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“Não esperávamos que a nossa missão da Sonangol terminasse em Novembro de 2017”
A empresária angolana revela que não estava à espera de ser logo exonerada da liderança da petrolífera pelo actual Presidente, João Lourenço, e explica porque afastou Carlos Saturnino da presidência da Sonangol Pesquisa & Produção.
A empresária angolana revela que não estava à espera de ser logo exonerada da liderança da petrolífera pelo actual presidente, João Lourenço, e explica porque afastou Carlos Saturnino da presidência da Sonangol Pesquisa & Produção.
Se fosse hoje aceitava ser presidente da Sonangol?
Acredito que a Sonangol hoje está numa posição diferente. Apesar de só termos feito um mandato de dois e não de cinco anos, conseguimos muito. A empresa tem uma dívida muito inferior à que tinha. Tinha uma dívida de quase 15 mil milhões de dólares, agora tem de quatro mil milhões. Ou seja, nestes dois anos conseguimos aplicar um programa de reestruturação e pagamento de dívida acelerado que permite hoje à empresa já ter capacidade de investir. Também acredito que, no tempo em que tivemos na empresa, cortámos muitos custos ligados à operação, desde os navios que transportam para as plataformas todo o material de que estas necessitam para trabalhar. Fizemos cortes de custos muito significativos na parte logística e em aéreas como os seguros. Acredito que deixámos uma empresa muito melhor do que a que encontrámos.
Volto à questão. Atendendo ao que disse, esperava ser exonerada?
Nós acreditávamos que podíamos desenvolver mais trabalho do que aquele que havíamos feito. Não esperávamos que a nossa missão terminasse em Novembro de 2017. Acreditávamos que possivelmente não ficaríamos os cinco anos mas que nos seria dada a possibilidade de fazer mais e levar a empresa um pouco mais longe. Acredito que, se o programa de reestruturação continuar e for cumprido, a empresa, no final de 2018, pode outra vez ter a força que um dia teve. Quando entrou na Sonangol, em Junho de 2016, tomou a decisão de exonerar Carlos Saturnino do cargo de presidente da comissão executiva da Sonangol Pesquisa & Produção.
Na altura, a justificação para o afastamento de Carlos Saturnino foi a de que a decisão estava "alinhada com a postura do novo conselho de administração da petrolífera, de ser consequente com os princípios de rigor e transparência que baseiam a sua gestão". Há alguma relação entre esse facto e o que agora está a acontecer?
A Pesquisa & Produção é a principal empresa do grupo Sonangol, a que detém as participações nos blocos. É também a empresa que tem a possibilidade de operar e investir em blocos. Ora, é, sem dúvida, a empresa que necessita de mais atenção dentro do grupo. Quando chegámos em Junho de 2016 não tomei a decisão de exonerar Carlos Saturnino. Fizemos primeiro um diagnóstico e depois percebemos onde existiam debilidades e que empresas do grupo eram as mais frágeis e precisavam de maior intervenção. No caso da Pesquisa & Produção, o que foi detectado é que a empresa tinha muitas debilidades na parte de gestão. Ou seja, tinha perdido em 2015 cerca de 859 milhões dólares. Era um número muito elevado. Por outro lado, tinha problemas na sua operacionalidade. Estava sobredimensionada. Existiam muitas direcções, muitas linhas de reporte, os processos eram lentos, a empresa não era funcional e tomámos a iniciativa de redesenhar e reestruturar a empresa, para transformar a Sonangol Pesquisa & Produção numa empresa muito mais parecida com uma empresa internacional operadora de petróleos. Para tal redesenhámos completamente a linha de gestão, com uma gestão mais pequena, mais enxuta, mais ágil. O conselho de administração da Sonangol Pesquisa & Produção, tanto para 2015 como para 2016, teve muitas dificuldades em fechar e apresentar um orçamento. Ou seja, trabalhava sem um orçamento. Isso era uma situação muito preocupante e não podíamos continuar assim.
Essa foi a razão para o afastamento de Carlos Saturnino?
Isso foi em Dezembro de 2016, depois de termos feito o diagnóstico, a avaliação completa da empresa. Não foi uma medida tomada no dia em que tomámos posse. Foi feita depois de uma avaliação bastante profunda e de um trabalho muito grande de reorganização da própria Sonangol Pesquisa & Produção. E os novos quadros que entraram com a comissão executiva eram jovens engenheiros angolanos que vinham também do sector petrolífero, de empresas como a Chevron e a Esso, e que passaram a fazer parte dessa comissão executiva, tendo em um ano virado os resultados, os quais passaram a ser positivos.