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Guterres: "A Alemanha ainda é a válvula do sistema europeu"

O ex-Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados esteve em São Bento para responder a questões sobre a crise de refugiados. Guterres considera a situação dramática e não vê uma inversão na capacidade de resposta da UE.

Pedro Elias
16 de Fevereiro de 2016 às 17:29
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Para António Guterres, a Alemanha "ainda é a válvula do sistema europeu". Se não fosse pelo país liderado por Angela Merkel, o cenário europeu na resolução da crise de refugiados seria muito pior, analisou António Guterres, antigo Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, num "aviso à navegação", esta terça-feira, durante a Comissão de Negócios Estrangeiros.

O actual candidato a secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) foi convidado pelo PSD a discutir o problema da crise de refugiados. No seu regresso a São Bento, António Guterres teceu duras críticas à resposta da Europa às necessidades dos requerentes de asilo. "As migrações são uma constante na história e devem ser vistas como uma parte da solução do problema da humanidade e não como uma parte do problema", notou.

O antigo primeiro-ministro referiu-se ao debate das migrações e da crise de refugiados como um debate "esquizofrénico". "Se perguntarmos [aos cidadãos europeus] se querem ter mais filhos, a resposta é não, se querem trabalhar no restaurante em frente também respondem não, se querem emigrantes a resposta é não também". "Ora, estes três 'nãos' conjugados não funcionam", analisa.

Não obstante, o candidato a secretário-geral de uma das maiores organizações humanitárias internacionais reconhece a responsabilidade europeia nos problemas da resposta à crise de refugiados. Guterres sublinhou que grande parte dos movimentos migratórios "são organizados por contrabandistas e traficantes, que violam os seres humanos de uma forma trágica e que se aproveitam para enriquecerem e corromperem as sociedades".

À semelhança do que tem feito, António Guterres não poupou críticas aos 28 Estados-membros e sublinhou que, apesar da dimensão do fluxo de refugiados, à escala, o um milhão de migrantes que chega à Europa corresponde a "pouco menos de dois refugiados por cada mil cidadãos a viver na Europa". "O problema essencial não foi o número de pessoas que chegou mas a total ausência de mecanismos para poder acolher esse número de pessoas e responder a esse desafio", conclui.

"O que esta crise revelou foi uma enorme falta de solidariedade que cria as ameaças ao futuro da coesão da União Europeia", criando um mecanismo que "facilita imenso o recrutamento do proclamado Estado Islâmico dentro das sociedades europeias".

"O que neste momento existe é uma coisa caótica", destacou. Além disso, alertou para a progressão de forças políticas extremistas e nacionalistas, "um cenário ao qual Portugal tem escapado".

"Tenho visto países adoptarem medidas restritivas, uns atrás de outros. Temos visto essa sucessão de medidas anunciadas até por países com tradição de acolhimento, o que é extremamente doloroso", lamentou. 

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