Notícia
FMI: Portugal tem de consolidar política orçamental para reconstituir almofada financeira
O Fundo Monetário Internacional, na sua análise preliminar à Zona Euro, focalizou-se, nomeadamente, na política orçamental, que deve ser delineada à medida das circunstâncias de cada país. Relativamente a Portugal, considera que se deve consolidar gradualmente, de modo a recuperar amortecedores.
A política orçamental na Zona Euro deve ser feita à medida das circunstâncias específicas de cada país, considera o Fundo Monetário Internacional na sua missão de análise aos Estados-membros do bloco da moeda única europeia.
No relatório preliminar divulgado esta quinta-feira, 15 de Junho, o organismo liderado por Christine Lagarde destaca que a margem orçamental não está distribuída de forma equilibrada na Zona Euro, sendo inexistente onde as lacunas na produção são maiores.
E diz mais: "os países com dívidas elevadas que têm pouca ou nenhuma margem orçamental, muito especialmente Itália e Portugal mas também França, devem consolidar-se gradualmente, de uma forma que estimule o crescimento, para reconstituírem almofadas financeiras, aproveitando a recuperação e a janela ainda existente da polícia monetária acomodatícia".
No entender do Fundo, "os países que já estão a operar em plena capacidade poderão ajudar no processo de cura, nomeadamente aceitando uma inflação acima de 2% durante um período prolongado e promovendo mais procura interna".
Feitas as contas, salienta o FMI, "as nossas recomendações a título orçamental, se aplicadas, resultariam numa situação orçamental neutra" ao nível da Zona Euro em 2018, o que é adequado à luz da retoma".
Retoma ganhou dinâmica
Sobre a retoma, o FMI destaca que esta "ganhou dinâmica, com um círculo virtuoso de consumo privado e criação de emprego". E este cenário, refere o Fundo no seu relatório de avaliação ao bloco do euro, "constitui uma excelente oportunidade para fazer avançar reformas arquitecturais de modo a aprofundar a União Económica e Monetária".
Ao mesmo tempo, "são necessárias reformas estruturais, ao nível específico dos Estados-membros, de modo a estimular o crescimento da produtividade, reduzir os fossos de competitividade e ajudar a revitalizar a convergência dos rendimentos" no bloco do euro, acrescenta.
Além de a recuperação da Zona Euro estar a ganhar força, está também a ficar cada vez mais abrangente, refere o FMI neste documento. "A dispersão das taxas de crescimento entre países está agora no nível mais baixo desde a introdução do euro. Este progresso está a ser conseguido a nível interno, motivado pela procura doméstica e sustentado por uma revitalização do crédito – os frutos de anos de reparação dos balanços, de políticas acomodatícias e de construção de instituições".
No entanto, "a inflação e as perspectivas para a inflação continuam moderadas, com a inflação ‘core’ em níveis indesejavelmente baixos", salienta.
Aprofundar a integração
Na opinião do FMI, a solidez da retoma e o contexto político favorável constituem uma oportunidade para aprofundar a integração. "Deve renovar-se o compromisso de concluir a união bancária, avançar com a união dos mercados de capitais e criar uma capacidade orçamental comum. Estes projectos teriam benefícios muito abrangentes para os Estados-membros, ao mesmo tempo que reforçariam a resiliência da união monetária".
Ainda no que diz respeito à união dos mercados de capitais, os especialistas do Fundo consideram que o Brexit pode ser uma boa oportunidade para avançar com essa ideia.
"A migração de actividades financeiras multifacetadas de Londres para o continente poderá resultar nalguma perda de economias de escola e ter também algum impacto – provavelmente modesto – nos custos de transacção", de modo que "os recursos e capacidades de supervisão devem ser reforçados em conformidade". E isto, segundo o FMI, daria impulso à união dos mercados de capitais, promovendo fontes de financiamento não-bancárias e intensificando a partilha de risco entre os privados.
O Brexit colocará muitos desafios, podendo pesar no sentimento dos investidores e podendo também perturbar as cadeias de fornecimento distribuídas entre o Reino Unido e a Europa Continental, advertem ainda.
"Houve poucas resoluções bancárias"
Entre vários outros aspectos analisados mais a fundo pelo FMI está a união bancária. De acordo com os especialistas do Fundo, "criar um sistema bancário unificado exige que se conclua a união bancária".
E ainda no que concerne a banca, o relatório sublinha que a baixa rentabilidade dos bancos requer uma acção concertada, incluindo medidas de resolução quando necessário. "Os bancos têm de se reestruturar e consolidar, descontinuando as unidades de negócio não rentáveis, desenvolvendo novas fontes de rendimento que não provenham de juros e racionalizando os níveis de pessoal e as redes das suas agências".
"Apesar de alguns grandes bancos, confrontados com a pressão do mercado, terem recentemente procedido a aumentos de capital e melhorado a sua rentabilidade, as debilidades estruturais continuam a penalizar os lucros em muitos bancos de pequena e média dimensão", frisa o FMI.
No entender do Fundo Monetário Internacional, "houve poucas resoluções bancárias, ou mesmo fecho de bancos, o que demonstra uma relutância, por parte das autoridades nacionais, em aplicar integralmente a Directiva sobre Recuperação e Resolução Bancária, bem como uma falta de coordenação entre as várias instituições ao nível da Zona Euro que estiveram envolvidas".
(notícia actualizada à 01:14)