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Recados a Trump e protestos marcam arranque da cimeira do G20
Com os Estados Unidos na mira, o presidente chinês lamenta o facto de "importantes países desenvolvidos terem recuado significativamente nas posições sobre comércio, alterações climáticas". O início do G20 em Hamburgo foi marcado por protestos e confrontos com a polícia.
Está longe de ser pacífico o ambiente em Hamburgo, cidade que acolhe esta sexta-feira, 7 de Julho, e no sábado a cimeira anual do G20. Trata-se do primeiro encontro das maiores potências mundiais em que os Estados Unidos participam enquanto desafiadores da ordem liberal que a "nação indispensável" ajudou a construir.
A confirmar a tensão em torno da primeira cimeira do G20 que conta com a participação dos presidentes dos EUA e da França, Donald Trump e Emmanuel Macron, respectivamente, estão os protestos que levaram a polícia alemã a recorrer a canhões de água e gás pimenta para dispersar os manifestantes, isto após confrontos terem provocado ferimentos a 74 agentes das forças de segurança.
Apesar de ser habitual este tipo de protestos antes de cimeiras multilaterais das principais potências económicas, desta feita é maior o descontentamento dos activistas, em especial devido ao negacionismo de Trump relativamente às alterações climáticas.
Beängstigendes Video aus einem Linienbus in #Hamburg (Elbchaussee). #HVV #G20 #G20ham17 #G20ham #g20hamburg #g20hh https://t.co/bWs1L8Z9Sv
— NahverkehrHAMBURG (@NahverkehrHH) 7 de julho de 2017
Além do clima será também o comércio livre a marcar a agenda de uma cimeira que tem como anfitriã a chanceler alemã, Angela Merkel, que se tem afirmado como a "líder do mundo livre". No início dos trabalhos, Merkel sinalizou a consciência de todos os presentes acerca "dos grandes desafios globais" e avisou que "todos sabemos que estamos a correr contra o tempo".
Antes, já o presidente chinês, Xi Jinping, tinha demonstrado, em declarações feitas aos jornalistas, preocupação com o facto de "importantes países desenvolvidos terem recuado significativamente nas posições sobre comércio, alterações climáticas e outros temas". Xi Jinping referia-se em concreto aos EUA e à desconfiança repetidamente demonstrada por Trump relativamente aos benefícios do multilateralismo.
Desconfiança que levou o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, a avisar Trump que a União Europeia retaliará se os Estados Unidos impuserem bloqueios às importações de matérias-primas, designadamente de aço.
Trump e Putin cara-a-cara pela primeira vez
Depois do aperto de mão, Trump e Vladimir Putin, presidente da Rússia, já estão reunidos à margem da cimeira no primeiro encontro entre os dois líderes,que se segue a diversas conversas telefónicas que ambos admitem "não ser a mesma coisa". "É uma honra estar consigo", atirou o presidente americano, recebendo do seu congénere a garantia de que "estou encantado por conhecê-lo pessoalmente".
A aguardada reunião entre Trump e Putin acontece depois de ontem, na Polónia, o presidente americano ter declarado ser chegada a hora de a Rússia "se juntar à comunidade de nações responsáveis na nossa luta contra os inimigos comuns e pela defesa da civilização".
Durante uma visita à Polónia, Donald Trump enunciou (pela primeira vez) o apoio ao artigo 5.º da NATO (que estabelece uma cláusula de salvaguarda mútua entre os países-membros da Aliança Atlântica). Trump avisou mesmo Moscovo para parar de "desestabilizar" a Ucrânia, contudo deixou sinais contraditórios em relação à alegada interferência do Kremlin nas presidenciais americanas do ano passado, garantindo que ninguém pode garantir quem fez o quê.
Sendo difícil antever os resultados dos dois dias da cimeira de Hamburgo, certo é que Trump é o denominador comum dos vários pontos de fricção que marcam a agenda do G20. A confirmar isso mesmo, depois de o líder americano se ter encontrado – também pela primeira vez – com o presidente do México, Peña Nieto, Trump afiançou aos jornalistas que "absolutamente" continua a querer que o governo mexicano pague o muro na fronteira entre os dois países.
Apesar de a agenda definida por Merkel incidir na problemática do clima e no comércio livre agora ameaçado pelo proteccionismo advogado por Trump, é evidente o risco das questões laterais – que envolvem a indefinição provocada pelas posições da Casa Branca – poderem fazer divergir as discussões dos temas identificados pela chanceler germânica. Depois de travar o acordo comercial com a UE, de retirar os EUA do NAFTA e do Acordo de Paris sobre o Clima, é difícil imaginar que Trump não impeça a concretização do "compromisso" global pedido por Merkel.