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Presidente de Angola desafia Rússia a dar o primeiro passo no caminho para a paz
Desafio lançado por João Lourenço no discurso de tomada de posse é diplomaticamente relevante, na medida em que Angola nunca condenou a Rússia pela invasão da Ucrânia.
O Presidente de Angola defendeu esta quinta-feira que a Rússia deve tomar a iniciativa de pôr fim ao conflito com a Ucrânia para evitar o escalar do conflito e abrir caminho à reforma do conselho de segurança das Nações Unidas.
"Tendo em conta a necessidade de se evitar o escalar do conflito, consideramos importante que as autoridades russas tomem a iniciativa de pôr fim ao conflito [na Ucrânia], criando assim um melhor ambiente para se negociar uma nova arquitetura de paz para a Europa e abrir caminho à tão almejada e necessária reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas", disse João Lourenço no seu discurso de posse, em Luanda.
Angola foi um dos 35 países do mundo que não condenaram a invasão russa da Ucrânia, numa votação na Assembleia Geral das Nações Unidas em março.
Hoje, o chefe de Estado disse que "a República de Angola tem sempre defendido a importância do recurso ao diálogo e a resolução pacifica dos conflitos, primando pelo respeito inequívoco do direito internacional".
No final de um longo discurso perante uma multidão em Luanda, em que apresentou as prioridades do novo Governo para o país, João Lourenço focou-se na diplomacia angolana, lembrando que Angola tem desempenhado, "com algum sucesso", um papel na resolução de conflitos nas regiões da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e Conferência Internacional para a Região dos Grandes Lagos.
Exemplificou com o caso da República Centro-Africana, o conflito fronteiriço entre o Ruanda e a República Democrática do Congo ou ainda entre o Uganda e o Ruanda.
"Temos procurado fazer modestamente o nosso melhor, uma vez que a solução depende sempre da vontade política" das partes envolvidas, lembrou João Lourenço.
O verdadeiro vencedor das eleições e as promessa económicas
Na sua intervenção, o chefe de Estado de Angola prometeu "ser o Presidente de todos os angolanos" e promover o desenvolvimento económico e o bem-estar da população, ao discursar na cerimónia da sua posse.
"Ao assumir, por mandato do povo soberano, as funções de Presidente da República de Angola, declaro por minha honra respeitar a Constituição e a Lei, ser o Presidente de todos os angolanos e governar em prol do desenvolvimento económico e social do país e do bem-estar de todos os angolanos", disse João Lourenço.
Reeleito com 51,17% dos votos, numa eleição contestada judicialmente pela oposição, mas entretanto validada pelo Tribunal Constitucional, João Lourenço felicitou o povo angolano, que considerou "o real e verdadeiro grande vencedor" das eleições de 24 de agosto, que lembrou já serem consideradas "as mais disputadas eleições gerais da história da jovem democracia angolana".
Elogiou os angolanos por fazerem "as melhores opções" e escolherem "com muita responsabilidade o futuro do seu país".
"Ao elegerem o MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola] e o seu candidato, apostaram na continuidade como forma segura de garantir a paz, a estabilidade e o desenvolvimento económico e social do país", afirmou, felicitando também todos os partidos e coligações pela sua participação nas eleições, "o que contribuiu para o fortalecimento da nossa democracia".
Sobre o seu segundo mandato, que agora começa, o Presidente prometeu dedicar todas as suas forças e atenção à "busca permanente das melhores soluções para os principais problemas do país, a começar pelo setor social e pelo bem-estar da população.
"Continuaremos a investir no ser humano como principal agente do desenvolvimento, na sua educação e formação, nos cuidados de saúde, na habitação condigna, no acesso à água potável e energia elétrica, no saneamento básico", disse.
E prometeu também incentivar e promover o setor privado da economia, "para aumentar a oferta de bens e serviços de produção nacional, aumentar as exportações e criar cada vez mais postos de trabalho para os angolanos, sobretudo para os mais jovens".
"O cidadão em geral, o trabalhador e o jovem em particular, continuam no centro das nossas atenções", disse João Lourenço, prometendo trabalhar para que a economia angolana "possa garantir ao trabalhador um salário condigno e um poder de compra que seja compatível com a capacidade de aquisição dos bens essenciais de consumo da cesta básica".
Prometeu "dar continuidade e concluir" infraestruturas como o porto de águas profundas do Caio em Cabinda, os aeroportos de Cabinda, de Mbanza Congo e o Internacional António Agostinho Neto em Luanda, as refinarias de petróleo de Cabinda, do Soyo e do Lobito, entre outros, e comprometeu-se a construir sistemas de captação, tratamento e distribuição de água do BITA e da Quilonga para solucionar o défice de água de Luanda, assim como os canais e barragens no âmbito da luta contra os efeitos da seca no sul de Angola.
A igualdade do género foi outro tema abordado no discurso do chefe de Estado, que defendeu a igualdade de oportunidades e promoção da mulher nos mais altos cargos do Estado, nos cargos públicos e de liderança em diferentes setores da sociedade angolana.
E insistiu na questão da prevenção e combate contra a corrupção e a impunidade, "que ainda prevalece".
"Vamos todos trabalhar na educação das pessoas para a necessidade da mudança de paradigma, de vícios, más práticas e maus comportamentos instalados e enraizados há anos", afirmou.
João Lourenço disse ainda contar com "a participação e o escrutínio de todos", desde os deputados eleitos, as organizações não-governamentais, classes profissionais, sindicatos, do setor empresarial, académicos, igrejas e ‘media’.
Prometeu também que Angola continuará a trabalhar para proteger o planeta das alterações climáticas, nomeadamente com programas de educação ambiental com vista a desencorajar a desflorestação e as queimadas, com ações concretas de redução do consumo dos derivados do petróleo e da utilização da lenha para consumo doméstico ou industrial e com investimento em fontes limpas de produção de energia como barragens, parques fotovoltaicos e projetos de hidrogénio verde.