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Venezuela: A crise económica que o "default" acentuou

"É triste ver como, em Sabana Grande e Plaza Venezuela (Caracas), cada vez mais adolescentes andam no lixo à procura de coisas", desabafou Francisco Martins.

63º Num ano em que o PIB deverá recuar 15%, a Venezuela continuou a ser o país menos competitivo do mundo.
26 de Novembro de 2018 às 08:32
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Um ano depois do falhanço do pagamento da dívida pública, a situação económica da Venezuela tem-se agravado e são muitos os emigrantes portugueses e lusodescendentes que se queixam da degradação ainda mais acentuada da crise.

 

"A Venezuela tem feito alguns pagamentos, mas a situação no país está crítica", afirmou à Lusa o comerciante Francisco Martins, 35 anos.

 

Em Novembro de 2017, a Venezuela entrou em "default selectivo" ao não cumprir com alguns pagamentos a credores, entre eles os títulos da dívida da empresa petrolífera estatal.

 

Para Francisco Martins, "há que prestar mais atenção e dar mais importância ao aspeto social, inclusive entre a comunidade" porque " há uma degradação geral das condições de vida da população e inclusive uma perda acentuada dos valores e princípios que regem o ser humano".

 

Gerente de um pequeno restaurante de comida tradicional, o lusodescendente é confrontado todos os dias de "uma dezena de pessoas, na maioria a viver na rua, que lhe pedem uma "sandes para matar a fome, ou dinheiro para pagar o autocarro".

 

"É triste ver como, em Sabana Grande e Plaza Venezuela (Caracas), cada vez mais adolescentes andam no lixo à procura de coisas", desabafou.

 

"Não podemos culpar a crise e o Governo de tudo, porque também somos responsáveis por essa situação", afirmou.

 

"Por mais esforços e programas que (as autoridades) implementem isto (a crise) está a agravar-se, só com o trabalho conjunto será possível resolver ou minimizar a crise", acrescentou.

 

Manuel Castro, 40 anos, trabalha na área da informática e percebeu que a crise se acentuou «rapidamente» desde que a Venezuela entrou em 'default' e acusa os políticos e os economistas pela "degradação" do país.

 

"Trabalhei quase 20 anos numa empresa de seguros e há uma semanas houve redução (despedimentos) de pessoal, porque após a reconversão monetária (de agosto último) as coisas agravaram-se e as empresas não podem suportar" os salários, disse.

 

"Indignado", recorda que, com o que ganhava há um ano, conseguia manter a família (mãe, mulher e um bebé de 18 meses).

 

"Hoje, a indemnização que recebi da empresa, por 20 anos de trabalho, não chega nem aos 200 dólares, uma quantia insignificante", frisou.

 

Ainda em Caracas, mas à espera para terminar os estudos de engenharia mecânica para deixar o país, Marcos Baptista, 24 anos, aponta o dedo "aos políticos corruptos" do país, pela crise.

 

"Na imprensa lêem-se muitos negócios que foram feitos de maneira irregular. A Venezuela ficou sem dinheiro, mas tem pago as contas, lentamente. Onde estão os recursos de um país petrolífero? Há muita coisa por explicar e algum dia alguém terá que o fazer", disse.

 

Cansada da situação, a odontóloga Marta Rodríguez de Fontana vê sinais da crise diariamente no seu consultório, porque as pessoas não têm dinheiro para pagar os tratamentos.

 

"É preciso castigar os corruptos, mas também ajudar o país a ficar à tona de água. Nenhum programa económico terá sucesso se o primeiro que fazemos é criticar", explica.

 

Como exemplo, refere que as pessoas se queixam de que as ruas estão cheias de buracos, mas que recentemente o Governo activou o programa "Caracas bonita" e deu emprego a centenas de jovens para ir reparar as ruas e inclusive plantar árvores e flores.

 

"O programa começou e ninguém pensou que esses jovens estavam agora a trabalhar. O prioritário foi criticar. Dizer que em tempos de crise a prioridade não era reparar as ruas", concluiu.

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