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Carlos Monjardino defende programa cautelar e reestruturação da dívida
O presidente da Fundação Oriente, Carlos Monjardino, duvida que Portugal tenha condições para uma saída limpa do programa de ajustamento, defendendo "um programa cautelar", a reestruturação da dívida e mais investimento que permita colocar a economia a crescer.
"Se fosse possível sem cautelar, seria sem cautelar, mas duvido que tenhamos condições", afirmou em entrevista à Lusa Carlos Monjardino, considerando que por uma questão "de segurança para o país" será melhor "com cautelar".
Um crescimento da economia "inferior a 3% ou 4% ao ano" não permite ao País criar o mínimo de emprego e resolver alguns problemas, sociais e outros, como o das contribuições para a Segurança Social, lembra o presidente da Fundação Oriente, comentando, ao mesmo tempo, as previsões do Banco de Portugal que apontam para um crescimento da economia de 1,2% este ano, de 1,4% em 2015 e 1,7% em 2016.
"Não podemos ter cada vez mais pessoas desempregadas ou reformadas e não se gerar mais emprego. É impossível. E 1,4% de crescimento não é nada. Ficamos todos contentes, pois é melhor crescer do que não crescer e entrarmos em recessão, mas não chega, nem chegará, nem chegaria, mesmo que fosse 5% ao ano. Teríamos de estar aqui não sei quantos anos a crescer mais do que isso para podermos equilibrar as nossas contas públicas", lamenta o gestor.
"Não há milagres, e para sabermos isso não é preciso ser economista, ou financeiro, ou matemático. É preciso saber só fazer contas de aritmética básica (...)", acrescentou.
Assim, Monjardino defende que para sair da crise Portugal precisa de uma receita semelhante à que defendem os subscritores do manifesto dos 74, ou seja, "alongar o período de pagamento da dívida e manter um grande controlo sobre a despesa pública".
E em termos de controlo da despesa defende que ainda podem ser feitos esforços porque ainda há "algumas gorduras" e diz-se convencido "de que ainda há institutos que se calhar estão a fazer coisas que não servem para nada ou então não estão a fazer mesmo nada".
Pelo contrário o gestor diz não estar de acordo "que se corte no funcionalismo público à maluca, nomeadamente na saúde e até nas finanças, e depois não se dê um serviço digno à população".
Monjardino defende ainda que é preciso "uma política muito, muito, muito agressiva ao nível da obtenção de investimento estrangeiro em Portugal, usando as pessoas todas que neste país têm conhecimentos ao nível de um e outro país e não recorrendo só aos funcionários públicos e às pessoas que estão metidas na máquina do Estado. Tem que se procurar privados que queiram ajudar a trazer para cá investimento. E temos de bater a portas como o Médio Oriente".
Mais investimento público, mesmo que isso represente mais endividamento, é na opinião de Monjardino outra componentes essencial de uma receita para sair da crise.
"Não pode deixar de se ter investimento público forte. O país é pobre e também não tem fortunas grandes comparadas com as da Europa, os grupos estão a maior parte deles muito alavancados, porque não têm muito capital", assim, "tem de ser a parte pública e os privados a puxar pela economia" afirmou, considerando que o país também não pode continuar a vender "o pouco que ainda" tem aos estrangeiros.
"Custa-me por exemplo ver os correios portugueses partirem como partiram e, porventura, com a TAP vai acontecer qualquer coisa parecida, e a ANA que já foi. Não concordo com isto", disse.
Na opinião do presidente da Fundação Oriente, "o Estado tem de ter sempre a possibilidade de intervir de maneira forte em alguns sectores. Ao nível, por exemplo, da distribuição de água, de electricidade, nas coisas que são de facto importantes e transversais em relação à população. Agora chegar aqui e despachar tudo e vender tudo de qualquer maneira não faz sentido".
E concluiu, em relação, o assunto privatizações, "a minha posição aproxima-se bastante da do PCP ou do Bloco de Esquerda, mais do que da do PS".