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Com retaliação do Irão, Trump tem oportunidade de acalmar tensões
Os ataques com mísseis do Irão contra bases dos Estados Unidos no Iraque parecem ter sido cuidadosamente calibrados para apaziguar a crescente revolta em território iraniano, enquanto oferecem ao presidente Donald Trump a oportunidade de evitar uma guerra que poderia devastar a região.
Tanto o Irão como Trump têm agora a porta aberta para diminuir as tensões depois da retaliação da República Islâmica pelo assassinato do general Qassem Soleimani na semana passada. O ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, Javad Zarif, anunciou que o país havia tomado "medidas proporcionais" e que não está à procura de uma guerra, enquanto Trump escreveu no Twitter que "está tudo bem!".
Os ataques são "uma resposta muito calculada", disse Faysal Itani, vice-diretor do Centro de Política Global de Washington, que viveu e trabalhou no Médio Oriente. "A resposta deve ser dramática o suficiente para [o Irão] não se sentir humilhado, mas limitada o suficiente para evitar um ciclo de escalada que poderia levar a uma ação militar esmagadora dos EUA. Foi espetacular o suficiente para ‘ser válido’, mas não força os EUA a retaliarem".
Embora o presidente dos EUA tenha alertado repetidamente o Irão e lembrado a força militar dos EUA num tweet depois do ataque com mísseis, também disse na semana passada que o assassinato de Soleimani tinha como objetivo "parar uma guerra".
Os líderes do Irão enfrentaram uma enorme pressão interna para reagir em força depois de os EUA terem assassinado um dos generais mais poderosos do país. As façanhas de Soleimani em conflitos regionais fizeram dele um herói nacional no Irão, e centenas de milhares de pessoas saíram às ruas esta semana para o seu cortejo fúnebre.
Mesmo com a resposta calculada, não é provável que o Irão interrompa os esforços para expulsar as forças americanas da região. Um dia antes dos ataques com mísseis, o Irão prometeu infligir um "pesadelo histórico" aos EUA e disse estar a avaliar 13 maneiras possíveis de retaliar. Após o ataque, a Guarda Revolucionária Islâmica – a principal força de combate das forças armadas - chamou o início da operação de "Mártir Soleimani" e garantiu que há mais respostas a caminho.
Ainda assim, o líder supremo do Irão, o aiatola Ali Khamenei, está bastante limitado nas opções militares já que existe o risco de uma guerra conduzir a uma destruição total e a uma mudança de regime.
Iran took & concluded proportionate measures in self-defense under Article 51 of UN Charter targeting base from which cowardly armed attack against our citizens & senior officials were launched.
— Javad Zarif (@JZarif) 8 de janeiro de 2020
We do not seek escalation or war, but will defend ourselves against any aggression.
"Ainda acho que os iranianos estão mais propensos a tentar evitar um confronto militar direto com o Estados Unidos porque isso destruiria grande parte da sua capacidade defensiva ", disse Jon Alterman, diretor do Programa para o Médio Oriente do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, em Washington. "Não nos podemos esquecer que os iranianos ainda estão a usar armas que o xá comprou - não têm muito para gastar".
Perante isso, acrescentou Alterman, é provável que o Irão tome medidas que afetem a liderança global dos EUA para atenuar o efeito das sanções económicas, ao mesmo tempo que tenta empurrar as forças americanas para fora do Iraque, que também fornece munições à Síria. Após o ataque com mísseis na quarta-feira, um ministro iraniano tweetou "Saia da nossa região!", mostrando as bandeiras do Irão e do Iraque.
Get the hell out of our region!#HardRevenge
— MJ Azari Jahromi (@azarijahromi) 8 de janeiro de 2020
O Irão também deve pesar o impacto económico. Os EUA permitiram que isenções de petróleo importantes para os que ainda compravam petróleo do Irão expirassem nos primeiros meses de 2019, como parte do objetivo de acabar com a principal fonte de receita do país. A subida da inflação encareceu produtos básicos, como a carne, e uma decisão do governo de aumentar o preço da gasolina desencadeou protestos que, segundo os EUA, mataram mais de mil pessoas.
Os líderes do Irão também reconhecem uma oportunidade de beneficiarem politicamente da crise, de acordo com Joseph Siracusa, professor da Universidade RMIT de Melbourne e coautor de "Going to War with Iraq: A Comparative History of Bush Presidences".
"É uma teocracia que está a envelhecer, impondo novamente a sua vontade sobre uma população mais jovem", disse. "Uniu o povo iraniano, que não está a unido em torno de nada".