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Wikileaks publica conversas do FMI sobre estratégia para impor mais austeridade na Grécia

A Wikileaks publicou a alegada transcrição de uma teleconferência entre dois responsáveis do FMI, na qual discutem a estratégica para a Grécia aceitar mais cortes orçamentais e para levar a Alemanha ceder a uma nova reestruturação da dívida. O FMI já reagiu.

Miguel Baltazar/Negócios
02 de Abril de 2016 às 15:26
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O documento divulgado por aquele site identifica os interlocutores como o director de assuntos para a Europa do Fundo Monetário Internacional (FMI), Poul Thomsen, e a chefe da missão da instituição na Grécia, Delia Velculescu, tendo a conversa acontecido a 19 de Março último.

Nesta conversa, ambos os responsáveis mostram-se muito exasperados com o ritmo lento das negociações quanto às reformas a concretizar pelos gregos e a pouca pressão por parte das instituições e parceiros europeus, e falam sobre a estratégia a adoptar nas negociações do terceiro programa de resgate para o FMI fazer valer a sua posição.

Do que se compreende das transcrições, a instituição liderada por Christine Lagarde defende metas orçamentais mais exigentes, que implicam maiores cortes de despesa, como um excedente primário orçamental de cerca de 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB), e propõe um alívio da dívida grega.

Durante a conversa, Poul Thomsen lembra que, no passado, os gregos só aceitaram ceder às exigências quando "estavam prestes a ficar sem dinheiro e a entrar em incumprimento".

"E isso é provavelmente o que vai acontecer de novo. E, neste caso, arrasta-se até Julho e claramente os europeus não vão ter quaisquer discussões durante o mês anterior ao 'Brexit'", acrescentou o responsável do FMI, em referência ao referendo britânico marcado para 23 de Junho, que vai decidir sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia.

Thomsen fala ainda da reestruturação da dívida grega, que há bastante tempo o FMI defende, e da forma como levar a Alemanha a aceitá-la.

"Basicamente, nós a certa altura dizemos. ‘Olhe, senhora Merkel, tem um desafio e tem de pensar o que lhe traz mais custos. Ir em frente sem o FMI e, aí o parlamento alemão irá questionar ‘O FMI não participa?’, ou escolher o alívio da dívida que nós pensamos que é necessário para estarmos dentro’", afirmou, citado na transcrição disponibilizada pela Wikileaks na sua página na internet.

Na sequência da divulgação destes documentos, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, convocou já hoje uma reunião de emergência, com a participação dos ministros dos Negócios Estrangeiros, Nikos Kotzias, e das Finanças, Euclides Tsakalotos.

"Não vamos permitir que façam jogos em detrimento do nosso país", disse uma fonte do Governo grego à agência de notícias grega Amna.

Esta segunda-feira são retomadas as negociações entre os credores internacionais da Grécia, após uma pausa de duas semanas, estando previsto que Delia Velculescu viaje hoje mesmo para a capital grega.

O terceiro programa de resgate à Grécia foi aprovado no verão de 2015, sendo que em Janeiro deste ano o Governo grego aceitou o envolvimento do FMI.

A Alemanha tem insistido na participação do FMI, uma vez que considera que esta será mais exigente com a Grécia na execução de reformas.

Para aceitar estar financeiramente envolvido no resgate, no valor de 86 mil milhões de euros, o FMI – que actualmente presta assistência técnica - exige de Atenas várias reformas, nomeadamente nas pensões, mas também que a Zona Euro aceite a renegociação da dívida pública do país.

O FMI já fez um comunicado, dizendo que não comentará a divulação de discussões internas, mas acrescenta que "já dissemos claramente o que pensamos ser necessário para uma solução duradoura para os desafios da economia da Grécia, sendo um deles o que coloca a Grécia no caminho de um crescimento sustentável suportado por um convincente programa de reformas que coincida com um alívio da dívida dos parceiros europeus. As reformas necessárias e os objectivos precisam de estar baseado em credíveis pressupostos. Como já dissemos, há um 'trade off' entre reformas que sejam possíveis de fazer e o montante de alívio da dívida necessário".

(Notícia actualizada às 16:40 com comentário do FMI)

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