraph e The Sun.
Em França, como não podia deixar de ser, as manchetes foram também todas direccionadas para os ataques.
(notícia actualizada pela última vez às 10:45 de sábado)