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Unita: Portugal "foi usado" pelos governantes angolanos

Foi por Portugal que "passou boa parte da fuga de capitais" e o país foi usado como destino, ao nível bancário, de uma forma que deixou dúvidas sobre os benefícios daí resultantes, considerou o dirigente.

01 de Dezembro de 2019 às 10:54
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O presidente da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, afirmou que Portugal "foi usado" por governantes angolanos e defendeu que o relacionamento recíproco entre os dois países poderia ser mais vantajoso do que é atualmente.

Em entrevista à Agência Lusa, Adalberto da Costa Júnior, que viveu vários anos e se formou em Portugal, afirmou que a relação entre os dois países "nem sempre foi formatada por razões de valores", existindo em algumas ocasiões um grande uso político.

"Embora pareça que Portugal tem sido beneficiado acho que também foi vítima, em determinada altura, do uso que os governantes angolanos fizeram desta especificidade portuguesa", assinalou.

Foi por Portugal que "passou boa parte da fuga de capitais" e o país foi usado como destino, ao nível bancário, de uma forma que deixou dúvidas sobre os benefícios daí resultantes, considerou o dirigente.

"Alguma da deceção de hoje [de empresários em Angola] é consequência dessa realidade", admitiu.

O líder da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) lembrou o relacionamento e a proximidade histórica entre os dois países que faz com que Portugal não tenha "um competidor igual" apontando também os fatores de identificação cultural, como a língua oficial, mas também algumas dificuldades de uma relação que "nem sempre foi estável".

Adalberto da Costa Júnior entende que "o relacionamento que se tem hoje não é o que se poderia ter", e que "com mais abrangência, com mais perspicácia" o relacionamento recíproco poderia ser muito mais vantajoso do que o de hoje.

E explica como: "Acabando com os interesses pequenos e olhando para os interesses grandes que são os dos cidadãos e os dos Estados". No seu entender, os interesses partidários são limitativos e condicionam relações estáveis.

"Nós somos um país grande, com potencialidades extraordinárias que podiam oferecer ao mercado dos investidores portugueses oportunidades muito particulares que hoje não são reconhecidas", vincou o dirigente do partido fundado por Jonas Savimbi, apontando os "riscos de investimento como um fator de afastamento.


Culpa não é toda de José Eduardo dos Santos

O presidente da UNITA considera que a responsabilidade dos problemas de Angola não pertence só ao ex-presidente José Eduardo dos Santos, devendo ser partilhada com outros dirigentes do MPLA como o atual presidente João Lourenço.

"Os conflitos que existem hoje entre a liderança atual do pais e a anterior tem consequências para nós todos, mas não penso que não há responsabilidades partilhadas", declarou Adalberto da Costa Júnior em entrevista à Agência Lusa.

"A postura hoje é de que os problemas que existem são todos do [ex-presidente José Eduardo] dos Santos e sua família. [Isso] não é verdade, quem governa hoje tinha grandes responsabilidades ontem, não foram responsabilidades de curto prazo, foram responsabilidades de 30 e 40 anos na estrutura de governação e em lugares estratégicos", criticou.

Deu como exemplo o Presidente da República, que foi vice-presidente da Assembleia Nacional, ministro da Defesa, de secretário-geral do Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA), de secretário da Informação e membro permanente do Bureau Político, a estrutura de topo da tomada de decisões estratégicas.

"Não é possível um desvinculo de responsabilidade de uma pessoa que ocupou sempre um cargo de chefia estratégica", atirou, acrescentando que "a equipa que governa, é a mesma equipa que governou com dos Santos".

E questionou: "estão mal, não fazem parte dos milionários que beneficiaram desta gestão de Dos Santos? Pergunto-me se abdicaram das acumulações extraordinárias de capitais".

O líder da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) diz que "nenhum angolano tem dúvidas de que o combate à corrupção e direcionado" e adiantou que "quanto mais perto da família dos Santos se está mais risco há de ir parar aos tribunais", uma prática que "não abona em temos de credibilidade do regime e não traz ganhos na luta contra a corrupção" que não tem trazido os devidos retornos para o erário público.

A título ilustrativo, apontou os casos de Augusto Tomás, ex-ministro dos Transportes, "cuja prisão não resultou em benefícios para o Estado", bem como o do Fundo Soberano (gerido pelo empresário Jean-Claude Bastos de Morais e pelo filho do antigo presidente angolano, Zenu dos Santos, que aguarda ainda julgamento), cujo valor seria de 5,7 mil milhões de dólares, sendo a quantia assumida pelo Estado de apenas metade.

"E o resto?", perguntou, dizendo que este dinheiro não deve ser confundido com o repatriamento de capitais, já que estava depositado em bancos de vários países.

"Não há um kwanza, um dólar, que tenha vindo para o Orçamento Geral do Estado resultante de investimentos e de lucros do Fundo Soberano", denunciou o dirigente do Galo Negro, questionando como é que o Estado, "sem qualquer benefício, perdoa determinado gestor e o deixa ficar com lucros extremamente elevados", numa alusão ao processo de Jean-Claude Bastos de Morais.

O empresário suíço-angolano, presidente e fundador da Quantum Global, empresa que geria os ativos do Fundo Soberano de Angola, do qual foi presidente José Filomeno ('Zenu') dos Santos, que estava acusado de vários crimes, nomeadamente o de associação criminosa, de recebimento indevido de vantagem, corrupção e participação económica em negócios, foi colocado em liberdade depois de chegar a um acordo com as autoridades angolanas.

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