Em prisão domiciliária, alvo de um golpe de Estado, deposto, substituído por um general do exército. No final de setembro, a internet borbulhou com rumores sobre o paradeiro de Xi Jinping, que deixou de ser visto em público por alguns dias.
Estávamos a menos de um mês de um dos grandes momentos políticos do país, o 20.º Congresso do Partido Comunista da China (PCC), após o qual Xi será reconduzido para um terceiro mandato - algo inédito na China moderna.
"Penso que a maior lição dos rumores do golpe é que há muita esperança fora da China que a liderança mude. Por isso é que algumas pessoas aceitaram os rumores como credíveis, apesar de todas as provas que chegam de Pequim sugerirem o contrário. Penso que é mais uma expressão do que os estrangeiros querem que aconteça na China", diz ao Negócios Neil Thomas, analista do Eurasia Group.
Agora, com o congresso a arrancar este domingo, não restam dúvidas sobre o destino de Xi: continuará como secretário-geral do partido, presidente da Comissão Militar Central e Presidente. A reeleição para os dois primeiros cargos vai acontecer nos próximos dias, a da presidência apenas em março, mas os analistas são unânimes em dizer que se trata de uma formalidade. Além disso, primeiro o partido, depois o Estado - ser secretário-geral do PCC é o grande cargo de poder, mais do que o de Presidente.
"É 100% certo que Xi vai ser reeleito", afirma ao Negócios Alfred Wu, investigador da Universidade Nacional de Singapura. Neil Thomas concorda: "Xi Jinping não enfrenta qualquer oposição interna credível. É muito difícil que qualquer oposição se organize para o afastar sem antes ser travada e presa."
O mesmo se passa fora da elite política. "Muitas pessoas o detestam. Em particular intelectuais liberais. Insatisfação há, mas não diria que há instabilidade", explica Wu.
O crescente desagrado com a degradação da economia "não é nada que gere uma insatisfação que represente uma verdadeira ameaça à liderança de Xi ou do partido" , esclarece Thomas, explicando que "muito desse sentimento [negativo] é direcionado aos líderes locais e aos EUA".
Sem sucessor à vista
Nos anos 1980, Deng Xiaoping introduziu limites aos mandatos e, desde então, a liderança não fica nas mãos da mesma pessoa por mais de dez anos. Em 2018, Xi Jinping acabou com esses limites.
Com a opacidade que pauta a política chinesa, os observadores mantêm-se no escuro sobre quanto tempo Xi, agora com 69 anos, poderá governar e quem lhe poderá suceder. "Não, não, não. Ele não vai selecionar ninguém [agora]. A saúde dele não é má, acredito que se vá manter pelo menos 10 anos", comenta Wu.
"Não fazemos ideia de quem será o [próximo] líder porque não sabemos por quanto tempo Xi Jinping vai liderar a China. Xi não indicou nenhum sucessor e é improvável que o faça no Congresso. Isso sugere que planeia liderar o país por muito tempo", acrescenta o analista do Eurasia Group.
Novas caras, um relatório e uma emenda constitucional
Cerca de 2.300 membros do partido vão reunir-se, a partir de domingo, em Pequim, para o Congresso do PCC, que acontece a cada cinco anos. Vão ser eleitos 200 delegados com direito de voto para o Comité Central, que, depois, vai selecionar os 25 membros do Politburo e os sete que compõem o Comité Permanente do Politburo, a nata da nata do PCC. É também o Comité Central que escolhe o secretário-geral.