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Moscovici: França e Alemanha podem servir de "inspiração" mútua
A edição internacional do “Spiegel” on-line publica esta terça-feira uma entrevista com o ministro das Finanças francês em que este fala da amizade que mantém com o seu homólogo alemão e do recém-descoberto “rigor” orçamental francês. O “affair” de Hollande e o ímpeto contestatário francês também foram analisados.
Pierre Moscovici, actual ministro da Economia, das Finanças e antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de França, defende que as medidas de "rigor" anunciadas por François Hollande no dia 14 de Janeiro não constituem um volte-face face às promessas eleitorais do presidente. Hollande, diz o ministro, "sempre foi um reformador, um europeu e um social democrata".
Moscovici, que conheceu François Hollande há 30 anos, na prestigiada escola francesa de estudos políticos, Science Po, em Paris, recusa a expressão "volta-face" e prefere façar em "mudança de ritmo". "As nossas políticas de hoje são a continuação das nossas anteriores políticas. Estamos, contudo, a mover-nos mais depressa e energicamente."
Mas isso não quer dizer que França esteja a tornar-se mais alemã, esclarece Moscovici. “Não existe modelo alemão para a França, da mesma forma que não existe um modelo francês para a Alemanha.” Os dois países podem, no entanto, inspirar-se um ao outro. “Por exemplo, nós precisamos de reformas estruturais”, diz, ao passo que a Alemanha “poderá necessitar de impulsionar a sua procura interna.”
“Schäuble e eu demo-nos bem imediatamente”
A relação de Pierre Moscovici com o homólogo alemão é um dos pontos focados na entrevista publicada esta terça-feira, na edição internacional (hiperligação em inglês) da versão electrónica do jornal “Spiegel”. Os dois partilham as mesmas ideias para a Europa e deram-se bem desde o primeiro momento. Estão agora ligados por uma “verdadeira amizade” e o ministro francês diz que vê Schäuble com mais frequência do que vê os colegas de Governo.
“Temos um entendimento mútuo porque ambos partilhamos as mesmas convicções europeias. Schäuble apoiou-me quando tive de explicar, em Bruxelas, que a França necessitava de mais tempo para reduzir o défice”, recorda.
O primeiro encontro entre os dois deu-se em privado, com a equipa do ministro francês a aguardar à porta da sala em Berlim durante 45 minutos. “Disse-lhe, primeiro: precisamos de uma linha directa para os dois. E, em segundo: este novo governo é europeu e quer reformar. Trocámos números de telemóvel e ficamos imediatamente a tratar-nos pelo primeiro nome.”
Um caso extraconjugal e os "famosos" protestos em massa
Semanas após uma revista francesa ter noticiado o caso de François Hollande com a actriz Julie Gayet, Pierre Moscovici não se esquivou a falar sobre o assunto. A traição de Hollande não teve, “de maneira nenhuma” impacto na popularidade do presidente, diz o responsável pela pasta das Finanças. “Nas sondagens, mais de três quartos dos franceses dizem que o que é privado deve permanecer privado”, notou o ministro. “Pessoalmente, acho que esta é uma reacção muito saudável”, salientou.
Moscovici comentou ainda as recentes manifestações contra François Hollande, afirmando que o país é “famoso” pelos enormes protestos promovidos pelos sindicatos. Para Moscovici, “muitos subestimam até que ponto os franceses estão em alerta para a necessidade de mudança.”
A recente reforma das pensões foi acolhida com “poucos protestos”, lembrou o ministro francês, referindo que os sindicatos aceitaram as alterações ao mercado de trabalho, e ao ensino vocacional. “Esse é um novo método em França”, destacou.
(30 de Janeiros - Correcção aos cargos de Pierre Moscovici: onde se lia "ministro da Economia, das Finanças e dos Negócios Estrangeiros de França" passou a estar "actual ministro da Economia e das Finanças e antigo ministro dos Negócios Estrangeiros".)