Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Declarações fiscais de Trump mostram perdas de mais de mil milhões em dez anos

Uma investigação do The New York Times - que teve acesso às declarações fiscais de Trump - mostra que o atual presidente perdeu mais de mil milhões de dólares com os seus negócios entre 1985 e 1994.

Reuters
08 de Maio de 2019 às 13:30
  • ...

A narrativa de empresário de sucesso com que Donald Trump se apresentou ao mundo nas últimas décadas conhece agora um novo capítulo, que pinta um quadro bem diferente sobre a "arte do negócio" do atual presidente dos Estados Unidos.

 

Segundo uma investigação do The New York Times, que teve acesso às declarações fiscais de Trump, os negócios do líder da Casa Branca geraram perdas de mais de mil milhões de dólares entre 1985 e 1994.

 

Os números mostram que, em 1985, Trump reportou perdas de 46,1 milhões de dólares relativas aos seus principais negócios – casinos, hotéis e espaços de retalho em edifícios de apartamentos. As perdas continuaram nos anos seguintes, totalizando 1,17 mil milhões de dólares (cerca de 1,05 mil milhões de euros) nos dez anos até 1994.

 

De acordo com o The New York Times, que comparou os números de Trump com os dos cidadãos de maiores rendimentos dos Estados Unidos, nenhum contribuinte individual parece ter perdido tanto dinheiro como o atual presidente. Na verdade, as perdas nos seus principais negócios em 1990 e 1991 – mais de 250 milhões de dólares em cada um dos anos – foram mais do dobro do valor reportado pelos contribuintes com maiores perdas nesse período.

 

"Acima de tudo, Trump perdeu tanto dinheiro que conseguiu evitar o pagamento de imposto sobre o rendimento em oito dos 10 anos", concretiza a investigação do jornal americano.

 

1985: Onda de aquisições e a lista dos mais ricos

 

O jornal recorda que, em 1985, Donald Trump parecia estar "no topo do mundo". Tinha concluído os seus principais projetos – o Grand Hyatt Hotel, a Trump Tower e outro edifício de apartamentos em Manhattan, além de um casino em Atlantic City – e detinha a New Jersey Generals da United States Football League.

 

No entanto, ao longo desse ano, Trump contraiu dívidas de centenas de milhões de dólares para financiar uma onda de aquisições: um segundo casino (351,8 milhões de dólares), um hotel em Manhattan (80 milhões de dólares), a propriedade Mar-a-Lago na Flórida (10 milhões de dólares), um hospital de Nova Iorque que pretendia transformar num edifício de apartamentos (60 milhões de dólares) e uma zona pouco desenvolvida de linhas ferroviárias no lado oeste de Manhattan (85 milhões de dólares), onde pretendia construir um bairro com uma torre de 150 andares, projetada como a mais alta do mundo.

 

Nesse ano, e pela primeira vez, a Forbes colocou Trump na lista dos mais ricos dos Estados Unidos, com uma fortuna estimada de 600 milhões de dólares, que incluía o império imobiliário ainda detido pelo pai, Fred Trump.

 

À Forbes, o agora líder da Casa Branca disse, na altura, que o que havia feito fora "construir os edifícios mais bonitos nas melhores localizações".

 

Mas, segundo o jornal, o que as declarações fiscais mostram é que, com a sua enorme dívida e custos relacionados com outros investimentos, a fortuna de Trump já estava em rota descendente.  

 

Os custos anuais de manutenção da zona de caminhos ferroviários aumentariam para 18,7 milhões de dólares; Mar-a-Lago revelou-se um investimento não lucrativo durante mais de uma década; os apartamentos no antigo hospital não ficaram prontos para venda até 1990, e outro projeto residencial ficou parado durante vários anos.

 

Mais aquisições e muito mais perdas

 

De acordo com os dados obtidos pelo The New York Times, os anos seguintes ficaram marcados por mais aquisições e ainda mais perdas.

 

Em 1986, Trump adquiriu a participação dos seus parceiros na Trump Tower e no Trump Plaza Hotel and Casino, e um edifício de apartamentos em West Palm Beach por 43 milhões de dólares. Nesse ano, as perdas ascenderam a 68,7 milhões de dólares.

Cerca de duas semanas antes do crash da bolsa de 19 de outubro de 1987, gastou 29 milhões num iate e meses depois comprou o Plaza Hotel por 407 milhões de dólares. Os seus principais negócios registaram perdas de 42,2 milhões em 1987 e 30,4 milhões em 1988.

Em 1989, ano em que comprou as operações de shuttle da Eastern Airlines por 365 milhões, as perdas subiram para 181,7 milhões de dólares.

No ano seguinte, veio a abertura do Trump Taj Mahal Hotel and Casino, com mais de 800 milhões de dólares de dívida, grande parte da qual com juros muito elevados. Esta unidade não gerou receitas suficientes para fazer face à dívida, e acabou por absorver grande parte das receitas dos seus outros casinos, comprometendo ainda mais a sua situação financeira.

Como resultado, 1990 e 1991 representaram os piores anos do período analisado pelo The New York Times, com perdas acumuladas de 517,6 milhões de dólares. E nos três anos seguintes, quando Trump entregou propriedades aos seus credores para evitar a falência, os seus principais negócios perderam mais de 286,9 milhões de dólares.

A publicação destaca que, apesar das gigantescas perdas ao longo daqueles anos, Trump nunca enfrentou as habituais consequências - a começar pela quebra no padrão de vida – em parte porque a maioria do dinheiro pertencia a outros, a bancos e a obrigacionistas, que financiaram as suas aquisições.

A Casa Branca não se pronunciou sobre as informações, enquanto Charles Harder, um advogado do presidente, disse tratar-se de dados "muito pouco precisos".

As declarações de impostos de Trump foram um tema constante desde a sua entrada na corrida presidencial, já que o empresário rompeu com as normas recusando-se a divulgar as informações enquanto candidato presidencial, em 2016, e depois de ser eleito, alegando que não o poderia fazer enquanto as suas contas estivessem a ser auditadas.

 

O Partido Democrata tem, porém, insistido na necessidade de divulgação das declarações, como parte da sua investigação sobre possíveis conflitos de interesses.

Ainda esta segunda-feira, o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, voltou a recusar um pedido de acesso às declarações de Trump por parte do presidente do Comité de Meios e Recursos da Câmara dos Representantes.

Ver comentários
Saber mais Donald Trump impostos Estados Unidos declarações fiscais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio