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"Expectativas" dos portugueses preocupam Passos e Costa
Orçamento do Estado para 2014 pode levar a "novo choque de expectativas", avisa o primeiro-ministro.
Os problemas que estão a ocorrer no ajustamento da economia portuguesa passam, em parte, pela quebra das expectativas dos portugueses. Esta visão é partilhada pelo chefe de Governo, Passos Coelho, e pelo Governador do Banco de Portugal, Carlos Costa. E levou Passos a lançar um apelo, esta terça-feira: atenção às "simplificações enganadoras".
"O tipo de recessão que enfrentámos foi aumentado pela expectativa negativa que se gerou em relação ao futuro e isso traduziu-se num nível de poupança mais elevado do que aquele que estava inicialmente pensado", o que resultou na forte quebra do consumo interno, lembrou o primeiro-ministro na sessão de abertura do 5º Congresso Nacional da Ordem dos Economistas. Estas palavras serviram para enquadrar o aviso e o pedido que fez de seguida.
Momentos antes, o Governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, tinha dito que este programa de ajustamento, ao contrário dos de 78/79 e 82/83, fica marcado pela "queda das expectativas" que levou à quebra da procura doméstica.
Desenvolvimento da economia terá de ser sustentável
Na abertura do congresso dedicado ao tema "Reiventar Portugal na Nova Economia Global", o primeiro-ministro repetiu ainda que é preciso apostar no desenvolvimento sustentável "que não dependa de endividamento exorbitante, nem do desvio artificial de recursos para sectores fechados", disse Passos Coelho.
Também aqui as opiniões dos dois responsáveis convergiram. O governador Carlos Costa disse que é fundamental "assegurar um crescimento económico sustentável num contexto de coesão social, o que implica necessariamente conjugar um aumento de produtividade com a criação de empregos nos sectores de bens transaccionáveis".
O primeiro-ministro avisou também que o ajustamento não terminou e que é preciso preparar o futuro pós-troika. "Precisamos de ir mais longe na redução permanente da despesa pública", sublinhou Passos Coelho, acrescentando que uma reestruturação da dívida "criaria problemas muito mais graves". Alertou ainda para os problemas que resultariam de eventuais modalidades de mutualização da dívida a nível europeu, como a perda de autonomia das economias.
"Boa viagem" foi o que o analista e director da Academia Europeia de Berlim, Eckart Stratenschulte, desejou, em tom irónico, a quem quiser sair da Zona Euro. Segundo o analista só dois países não poderão fazê-lo sob o risco de comprometer o projecto da união monetária: a Alemanha e a França. Esta reacção surgiu depois do economista Félix Ribeiro, sem nunca ter defendido explicitamente a saída de Portugal, ter dito que "esta moeda única não se aguenta na globalização" e que Portugal, enquanto país pequeno, tem de ter "coragem" para dizer não, sob pena de ficar "triturado completamente".