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O terceiro ato de Xi Jinping

Arranca este domingo o 20.º Congresso do Partido Comunista da China, após o qual Xi Jinping será confirmado para um terceiro mandato à frente dos destinos da segunda economia do mundo. Aguardam-se novidades sobre a política covid e a economia, e é também esperada uma revisão constitucional. Os observadores estão atentos a mexidas na elite do partido, mas ninguém duvida de que Xi se mantém na proa do navio.

Em prisão domiciliária, alvo de um golpe de Estado, deposto, substituído por um general do exército. No final de setembro, a internet borbulhou com rumores sobre o paradeiro de Xi Jinping, que deixou de ser visto em público por alguns dias.

Estávamos a menos de um mês de um dos grandes momentos políticos do país, o 20.º Congresso do Partido Comunista da China (PCC), após o qual Xi será reconduzido para um terceiro mandato - algo inédito na China moderna.

"Penso que a maior lição dos rumores do golpe é que há muita esperança fora da China que a liderança mude. Por isso é que algumas pessoas aceitaram os rumores como credíveis, apesar de todas as provas que chegam de Pequim sugerirem o contrário. Penso que é mais uma expressão do que os estrangeiros querem que aconteça na China", diz ao Negócios Neil Thomas, analista do Eurasia Group.

Agora, com o congresso a arrancar este domingo, não restam dúvidas sobre o destino de Xi: continuará como secretário-geral do partido, presidente da Comissão Militar Central e Presidente. A reeleição para os dois primeiros cargos vai acontecer nos próximos dias, a da presidência apenas em março, mas os analistas são unânimes em dizer que se trata de uma formalidade. Além disso, primeiro o partido, depois o Estado - ser secretário-geral do PCC é o grande cargo de poder, mais do que o de Presidente.

"É 100% certo que Xi vai ser reeleito", afirma ao Negócios Alfred Wu, investigador da Universidade Nacional de Singapura. Neil Thomas concorda: "Xi Jinping não enfrenta qualquer oposição interna credível. É muito difícil que qualquer oposição se organize para o afastar sem antes ser travada e presa."

O mesmo se passa fora da elite política. "Muitas pessoas o detestam. Em particular intelectuais liberais. Insatisfação há, mas não diria que há instabilidade", explica Wu.

O crescente desagrado com a degradação da economia "não é nada que gere uma insatisfação que represente uma verdadeira ameaça à liderança de Xi ou do partido" , esclarece Thomas, explicando que "muito desse sentimento [negativo] é direcionado aos líderes locais e aos EUA".

Sem sucessor à vista

Nos anos 1980, Deng Xiaoping introduziu limites aos mandatos e, desde então, a liderança não fica nas mãos da mesma pessoa por mais de dez anos. Em 2018, Xi Jinping acabou com esses limites.

Com a opacidade que pauta a política chinesa, os observadores mantêm-se no escuro sobre quanto tempo Xi, agora com 69 anos, poderá governar e quem lhe poderá suceder. "Não, não, não. Ele não vai selecionar ninguém [agora]. A saúde dele não é má, acredito que se vá manter pelo menos 10 anos", comenta Wu.

"Não fazemos ideia de quem será o [próximo] líder porque não sabemos por quanto tempo Xi Jinping vai liderar a China. Xi não indicou nenhum sucessor e é improvável que o faça no Congresso. Isso sugere que planeia liderar o país por muito tempo", acrescenta o analista do Eurasia Group.

Novas caras, um relatório e uma emenda constitucional

Cerca de 2.300 membros do partido vão reunir-se, a partir de domingo, em Pequim, para o Congresso do PCC, que acontece a cada cinco anos. Vão ser eleitos 200 delegados com direito de voto para o Comité Central, que, depois, vai selecionar os 25 membros do Politburo e os sete que compõem o Comité Permanente do Politburo, a nata da nata do PCC. É também o Comité Central que escolhe o secretário-geral.

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