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Angola terá maior contração da economia dos últimos 38 anos

O Cedesa, entidade de análise, considera que o Orçamento do Estado revisto mostra que Angola terá "a maior contração dos últimos 38 anos", mas que o preço estimado do petróleo dá margem ao Governo para reformas.

Reuters
21 de Julho de 2020 às 09:59
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"Na verdade, segundo o relatório de fundamentação do OGE revisto, elaborado pelo Ministério das Finanças, projeta-se a maior contração da economia angolana dos últimos 38 anos, com o PIB a contrair -3,6%", afirma o Cedesa, numa análise ao OGE revisto de Angola, a que a Lusa teve acesso.

Porém, o grupo de académicos portugueses e angolanos que integram aquela entidade, consideram que "se o OGE revisto prevê um preço de 33 dólares por barril [de petróleo] e este vai estando acima dos 40 dólares, podendo subir" isto "quer dizer que existe alguma margem de manobra para o Governo" angolano poder fazer reformas necessárias.

O valor de 33 dólares por barril de petróleo, principal fonte de receita da economia angolana, na base do qual foi traçada a revisão do OGE, é um valor "meramente indicativo, pois muitos dos contratos petrolíferos já estão com preços anteriormente estabelecidos e não dependem de oscilações", salienta-se no relatório.

Além disso, "parece existir uma tendência para ter o preço acima dos 40 dólares, ao mesmo tempo que, no curto prazo, não se vê razão para não começar a existir um aumento da procura do petróleo ligado à recuperação das economias mundiais".

A tudo isto liga-se ainda "a instabilidade cada vez mais intensa no Golfo Pérsico e os problemas na Venezuela", enumeram os académicos no relatório.

Todos estes fatores conjugados "poderão contribuir para alguma pressão no sentido da subida do preço do petróleo", concluem no documento, alertando, porém, que essa subida "não deverá ser tão acentuada que volte a inundar Angola de petrodólares".

De acordo com o OGE, a grande quebra do PIB é provocada pelo petróleo e, "por ironia", são os outros setores da economia angolana que acabam por conter a queda, realça a análise.

Assim, o Cedesa, refere que o PIB do setor de hidrocarbonetos (petrolífero e gás) angolano irá contrair em 7,0%, enquanto a taxa de crescimento média projetada para os demais setores se situou em -2,1%, para considerar que "facilmente se percebe que a grande quebra do PIB é provocada pelo petróleo e que são os outros setores que ainda seguram a queda".

No relatório, com o título: "A revisão do Orçamento Geral e a reforma da economia angolana", o Cedesa destaca ainda as projeções que apontam para um défice fiscal equivalente a 4,0% do PIB, o que representa um agravamento de 5,2 pontos percentuais face ao valor previsto no OGE inicial para este ano.

Deste modo, "o saldo primário deverá estar em torno dos 2,2% do PIB, um valor inferior ao inicialmente projetado em 4,9 pontos percentuais. O atual valor do Orçamento reflete uma redução de 15,7% relativamente ao OGE 2020 inicial".

"Naturalmente, um OGE mais pequeno, reflete uma economia mais pequena", sublinha o Cedesa.

Um outro aspeto que os académicos destacam no documento é o facto de o Estado passar a gastar mais com o setor social do que com os juros da dívida pública, "não tanto por Angola ter aumentado as despesas sociais, mas de se ter diminuído o pagamento da dívida pública, resultado da negociação com a China, que, aparentemente, concedeu uma moratória de capital e juros por três anos".

Assim, "quer o preço orçamentado para o petróleo, quer a posição da China permitem que Angola, apesar da intensa recessão económica em que se encontra, ainda tenha margem de manobra para definitivamente reformar a sua economia", concluem.

Quanto às reformas que se impõem em Angola, o relatório aponta a "erradicação da grande corrupção, liberalização do acesso aos mercados, promoção efetiva do investimento privado, intensificação da produção interna, transferências diretas sujeitas a condição educativa ou de saneamento para as populações mais desfavorecidas".

O Cedesa é uma entidade internacional dedicada ao estudo e investigação de temas políticos e económicos da África Austral, em especial de Angola, que nasceu de uma iniciativa de vários académicos e peritos que se encontraram na ARN (Angola Research Network).
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