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Os sapatos que crescem

Cada modelo pode aumentar até cinco números em relação ao tamanho original e duram cinco anos. Foram criados pela Because International e ajudam milhões de crianças de todo o mundo que não têm sapatos ou cujo número não é o adequado.

06 de Outubro de 2015 às 02:27
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O sapato que cresce. É este o seu nome. Simples, diz tudo. A ideia veio de Kenton Lee, fundador e director executivo da Organização Não Governamental (ONG) Because International.

 

"Mais de 300 milhões de crianças em todo o mundo não tem sapatos e muitos mais calçam sapatos que não são o seu número. Isto não só acarreta problemas de saúde (…) como também cria um estigma social", conta Lee num testemunho publicado no El País.

 

E foi um desses casos que tocou especialmente Kenton Lee e que o levou à criação do "Shoe That Grows".

 

"Uma das coisas que mais me chocaram numa das minhas visitas de campo a uma das zonas mais pobres da Guatemala, na fronteira com Chiapas, foi a história de Widen. Filho de mãe viúva, faz parte de um dos programas de desenvolvimento de longo prazo das comunidades mais pobres da ONG World Vision. Tínhamos orçamento extra para as famílias mais necessitadas e perguntámos à ONG quais eram as prioridades. Responderam de imediato, e em uníssono, que precisavam de uns sapatos para Widen. A segunda prioridade eram galinhas poedeiras".

 

Mas porquê uns sapatos para aquele rapaz? Eles responderam. Widen era um dos melhores alunos da escola, mas passava semanas sem aparecer. Isto porque os seus sapatos tinham ficado demasiado pequenos e ele não conseguia andar, não se atrevendo a ir descalço para as aulas. A sua mãe queria um futuro melhor para ele e isso passava por prosseguir os estudos.

 

Lee teve uma experiência semelhante num orfanato no Quénia onde prestou voluntariado. Uma menina com um reluzente vestido branco, conta no El País, tinha uns sapatos tão abaixo do seu número que a parte da frente tinha sido cortada. Os dedos ficavam de fora.

 

Foi a pensar nestas necessidades que a Because International criou e patenteou "o sapato que cresce". Não foi fácil concretizar a ideia, relembra. Cortou e voltou a unir 20 pares de Crocs. Agarrou então naquele semi-protótipo e levou-o à empresa norte-americana Proof of Concept, que é especialista na concepção e experimentação de calçado. Depois de analisar mais de 70 ideias e testar 100 protótipos em quatro escolas quenianas, durante um ano, a empresa chegou finalmente aos sapatos que Lee tanto desejava.

 

Foram criados dois tamanhos-tipo: o pequeno, que se adequa a crianças com idades compreendidas entre os 5 e os 9 anos, e o grande, para o segmento etário dos 10 aos 15 anos.

 

O modelo de negócio e a estrutura de preços (cada um custa 15 dólares, mas é possível doar qualquer quantia através do Paypal) baseiam-se em doações de terceiros. No website da Because International explicam tudo e respondem a todas as dúvidas. O objectivo desta ONG é substituir as doações de calçado que as ONG fazem actualmente a orfanatos e escolas, por este modelo. É que estes sapatos não só permitem aumentar até cinco números o seu tamanho original, mas são também bastante duradouros – condição essencial para se poder aproveitar o facto de "crescerem".

 

Até ao momento, estes sapatos chegaram já a mais de 8.000 crianças de 20 países. E a Because International, enquanto mantém esta ideia a andar, já começou a trabalhar noutro projecto: redes mosquiteiras que possam ser usadas em qualquer circunstância… mesmo quando não há uma cama ou não se dorme debaixo de um tecto.

 

"Muitas pessoas de todo o mundo dormem sob redes mosquiteiras para se protegerem dos mosquitos transmissores de malária. Uma rede mosquiteira tradicional prende-se no tecto e depois desce e rodeia a cama. Mas o que faz uma criança que não dorme debaixo de um tecto? Ou que não dorme sequer numa cama? A rede mosquiteira tradicional não lhe servirá de muito. Queremos criar uma que as crianças possam usar, independentemente de onde durmam – nas ruas, no sofá, no chão, em qualquer lugar. (…) Identificámos a ideia e estamos a expandi-la numa boa direcção", conta a organização no seu website, acrescentando estar já em fase de concepção do protótipo.

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