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Tusk: “Receio o contágio político da crise grega. Não o contágio financeiro”

Donald Tusk acredita que está a surgir na Europa um novo espírito ideológico, "algo parecido com uma impaciência generalizada", que é muito arriscado. O presidente do Conselho Europeu admite que "ninguém está satisfeito" com o acordo, e que é preciso continuar as negociações, evitando os temas como o da humilhação - muito sensíveis na Europa, especialmente olhando para a história da Alemanha.

Reuters
17 de Julho de 2015 às 11:25
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Numa longa entrevista ao Financial Times e seis jornais europeus, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, admitiu recear não o contágio financeiro da crise grega, mas sobretudo o contágio ideológico e político. Tusk acredita que, na Europa, assiste-se ao surgimento de novas ideologias e um novo espírito intelectual que pode ser "muito arriscado" para o Velho Continente. 

 

"Estou realmente com medo desse contágio ideológico ou político, não do contágio financeiro, desta crise grega. A situação actual na Grécia, incluindo o resultado do referendo e das últimas eleições gerais, mas também esta atmosfera - temos um novo debate público na Europa. Tem tudo a ver com novas ideologias", afirmou o político polaco.

 

O presidente do Conselho Europeu vê com preocupação o novo "espírito intelectual", que acredita ser "arriscado" para a Europa, especialmente a "ilusão da esquerda radical" de que pode construir uma alternativa à visão europeia tradicional da economia. "Não tenho dúvidas de que a frugalidade é um valor absolutamente fundamental e uma razão pela qual a Europa é a parte mais próspera do mundo. O meu medo é que esse contágio ideológico seja mais arriscado do que o financeiro", acrescentou.

 

Tusk descreve essa nova realidade não como um estado de espírito revolucionário, mas antes "algo parecido com uma impaciência generalizada". "Quando a impaciência é uma experiência social de sentimento, e não individual, isso é o prelúdio de revoluções", antecipa o político, que se confessa "impressionado" com a aliança táctica entre a esquerda e a direita radical.

 

"A discussão sobre a Grécia, significa uma discussão contra a austeridade, uma discussão contra a tradição europeia, anti-alemã, de certa forma. E está a provocar entusiasmo de ambos os lados. É bastante simbólico", refere Tusk.

 

"Há uma grande falta de entusiasmo. Ninguém está satisfeito" com o acordo

 

Depois de vários meses de negociações em torno de uma saída para a crise da Grécia, Tusk acredita que não há vencedores nem vencidos. Esse era o seu grande objectivo, confessa o político, já que as negociações envolviam humilhação e dignidade – temas sensíveis, especialmente tendo em conta a história da Alemanha.

 

"Não acho que a posição da Alemanha hoje, depois das negociações, seja mais fraca, mas certamente também não é mais forte. Esse foi um dos meus principais objectivos nestas negociações, evitar o risco de haver vencedores e vencidos", explicou Tusk. "Porque a discussão também foi sobre coisas como dignidade, humilhação e confiança. Sabemos que não podemos ignorar esses valores, especialmente quando olhamos para a história da Alemanha. A discussão sobre dignidade e humilhação poderia recordar o momento mais perigoso da Europa".

 

Não existindo vencedores nem vencidos, Tusk acredita que o acordo alcançado entre o governo de Atenas e os membros da Zona Euro é uma espécie de "empate". "Isso significa que há uma visível falta de entusiasmo. Ninguém está satisfeito", admite o presidente do Conselho Europeu. "Mas estou 100% certo de que a Alemanha não é o vencedor no contexto do poder político. No fim de contas, a Alemanha tem de sacrificar muito mais do que outros países quando se trata de números e dinheiro".

 

Questionado sobre a posição do ministro das Fiannças alemão, Wolfgang Schäuble, que defendeu a saída temporária da Grécia do euro, Tusk considera que é uma proposta "intelectualmente legítima", que foi "uma alternativa possível neste processo". No entanto, acrescenta, "estou absolutamente certo de esse não era o objectivo político da chanceler Merkel".

 

Tsipras defende um acordo em que não acredita. "É muito original. Mas também muito honesto e autêntico", diz Tusk

 

Donald Tusk considerou, na entrevista às várias publicações, que a votação, no parlamento grego, das medidas acordadas em Bruxelas em troca do terceiro resgate foi "plena de emoções", e também uma "mensagem controversa" de Tsipras, de que está pronto para apoiar um acordo em que não acredita.

 

"Isso é, de facto, muito original. Mas também é muito honesto e autêntico, porque quando observei o seu rosto durante as negociações, era absolutamente visível que não estava satisfeito, e para ele este é um teste muito difícil", contou.

 

O presidente do Conselho Europeu diz que, apesar de tudo, não há garantias. A sua intenção é continuar com as discussões técnicas e evitar temas como a dignidade, a humilhação e a confiança.

 

"Na verdade, as negociações devem ser sobre números, leis, procedimentos. A discussão sobre dignidade, humilhação e confiança não é uma negociação. É uma introdução à luta, sempre foi na nossa história", considerou o político.

 

"Não estou certo de que precisemos de uma discussão sobre o alívio da dívida grega"

 

O presidente do Conselho Europeu não ignora a dimensão da dívida grega, mas acredita que esse problema não se limita a Atenas. "Se precisamos de uma discussão sobre a dívida não é uma discussão apenas sobre a Grécia", defende.

 

"O problema da dívida não é um fenómeno grego. Não estou certo de que precisemos de uma discussão sobre o alívio da dívida grega. Na verdade, tivemos alívio da dívida grega durante cinco anos", afirmou o responsável. "Temos de ser muito cautelosos, porque o alívio da dívida é muito sensível e um tópico de risco noutros países".

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