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EUA: armas de fogo matam mais do que ataques terroristas
Obama pediu e a Vox respondeu. Por ano morrem mais de 11 mil norte-americanos em casos que envolvem armas de fogo, um número largamente superior às vítimas de ataques terroristas.
O presidente Barack Obama dirigiu-se quinta-feira, 2 de Outubro, aos Estados Unidos para, uma vez mais, prestar as suas condolências às famílias das vítimas de um novo atentado na escola Umpqua Community College, em Roseburg, Estado de Oregon. "De alguma forma, isto tornou-se rotina. Esta conferência é rotina. A minha presença aqui, neste pódio, acaba por ser rotineira", lamentou Obama. "Esta conversa e o rescaldo disso. Tornamos-nos insensíveis", condenou, pedindo uma legislação de controlo de armas mais restritiva. O tiroteio aconteceu quinta-feira e resultou na morte de 13 pessoas e ferimentos de outras 20.
Num emocionado discurso, Obama enumerou os ataques que vitimaram milhares de americanos nos últimos anos. "Não pode ser assim tão fácil para alguém que tem o reflexo de magoar outras pessoas colocar as mãos numa arma", disse, não deixando de acusar todos os que se opõem às propostas de alteração da lei de posse de armas privadas nos Estados Unidos. Enquanto os Democratas pedem um controlo mais apertado, os Republicanos defendem uma política liberal. "Consigo imaginar os títulos da imprensa: 'precisamos de mais armas' ou 'menos armas significa perda de segurança". Será que alguém acredita mesmo nisto?", questionou.
"Como é que podemos reduzir mortes com armas? Temos um Congresso que até nos impede de reunir dados. Esta é uma escolha política que nós fazemos", sublinhou Obama. "A nossa liberdade e constituição impedem qualquer regulação na forma como usamos uma arma mortal?"
Isto é algo que deve ser politizado, pediu o presidente. E a lista de pedidos não ficou por aqui. Barack Obama pediu aos meios de comunicação que contassem o número de norte-americanos que durante os últimos dez anos foram vítimas de ataques terroristas e comparassem com os números de norte-americanos vítimas de ataques com armas de fogo. Dessa forma, não trataria de uma informação da Casa Branca, mas da imprensa.
E pelo menos um meio de comunicação já respondeu ao pedido, tendo conseguido conquistar a atenção do presidente americano, que partilhou o trabalho na sua conta oficial do Twitter.
Thanks, Zack. https://t.co/gOGzWmYdxQ
— President Obama (@POTUS) October 2, 2015
O resultado não poderia ser mais óbvio. Dados recolhidos entre 2001 e 2011 e disponibilizados pelo Departamento da Justiça e pelo Conselho de Relações Estrangeiras dos EUA, mostram que todos os anos morrem mais de 10 mil americanos, vítimas de tiroteios e violência com armas. Por oposição, a Vox destaca que a representatividade do número de vítimas de terrorismo é tão pequena que é difícil distanciá-la da linha do zero na escala do gráfico. O ano de 2001, marcado pelo ataque terrorista de 11 de Setembro, é o único ano em que as duas variáveis se aproximam. Ainda assim, são 2.689 as vítimas de terrorismo face às mais de 11 mil vítimas de armas de fogo. Nos anos seguintes, a diferença é ainda maior, não ultrapassando as 74 vítimas de terrorismo num ano, sendo que em nenhuma dado o número de vítimas de armas de fogo desce as 11 mil vítimas. No intervalo disponibilizado, o ano mais trágico foi 2006, com 12.791 mortes provocadas
Os dados mais recentes, 2011, mostram que 17 pessoas morreram vítimas de terrorismo, contra 11.101 mortes causadas por armas de fogo. Também o Guardian publicou uma infografia que mostra que em 1004 dias registaram-se 994 tiroteios.
Na sequência do atentando, também Hillary Clinton, candidata democrata às eleições presidenciais norte-americanas de 2016, defendeu na sua conta pessoal do Twitter a implementação de medidas de controlo no acesso às armas e garante que vai "fazer de tudo para atingir isso".
Another devastating shooting. We need sensible gun control measures to save lives, and I will do everything I can to achieve that. -H
— Hillary Clinton (@HillaryClinton) October 1, 2015
Outro candidato democrata, Bernie Sanders, também publicou uma mensagem onde se podia ler "outra tragédia sem sentido com mais inocentes mortos".
Another senseless tragedy with more innocent people killed. Our hearts go out to the families. -B
— Bernie Sanders (@SenSanders) October 1, 2015
Já do lado republicano, mais liberal no acesso às armas, de Jeb Bush, irmão do antigo presidente norte-americano George W. Bush, chegou um "acontece", como comentário à tragédia do tiroteio na escola de Oregon.
Hillary Clinton voltou a publicar no Twitter para acusar os republicanos de não protegerem a comunidade.
"Republicans keep refusing to do anything to protect our communities. They put the NRA ahead of American families. It is wrong." -Hillary
— Hillary Clinton (@HillaryClinton) October 2, 2015