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Schulz admite que a UE está a ser prejudicada pelo crescimento da extrema-direita
O presidente do Parlamento Europeu avisa que a atitude eurocéptica de vários líderes europeus está a enfraquecer a União Europeia. Para Schulz, Bruxelas atravessa um período conturbado devido à falta de coragem para enfrentar o crescimento do populismo de direita.
Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu, admite que o projecto da União Europeia (UE) está a ser penalizado pelo crescimento do populismo, em especial do populismo proveniente de forças da extrema-direita.
Em entrevista concedida ao grupo Europa (que integra seis publicações entre as quais o The Guardian, o El País e o Le Monde), o político alemão constata que até ao momento Bruxelas não foi capaz de responder aos eventos que em 2016 abalaram a Europa, designadamente à vitória do Brexit no Reino Unido e ao consistente crescimento de forças políticas eurocépticas.
Para Schulz, que já anunciou o abandono da política europeia para se candidatar pelo SPD ao Parlamento alemão nas legislativas germânicas agendadas para este ano, o momento conturbado actualmente vivido em Bruxelas deve-se sobretudo à falta de coragem política dos Governos nacionais em enfrentar as causas que alimentam o crescimento de forças contrária à integração europeia.
Naquela que deverá ser a última grande entrevista de Schulz antes de abandonar a liderança do plenário europeu, o político germânico reconheceu a mudança de paradigma na forma como os líderes nacionais encaram a Europa.
"A geração de [Helmut] Kohl e [François] Miterrand viajava para Bruxelas com a perspectiva de que uma Europa forte servia o interesse dos respectivos países (…) A geração de [Viktor] Orbán (primeiro-ministro da Hungria) diz que ‘temos de defender os interesses do nosso país contra a Europa’ – como se estivessem a ser atacados por Bruxelas", sustentou Martin Schulz.
O dirigente europeu admitiu ainda que "muito pode ainda ser melhorado", concretamente no que concerne à moeda única europeia (euro). A esse respeito, Schulz diz que "a Comissão [Europeia] e o Parlamento [Europeu] estariam a bordo [para realizar as alterações necessárias], mas tudo cai no Conselho [Europeu], com os governos nacionais. "No final do dia a União só é forte na medida que os seus Estados-membros o permitam", conclui.
Apesar da especulação que surgiu em torno do regresso de Schulz às lides internas e da eventual candidatura pelo SPD contra a chanceler Angela Merkel, o nome do ainda presidente do Parlamento Europeu tem sido apontado para putativo futuro ministro alemão dos Negócios Estrangeiros.
As eleições alemãs são inclusivamente um dos factores que provocam apreensão na Europa, isto tendo em conta o crescimento eleitoral, sublimado pelas sondagens, do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD).
Contudo, as eleições na França e na Holanda, onde existem reais possibilidades de vitória de partidos de extrema-direita eurocépticos, são os motivos de maior preocupação para Bruxelas que em 2017 iniciará negociações formais para a saída do Reino Unido da UE.
A incompletude da união monetária e a crise dos refugiados são apontados pelo The Guardian como outros factores adicionais de instabilidade para a União. Há ainda que ter em conta a provável abertura de uma crise política em Itália, país onde o partido anti-sistema e anti-euro Movimento 5 Estrelas surge em crescendo.