Notícia
Frente-a-frente entre Nunes da Silva e Cabaço Martins
As mesmas perguntas. Duas visões.
As mesmas perguntas. Duas visões.
1. Acha que o Estado deve reduzir o seu peso no sector dos transportes? Como?
2. Com a transferência de funções para o privado, o utente pode ficar a ganhar?
3. É esta a melhor altura para repensar os transportes?
4. As empresas devem manter-se na esfera pública ou ser privatizadas/concessionadas?
Nunes da Silva, Vereador da Mobilidade da Câmara de Lisboa
"A gestão privada não faz milagres"
1. O papel do Estado nos transportes não deve reduzir-se e, acima de tudo, o Estado não deve nunca esquecer-se de ser o regulador por querer sair das empresas de transportes. Vejo como positiva a contratualização, pondo o público em pé de igualdade com o privado.
2. Não, porque há serviços que deixarão de ser feitos. Se tivermos em conta o que os representantes dos transportes privados apresentaram no grupo de trabalho que o Governo encarregou de estudar a reformulação do sector Lisboa Norte, [o utente] ficava sem serviço e o metro encerrava às 23h. E os preços aumentam claro, como se vê pela comparação entre a CP e a Fertagus.
3. Está-se a viver uma situação real de crise financeira que serve de justificação para tudo, mesmo tendo em conta os juros agiotas que estamos a pagar. Mas acho que, acima de tudo, isto passa por questões ideológicas.
4. A gestão privada não faz milagres. Tem sempre que receber compensações do Estado. E como se vê pelo caso da Rodoviária Nacional pode piorar o serviço e os preços para os utentes. Os municípios deviam entrar na gestão dos transportes rodoviários urbanos. E usar as receitas de estacionamento e de IMI para financiar os transportes.
Cabaço Martins, Presidente da ANTROP
"O Estado deve deixar de operar transportes"
1. Sim, claramente. O papel do Estado na gestão dos transportes públicos é na organização e regulação, não na operação. Deve deixar de operar e limitar-se ao seu papel de regulador do sistema. Deve, por isso, concessionar o serviço público - garantido actualmente pelas empresas públicas de transporte - ao sector privado da economia. As empresas privadas do sector gerem melhor e a mais baixo custo. Por outro lado, e na situação actual, o Estado confunde o seu papel de regulador com o de operador.
2. Pode, se se resolver o problema do financiamento do sistema de transportes. O sistema não pode ser exclusivamente financiado pelas tarifas. Por toda a Europa as tarifas cobrem cerca de 50% dos custos do transporte. Os restantes 50% terão de ser cobertos por outras fontes. Só assim poderemos ter transportes públicos melhores. Mas por princípio as empresas privadas actuam no mercado de forma mais eficaz, ouvem mais o cliente e têm mais liberdade de actuação.
3. É sempre boa altura. No entanto, e perante a situação que o sector vive, a altura não podia ser melhor para se mudar de paradigma.
4. As empresas públicas deverão cessar a sua actividade operacional, e o serviço que elas prestam deve ser concessionado ao sector privado.