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Churchill tentou encobrir plano nazi para convencer o Rei
Winston Churchill e Dwight Eisenhower tentaram eliminar documentos nazis capturados que mostravam Eduardo VIII, Rei do Reino Unido, a discutir o seu desejo de paz com Adolf Hitler, segundo arquivos recentemente revelados em Londres.
O Arquivo Nacional dos EUA publicou na quinta-feira, 20 de Julho, mais artigos do depósito secreto do Governo britânico, onde documentos considerados "muito difíceis, muito sensíveis" para o sistema normal de arquivos foram escondidos. Entre eles há um memorando de 1953 de Churchill, marcado como "ultra-secreto", explicando a existência de uma série de telegramas alemães contendo relatórios de comentários do Duque de Windsor, título pelo qual Eduardo VIII era chamado após ter abdicado do trono, em 1936.
"Ele está convencido de que se tivesse permanecido no trono a guerra teria sido evitada e descreve-se como firme defensor de um acordo pacífico com a Alemanha", relata um telegrama de Lisboa, Portugal, país neutro no conflito, onde o duque estava em Julho de 1940. "O duque tem a certeza de que o contínuo bombardeio pesado deixará a Inglaterra pronta para a paz."
Eduardo VIII abdicou para poder casar-se com uma americana divorciada, Wallis Simpson. O casal instalou-se em França, mas mudou-se para a Espanha quando estourou a Segunda Guerra Mundial. O governo de Madrid, formalmente neutro, mas simpatizante da Alemanha, pediu orientação de Berlim sobre o que deveria ser feito com eles. O ministro das Relações Exteriores alemão à época, Joachim von Ribbentrop, respondeu perguntando se eles poderiam permanecer lá. E depois ordenou que a casa fosse vigiada.
Ribbentrop ficou interessado quando soube, dias depois, que em privado "Windsor posicionou-se energicamente contra Churchill e contra esta guerra". Enquanto avaliava o que fazer, o duque e a duquesa dirigiram-se para Portugal, onde fizeram comentários semelhantes. Os nazis decidiram agir.
"Persuadido ou forçado"
"O duque deve voltar para Espanha sob qualquer circunstância", escreveu Ribbentrop, acrescentando que o casal deveria ser "persuadido ou forçado" a permanecer lá. O seu plano era oferecer ao duque "a concessão de qualquer desejo", incluindo "a ascensão ao trono inglês".
Churchill, enquanto isso, estava atento ao perigo de ter um monarca alternativo tão próximo de acabar em mãos nazis. Por isso, nomeou o duque como governador das Bahamas. Como os Windsor mostraram-se relutantes em deixar a Europa, Churchill ameaçou Eduardo, que tinha um cargo militar honorário, com uma corte marcial. Ribbentrop, que não queria deixar o seu troféu escapar, lançou a Operação Willi para convencer os Windsor a voltarem para Espanha, sequestrando-os se necessário. Mas apesar das tentativas de sabotagem e das ameaças de bomba, os alemães fracassaram.
O plano era "persuadir o duque a deixar Lisboa num carro como se estivesse a ir para uma longa viagem de lazer e depois atravessar a fronteira num lugar específico, onde a polícia secreta espanhola garantirá uma passagem segura", de acordo com uma nota enviada para Ribbentrop.
Os telegramas que descrevem a operação foram encontrados em 1945, quando o regime de Hitler caiu. Quando foram transferidos para o Governo britânico, Clement Attlee, que substituiu Churchill como primeiro-ministro, escreveu ao seu antecessor dizendo que a publicação dos documentos "poderia provocar um dano enorme". Churchill respondeu concordando e expressando a esperança de que fosse possível "destruir todos os vestígios" dos arquivos.
Plano de publicação
Mas quando Churchill voltou ao poder em 1951, ficou horrorizado ao saber que Attlee posteriormente mudou de ideia, aparentemente por insistência do então secretário de Relações Exteriores, Ernest Bevin. Os historiadores em Washington da altura propunham publicar os telegramas nazis.
Em 1953, Churchill escreveu para Eisenhower, presidente dos EUA na altura, relatando o seu temor de que os documentos "possam deixar a impressão de que o duque estava em contacto com agentes alemães e a ouvir sugestões desleais". Eisenhower, que tinha sido comandante supremo dos aliados, tinha visto os telegramas em 1945, mas pensava que os tinha eliminado, com o argumento de que eram "obviamente inventados com alguma ideia de promover a propaganda alemã". Ele não sabia que tinha sido enviada uma microfilmagem ao Departamento de Estado dos EUA.
Na década de 1950, as mensagens foram vistas por muita gente, o que impedia a sua destruição, e o historiador britânico encarregue de preparar os documentos para publicação ameaçava pedir a demissão se eles fossem eliminados. Os documentos acabaram por ser publicados em 1957 e o duque descreveu-os como uma "farsa completa".