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Marina Silva é candidata – e agora Brasil?

Apontada como uma "terceira via", as suas ideias permanecem em grande parte uma incógnita. Vai estar sob intensa pressão até Outubro. Ela e Dilma. Presidente no Brasil poderá continuar a escrever-se no feminino. Mas pode mudar de nome.

Bloomberg
Negócios 21 de Agosto de 2014 às 13:05
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Marina Silva foi confirmada nesta quarta-feira como candidata à Presidência pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), ocupando o lugar de Eduardo Campos, falecido há uma semana num acidente de avião em Santos. Feita a indicação oficial do PSB, a formalização da candidatura só ocorrerá nesta quinta-feira, 21 de Agosto, com o registo dos nomes dos novos candidatos: Marina, à presidência, e o deputado Beto Albuquerque, à vice-presidência.

 

A primeira sondagem publicada depois da morte de Campos, mas ainda antes da confirmação de Marina no seu lugar, saiu nesta segunda-feira, e significa más notícias para Dilma Rousseff, a candidata do Partido dos Trabalhadores (PT) que concorre a um segundo mandato nas eleições de Outubro.

 

Realizada pela Datafolha, a sondagem atribui 21% das intenções de voto a Marina , bem acima dos 8% com que Campos surgia na sondagem anterior. Dilma Rouseff mantém-se à frente, com 36%, e Aécio Neves (PSDB) cai para o terceiro lugar, com 20%.

 

Neste cenário, desenhado em cima da emoção da morte de Eduardo Campos que poderá desvanecer-se com o tempo, Dilma e Marina passariam à segunda volta, e aqui pode acontecer tudo: a candidata do PSB, com 47% de intenções de voto, surge inclusive à frente da presidente Dilma, mas a diferença é inferior à margem de erro da sondagem, pelo que se trata de um empate técnico.

 

Apontada como uma "terceira via" entre os candidatos à Presidência da República, as suas políticas e ideias permanecem em grande parte uma incógnita. A expressão, que tem sido usada tanto pela imprensa como pela própria, remete para figuras como Bill Clinton e Tony Blair que pouco parecem ter a ver com Marina, mas reflecte um conceito de reconciliação entre gestão liberal da economia e políticas sociais progressistas que tem sido o "chão" onde o PSB de Campos quer crescer. "Realmente não está claro se Marina representa isso. Acho que por enquanto a terceira via dela representa uma opção diferente com um conteúdo indefinido", analisa Anthony Pereira, director do Brazil Institute do King’s College de Londres, citado pela BBC.

 

Ex-deputada, ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente do primeiro governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já em 2010 Marina da Silva havia sido candidata à presidência do Brasil pelo Partido Verde. Ficou então em terceiro lugar, tendo recolhido cerca de 20 milhões de votos - uma marca surpreendente. Depois tentou lançar-se sozinha, investindo no lançamento do seu próprio partido, a Rede Sustentabilidade, e no slogan de não ser "nem de esquerda, nem de direita". Fracassou. A sua recente aliança com o PSB de Campos confirma que "ela como pessoa é, sem dúvida, uma terceira via. Agora, uma sustentação conceitual, programática, de planos de governo, é uma coisa que ainda estamos esperando para ver", sublinha Marcos Troyjo, director do BricLab, da Universidade de Columbia, em Nova York.

 

"Vai haver maior atenção ao que ela diz. É óbvio que para ela subir mais, e se manter lá em cima nas sondagens, não é uma coisa banal, porque as contradições vão começar a aparecer", alerta João Augusto de Castro Neves, diretor para América Latina da consultoria de risco político Eurasia, em Washington. "Tanto Dilma como Aécio já estão sofrendo este tipo de fiscalização há muito tempo já. A Marina agora vai sofrer isso", antecipa à BBC.

 

Quem é Marina?

  

A trajectória de Marina Silva é marcada por uma série de guinadas e recomeços, sendo frequentemente criticada de ter politicamente prosperado sempre na sombra de alguém: primeiro de Chico Mendes, depois de Lula da Silva e agora do falecido Eduardo Campos.

 

Baptizada Maria Osmarina Silva e Souza, Marina nasceu no seio de família pobre de seringueiros no Acre. Dos 11 irmãos, nenhum aprendeu a ler ou a escrever. Aos 16 anos, Marina resolveu ir para a capital do Estado, Rio Branco. Queria educação e tratamento para a hepatite. Refere a BBC que foi acolhida por freiras no convento das Servas de Maria e aí aprendeu a ler e escrever. Depois, deixou o convento e trabalhou como empregada doméstica na casa de uma família em troca de estadia, enquanto estudava.

 

A aproximou-se à política dá-se quando entra para a faculdade (estudou História), e o Partido Revolucionário Comunista (PRC) foi a sua primeira escolha. Depois conheceu o seringueiro e líder sindical Chico Mendes e trocou o PRC pelo PT. Foi eleita vereadora em 1988, com o maior número de votos em Rio Branco. No mesmo ano, Chico Mendes é assassinado, Marina surge lentamente como a sua mais próxima herdeira política, passando a ser ela a segurar a bandeira da preservação da Amazónia. Eleita primeiro deputada estadual, chega pouco depois ao Senado. Tinha 36 anos.

 

Em 2009, após mais de 20 anos de militância e depois de ter sido ministra do Ambiente de Lula da Silva, rompe com o PT. O seu " Plano Amazónia Sustentável" tinha sido passado a outro ministro. Lula e Dilma (então na chefia da Casa Civil) achavam as suas opiniões impossíveis de reconciliar com os interesses e o potencial económico da região.

 

Aos 56 anos, a agora candidata ao Palácio do Planalto assenta em duas estacas firmes: é ambientalista da linha dura, o que, para alguns, traduz uma visão tão preservacionista dos recursos naturais que pode ser um obstáculo ao ritmo de crescimento económico de que o Brasil precisa.

 

É também uma evangélica convicta, o que divide opiniões e afasta eleitores que discordam das suas posturas conservadoras contra o casamento homossexual e o aborto.

 

Por outro lado, tem um percurso que a aproxima de eleitores mais pobres, inserindo-se numa lógica parecida com a de Lula – a de quem veio de baixo, subiu a pulso e conhece os problemas do Brasil por andar na rua e correr o país.

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