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China promete "vingança" se Trump reatar relações com Taiwan
A líder taiwanesa aproveitou a escala de um voo para se encontrar com altos responsáveis do Partido Republicano. Pequim deixa novo aviso aos EUA e promete aumentar também a pressão económica militar sobre Taipé.
As autoridades chinesas voltaram a deixar sérios avisos a Donald Trump, a escassos 11 dias da tomada de posse como presidente dos Estados Unidos. No epicentro da polémica está uma nova tentativa de aproximação política a Taiwan, que Pequim reclama ser parte integrante do seu território.
"Se Trump renegar o princípio de uma só China depois de assumir o cargo, o povo chinês vai exigir ao governo que se vingue. Não há espaço para negociação", escreveu em editorial o jornal estatal Global Times, insistindo que este não é um "pedido caprichoso" a Washington, "mas uma obrigação dos presidentes dos EUA para manter as relações" bilaterais e para "respeitar a ordem existente na [região da] Ásia-Pacífico".
Esta reacção por parte da publicação controlada pelo Partido Comunista Chinês surge poucas horas depois da presidente taiwanesa ter tido contactos directos com alguns altos responsáveis do Partido Republicano durante uma escala em Houston. Um desses encontros, entre Tsai Ing-wen e o governador do Texas, foi mesmo documentado numa fotografia partilhada pela conta oficial de Greg Abbott no Twitter.
Today I met with the President of Taiwan to discuss expanding trade and economic opportunities. #txlege pic.twitter.com/5KF04VlFRA
— Greg Abbott (@GregAbbott_TX) January 8, 2017
Nesta paragem a caminho da América Central, onde irá visitar Honduras, Nicarágua, Guatemala e El Salvador – no regresso, a 13 de Janeiro, fará nova escala em São Francisco –, a líder de Taiwan falou ainda ao telefone com o senador republicano John McCain e encontrou-se com Ted Cruz. Em comunicado, o político texano assinalou que a China "tem de compreender que a América toma por si própria as decisões sobre encontros com visitantes". "Isto não é sobre a China. Isto é sobre a relação dos EUA com Taiwan, um aliado que estamos legalmente obrigados a defender", acrescentou.
Já esta segunda-feira, 9 de Janeiro, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Lu Kang, reforçou, citado pela Reuters, que Pequim "opõe-se firmemente a que líderes da região de Taiwan tenham qualquer forma de contacto com as autoridades americanas e participem em actividades que interfiram e prejudiquem as relações entre a China e os EUA".
A tensão entre os dois gigantes, a propósito deste mesmo tema diplomático, já tinha aumentado no início de Dezembro quando Trump decidiu aceitar um telefonema da líder taiwanesa para o felicitar pela vitória nas eleições de 8 de Novembro do ano passado. Essa ligação telefónica foi mesmo o primeiro contacto oficial entre os presidentes dos dois países desde 1979.
É que, desde o restabelecimento das relações bilaterais no final da década de 1970, Washington passou a reconhecer a China como território único e interrompeu as ligações diplomáticas com Taiwan, embora sempre tenham mantido laços informais. A China defende a "reunificação pacífica" com Taiwan e promete "usar a força, se necessário", caso aquele território decida declarar a independência.
Com base nesse cenário de declaração formal de independência, a líder taiwanesa é também directamente visada no mesmo editorial do jornal oficial Global Times. Tsai Ing-wen é avisada que "precisa de encarar as consequências de cada passo provocatório que dá", nomeadamente através de um aumento das pressões diplomáticas, económicas e militares sobre Taipé.