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Coreia do Norte enfrenta possivelmente a pior crise desde os anos 90

Qual o impacto das sanções sobre Kim Jong-un? A economia da Coreia do Norte passa pelo pior momento desde que o pai de Jong-un estava no poder, quando enfrentou enchentes, seca e escassez de alimentos que, segundo algumas estimativas, mataram até 10% da população.

Reuters
28 de Julho de 2019 às 13:00
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O relatório anual do banco central da Coreia do Sul sobre o seu vizinho do norte - que deve ser divulgado ainda este mês - fornecerá um novo olhar sobre o impacto da pressão exercida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, quando os dois lados se preparam para retomar as negociações. Embora o isolamento, sigilo e escassez de estatísticas oficiais da Coreia do Norte dificultem estimativas, a economia do país provavelmente encolheu mais de 5% no ano passado, segundo Kim Byung-yeon, professor de economia na Universidade Nacional de Seul.

 

"Enquanto as sanções permanecerem, os EUA levam vantagem", disse Kim Byung-yeon, que também escreveu o livro "Unveiling the North Korean Economy" (revelando a economia da Coreia do Norte). "As sanções são o meio mais efetivo de levar a Coreia do Norte às negociações. Portanto, não devem ser suspensas ou aliviadas sem grandes progressos na desnuclearização."

 

Uma contração de 5% significa que as restrições internacionais ao comércio norte-coreano - medidas apoiadas pela China - colocaram o país na pior situação económica desde 1997. Naquela época, o isolado país recuperava dos equívocos das políticas de Kim Jong-il, e a fome era tão grave que alguns desertores relataram rumores de canibalismo.

 

O Banco da Coreia estimou uma contração económica de 3,5% em 2017, reduzindo a economia da Coreia do Norte ao tamanho do estado americano de Vermont. Park Yung-hwan, funcionário do Banco da Coreia responsável pelos dados do PIB norte-coreano, não quis comentar os cálculos mais recentes do banco central pois a análise ainda está a decorrer.

 

Uma coisa que as sanções não estão fazer: impedir que Jong-un desenvolva o arsenal nuclear que deu origem ao confronto com Trump. O custo de lançamento dos mais de 30 mísseis balísticos que Kim Jong-un testou desde que assumiu o poder em 2011 soma cerca de 100 milhões de dólares, segundo estimativas do Ministério da Defesa da Coreia do Sul.

  

No entanto, Trump conta com a pressão económica para obrigar Kim a se comprometer, depois de os dois líderes terem concordado em retomar as negociações oficiais numa reunião histórica na zona desmilitarizada no mês passado. Trump já tinha rejeitado a oferta do líder norte-coreano para desmantelar o seu envelhecido complexo nuclear em Yongbyon, em troca da suspensão das sanções de maior peso.

 

"Esperamos, é claro, retomar estas negociações, e esperamos conversar sobre todas as maneiras pelas quais possamos avançar no progresso desses compromissos", disse a porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Morgan Ortagus, numa entrevista.

 

Alguns indicadores da atual crise económica da Coreia do Norte:


Congelamento da China

A Coreia do Norte depende muito da China, que responde por cerca de 90% do comércio do país. E a decisão de Pequim de apoiar as sanções internacionais mais duras contra o país, após o seu sexto teste nuclear em setembro de 2017, pressionou muito a economia.

 

As sanções impostas pelo Conselho de Segurança da ONU atingiram as exportações de matérias-primas da Coreia do Norte, minerais e roupas, como também o fluxo de operários e engenheiros de software.

 

As importações da China de produtos da Coreia do Norte caíram cerca de 90% face ao ano anterior, para apenas 195 milhões de dólares em 2018, segundo a Associação de Comércio Internacional da Coreia. As exportações de alimentos e combustíveis da China para o Norte também caíram.

 

Escassez de combustível

Antes das sanções, a Coreia do Norte importava cerca de 3,9 milhões de barris de petróleo em 2015, de acordo com o The World Factbook da Agência Central de Inteligência (CIA). As sanções reduziram as importações do país para 500 mil barris de petróleo no ano passado.

 

A crise de combustível agravou décadas de estagnação económica. O consumo de petróleo na Coreia do Norte encolheu cerca de 80% de 1991 a 2017, segundo o Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU, um dos poucos órgãos internacionais com acesso a relatórios e estatísticas do país.

 

Crise agrícola

Menos combustível significa menos diesel para operar tratores agrícolas e bombas para irrigação, atingindo quintas já afetadas por secas no verão passado. Em 2018, agricultores tinham pouco menos de 90 mililitros de combustível por dia para cultivar uma área do tamanho de dois campos de futebol, segundo cálculos com base nos dados do PMA.

 

As sanções levaram à escassez de outros itens agrícolas necessários, incluindo maquinaria e peças de reposição, e a produção agrícola caiu nas províncias que compõem os celeiros do sul e ocidentais da Coreia do Norte, segundo avaliação divulgada em maio pelo PMA e Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

(Texto originial: North Korea Likely Suffering Worst Downturn Since 1990s Famine)

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