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Nova Rota da Seda promove Presidente chinês como estadista global
O fórum "Nova Rota da Seda", que a partir de domingo junta quase trinta chefes de Estado em Pequim, promete afirmar o Presidente chinês, Xi Jinping, como estadista global, defendem analistas.
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O evento, que decorre entre 14 e 15 de maio, é o último de uma série de encontros de alto nível encabeçados por Xi e surge antes do congresso do Partido Comunista Chinês (PCC), que se realiza no outono.
"Xi é agora visto como um líder global, com influência e respeito a nível internacional, e isso definitivamente melhora a sua imagem internamente", afirma Joseph Cheng, analista de política chinesa, agora reformado da City University, de Hong Kong.
Líderes de 28 países participam do encontro, incluindo os presidentes russo e filipino, Vladimir Putin e Rodrigo Duterte, respectivamente.
Portugal, que já afirmou a sua intenção de integrar a iniciativa, com a inclusão do porto de Sines, enviou o secretário de Estado da Internacionalização, Jorge Costa Oliveira.
No entanto, a maioria dos países ocidentais, nomeadamente Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Alemanha ou França, não terão representantes ao mais alto nível.
As ausências devem-se em parte a questões internas, mas reflectem também as preocupações com os Direitos Humanos ou o meio ambiente, associadas à exportação do modelo de desenvolvimento chinês.
O fórum servirá ainda para promover a imagem de Xi a nível interno.
A imprensa estatal chinesa tem associado o secretário-geral do PCC ao encontro, que se irá focar no seu plano de construir uma rede de portos, ligações ferroviárias e rodoviárias, que visam expandir o comércio da China com a Ásia, África e Europa.
"Ele está a mostrar ter visão. Os líderes têm que ser visionários. Ele demonstra que tem esperança no futuro da economia ao propor um plano económico muito importante", disse à Associated Press o antigo embaixador norte-americano na China, Max Baucus.
"Penso que ajudará muito [Xi Jinping], nas vésperas do próximo congresso do partido", acrescentou.
O congresso do PCC, que se realiza uma vez em cada cinco anos, promoverá uma nova geração de líderes, com vários membros do Comité Permanente do Politburo, a cúpula do poder na China, a serem substituídos.
Desde que ascendeu ao poder, em 2012, Xi Jinping tornou-se o centro da política chinesa, acumulado mais poder do que os seus antecessores.
No âmbito internacional, Xi presidiu a ambos os fóruns de Cooperação Económica Ásia-Pacífico (APEC, na sigla em inglês) e do G-20.
Em Janeiro passado, o líder chinês abriu o Fórum Económico Mundial de Davos, com um discurso em defesa da globalização e do livre comércio, em contraste com a retórica proteccionista do Presidente dos EUA, Donald Trump.
A Nova Rota da Seda, no entanto, tem implicações práticas.
A iniciativa visa reiterar a proeminência da China como um poder dominante na Ásia, onde a sua cultura e economia exerceu outrora forte influência sobre os países vizinhos.
Diferente do fórum de Davos ou da APEC, envolve contratos de milhares de milhões de dólares, expandido a esfera de influência da China e a autoridade de Xi.
"A China tem, não só os recursos, que é o essencial, mas também a visão e o desejo e estratégia para impulsionar a sua participação além-fronteiras", afirmou o embaixador do Afeganistão em Pequim, Janan Mosazai.
A iniciativa acarreta também riscos para o legado e estatuto de Xi.
Até à data, não existe uma definição concreta do plano, que tem incluído muitos projectos periféricos e de valor questionável.
E, visto que vários dos países envolvidos têm economias débeis com capacidade de crescimento limitada, são altas as possibilidades de desperdício de fundos ou corrupção, o que poderá resultar em avultadas perdas para os bancos estatais chineses que financiam os projectos.
"É fácil dar dinheiro", afirma Joseph Cheng. "A China tem é que provar que esses projectos são viáveis e que tem conhecimentos para os levar a cabo".