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Profissionais de tecnologia trocam Silicon Valley pelo Japão

O Japão corporativo tem uma reputação de longas horas de trabalho, salários baixos e nenhum plano com direito a opção de acções para os funcionários comuns, como acontece em Silicon Valley, mas o país está a passar por uma espécie de renascimento que facilita o recrutamento de talentos mundiais.

26 de Agosto de 2018 às 10:00
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O engenheiro de software Carlos Pérez Gutiérrez estava numa posição invejável em que podia escolher entre ofertas de emprego. A Lyft, empresa de boleias partilhadas, queria que ele assumisse o escritório de São Francisco. A Booking.com ofereceu-se para cobrir as despesas de mudança para Amsterdão, incluindo o custo de colocar o seu cão em quarentena.

 

Mas o jovem de 30 anos acabou a viajar para muito mais longe do seu México natal, para um país onde poucos falam inglês e muito menos espanhol, para trabalhar numa empresa cujo nome a maioria das pessoas do seu país não reconhece: uma companhia japonesa chamada Line. E Pérez diz que aceitou menos dinheiro para isso. O motivo: um caso de amor por manga (banda desenhada feita no estilo japonês), a animações do Japão e aos videojogos daquele país.

 

"Os meus pais dizem que eu jogava videojogos da Nintendo antes de começar a falar", afirmou. "Eu sempre quis ir ao Japão."

 

O Japão corporativo tem uma reputação de longas horas de trabalho, salários baixos e nenhum plano com direito a opção de acções para os funcionários comuns, como acontece em Silicon Valley, mas o país está a passar por uma espécie de renascimento que facilita o recrutamento de talentos mundiais.

 

O turismo está a crescer e, nos últimos anos, as cidades japonesas aparecem constantemente nos rankings das melhores do mundo para morar. Para algumas empresas de tecnologia, o prestígio da cultura pop japonesa também é uma vantagem quando se trata de contratar engenheiros, que, vamos combinar, tendem a ser um pouco nerds.

 

"Vemos que estão a chegar ao Japão mais imigrantes qualificados do que antes, especialmente no espaço de tecnologia", disse Marc Burrage, director administrativo da empresa de recrutamento Hays, em Tóquio. "Além disso, as barreiras caíram porque o governo reconheceu que as empresas não estão conseguindo suficiente pessoal qualificado em TI."

 

Cultura empresarial

É verdade que uma sociedade envelhecida e uma força de trabalho que está a encolher forçaram a repensar a imigração no Japão, mas mesmo depois de o governo instituir um sistema de pontos como o do Canadá para acelerar a residência permanente de trabalhadores qualificados, os números ainda são minúsculos. Após cinco anos e meio, o programa atraiu apenas cerca de 6.000 trabalhadores de TI, de acordo com o Ministério da Justiça.

 

A culpa é das empresas japonesas, muitas das quais continuam a ser obstinadamente monolingues e desenvolveram culturas de trabalho que não se abrem a pessoas de origens diferentes, segundo Naoko Ishihara, analista da Recruit Holdings em Tóquio, a maior empresa de recursos humanos do país.

 

"Mesmo em empresas que se consideram globais, os executivos não podem fazer uma reunião em inglês", salientou a responsável. "As empresas japonesas estão 30 anos atrasadas em termos de diversidade." Mesmo assim, para as empresas que tentam atrair trabalhadores do exterior, a popularidade do Japão ajuda.

 

A Ascent Robotics, uma start-up de tecnologia de Tóquio que está a contratar estrangeiros, foi fundada por um canadiano, Fred Almeida, que trabalhou no Japão durante anos antes de abrir a companhia em 2016. A empresa está a desenvolver inteligência artificial para veículos sem motorista e robôs, campos onde a procura por trabalhadores está em alta e estes quase sempre podem ir para onde quiserem. Até agora, a empresa está a receber uma média de 500 pedidos por mês do exterior, de acordo com o director de investimentos, James Westwood.

 

"As pessoas já querem estar aqui, é só dar-lhes uma oportunidade", disse. Ex-director administrativo do Goldman Sachs Group em Hong Kong, Westwood mudou-se para Tóquio para assumir o cargo na Ascent em Junho. Ele é um de 49 estrangeiros na empresa. Há apenas 11 japoneses.

 

(Texto original: Some Techies Are Shunning Silicon Valley for the Japanese Dream)

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