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Duterte, o justiceiro voltou a insultar

As polémicas do presidente filipino que já chamou nomes a líderes internacionais. O último foi a Obama.

Reuters
10 de Setembro de 2016 às 10:00
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Em Janeiro de 2015, o Papa Francisco visitou as Filipinas. Num país onde 80% da população é católica, a estada do sumo pontífice foi vista com acontecimento nacional. Não para todos. Rodrigo Duterte, então candidato presidencial, chamou ao Papa Francisco "filho da p…", por ter provocado engarrafamentos monumentais em Manila, a capital do país.

Em Maio deste ano, Duterte voltou a recorrer ao insulto, classificando o embaixador norte-americano nas Filipinas, Philip Goldberg, um "gay filho da p…". E como não há duas sem três, esta semana, o agora presidente das Filipinas, ameaçou que chamaria "filho da p…" a Barack Obama, se o chefe de Estado norte-americano o questionasse sobre as mais de 2.000 execuções de alegados traficantes e consumidores de droga no seu país.




Em resultado, Obama cancelou o encontro que tinha prevista com Duterte, a qual iria ter lugar no Laos, à margem da reunião da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), classificando o seu homólogo filipino como um "tipo extravagante". O presidente norte-americano reiterou a sua convicção de que o combate ao tráfico de droga deve ser feito "de forma adequada" e "respeitando as normas internacionais".


Obama diz que Duterte é extravagante
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Obama diz que Duterte é extravagante


No fim, Obama e Duterte acabaram por se encontrar na quarta-feira, antes do jantar solene da ASEAN, e segundo rezam as crónicas, houve uma troca de palavras amigáveis entre os dois. Mas o "filho da p…" proferido pelo presidente filipino não será esquecido.

Já este ano, o controverso Rodrigo Duterte prometeu ir ao Vaticano fazer um pedido de desculpas ao Papa Francisco para pedir o perdão deste pelo insulto de 2015. E horas depois de ter feito a ameaça a Barack Obama, emitiu um comunicado lamentando o acontecido, atribuindo as suas palavras a "certas questões colocadas pela imprensa que lhe suscitaram preocupação e angústia".

Os desmandos de Duterte não são de agora, Em 1989, quando era governador do Estado de Davao, uma missionária australiana visitou a cadeia local foi violada e assassinada pelos reclusos. Duterte comentou o sucedido, durante um comício, nos seguintes termos: "Fiquei revoltado. Por ela ter sido violada? Sim, essa é uma das razões, mas também porque ela era tão bonita e o governador [Rodrigo Duterte] devia ter sido o primeiro. Que desperdício". "Rody", como também é conhecido, foi pressionado a retratar-se, mas recusou, argumentando – "é assim que os homens falam".

A carreira política de Duterte foi toda feita na província de Madao, na ilha de Mindanao, da qual foi governador durante 22 anos, ganhando aí a alcunha de "justiceiro" por fazer justiça pelas suas próprias mãos e de ter patrocinado a criação de esquadrões da morte para combaterem o crime. As organizações de Direitos Humanos acusam-no de ter ordenado a execução extrajudicial de mais de mil detidos. É este "modus operandi" que agora estará a aplicar a todo o país.

Rodrigo Duterte, nascido em 1945 na cidade de Maasin, foi eleito presidente das Filipinas em Maio deste ano, tendo feito uma campanha eleitoral baseada no combate ao crime, à corrupção e à pobreza. Já declarado presidente avisou todos os envolvidos com as drogas: "Eu vou matá-los. Não tenho paciência nem meio-termo. Ou vocês me matam ou eu mato vocês". Os narcotraficantes já ofereceram uma recompensa de um milhão de dólares a quem matar o presidente.

Desde que chegou à presidência, a campanha anti-drogas tem sido farta em número. Segundo números da própria Polícia Nacional das Filipinas, 712 suspeitos foram mortos em operações policiais, 1.067 indivíduos foram mortos por milícias populares e 640.233 pessoas, alegadamente envolvidas no tráfico e consumo de drogas, entregaram-se voluntariamente à polícia.

A ordem de Duterte à polícia, sempre que esta se depare com membros do crime organizado, não deixa margens para dúvidas – "atirar a matar".

Esta actuação de Duterte, formado em Artes na Universidade das Filipinas e em Direito no Colégio de San Beda, está a merecer fortes críticas internacionais, mas isso não demove o presidente filipino, que goza de uma popularidade crescente. Porquê? "Acho que em grande parte esse apoio resulta do facto das pessoas terem cada vez menos confiança nas instituições judiciais existentes e de terem uma sensação que os processos democráticos normais não conseguem lidar com a magnitude da crise", respondeu ao New York Times Richard Javad Heydarian, professor de Ciência Política na Universidade De La Salle, em Manila.

As Filipinas são um arquipélago que ocupa uma área de 300 mil metros quadrados e têm 100 milhões de habitantes, sendo o 12º nação mais populosa do mundo. O país é caracterizado, a nível económico, por um enorme fosso entre ricos e pobres, sendo que 45% da população tem um rendimento inferior a dois dólares por semana.

Apesar desta pobreza, o Goldman Sachs estima que até 2050 as Filipinas se transformem na 20.ª maior economia do mundo e o HSBC acrescenta que será a quinta maior economia da Ásia. Um crescimento alavancado pela indústria em actividades ligadas ao fabrico de produtos tecnológicos e outros componentes de alta tecnologia.

Duterte é, assim, uma personagem extravagante a comandar um tigre asiático em crescimento. Ainda como candidato a presidente não teve rebuço em admitir que era "viciado no Viagra" e que tinha sido infiel à sua ex-mulher, Elizabet Zimmerman, de quem tem dois filhos, Sara e Paolo. O justiceiro "Rody" contou então que teve "três namoradas" em simultâneo durante o casamento e que essa situação devia ser do conhecimento de todas.

As Filipinas já estão acostumadas às excentricidades dos seus políticos. Em 1986, quando o então presidente da República, Ferdinand Marcos, fugiu para o Hawai na sequência de uma revolução desencadeada pelos militares, descobriu-se que a sua mulher Imelda, uma ex-miss do país, tinha mais de três mil pares de sapatos em casa.

Ferdinand Marcos acabou por morrer em 1989 no Hawai. Imelda regressou ao país em 1991 e levou consigo o corpo embalsamado do marido, que hoje é exibido ao público como um herói filipino. E a própria acabou por ser eleita deputada, cargo que exerceu entre 1994 e 1998. Os escândalos de corrupção ficaram para segundas núpcias.

Por isso não é de estranhar que Duterte, criticado pela comunidade internacional e pelos defensores dos direitos humanos, seja visto como um herói nas Filipinas. A sua popularidade é de 91%, o valor mais alto alguma vez atingido por um presidente filipino.

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