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Partidos pró-UE vencem eleições na Ucrânia

Apesar de algumas surpresas, como o mau resultado do partido de Yulia Tymoshenko ou a expressiva votação no Bloco da Oposição, foi o partido do actual presidente Poroshenko a vencer. Venceram as forças pró-ocidentais que defendem a adesão da Ucrânia a organizações como a UE e a NATO.

Reuters
26 de Outubro de 2014 às 20:24
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Ao que tudo indica o vencedor das eleições legislativas da Ucrânia, realizadas este domingo, foi mesmo o partido de Poroshenko, com 23% dos votos, força partidária criada para suportar a corrente política liderada pelo actual presidente ucraniano Petro Poroshenko, eleito nas eleições presidenciais antecipadas do passado mês de Maio.

 

De acordo com as sondagens feitas à boca das urnas, a vitória do partido de Poroshenko será por uma diferença muito reduzida relativamente ao partido Frente Popular, do primeiro-ministro interino Arseny Yatsenyuk, que ficou com a segunda posição ao alcançar 21,3% dos votos, segundo a Ukrinform.

 

O resultado da força política de Yatsenyuk acaba por também surpreender, especialmente se forem tidas em conta as últimas projecções que conferiam à Frente Popular pouco mais de 10% das intenções de voto.

 

Mas a grande surpresa terá sido mesmo a votação de 13,2% no partido democrata-cristão Autoajuda, de Andriy Sadovyi, presidente da câmara de Lviv, o que lhe garante o terceiro lugar e a estreia na Rada Suprema (parlamento ucraniano).

 

Seguro é que não se confirmam as expectativas mais negativas que apontavam para a possibilidade de as forças pró-europeias não conseguirem alcançar a maioria parlamentar. Assim, as três forças mais votadas são partidos que defendem a aproximação de Kiev a Bruxelas e à NATO.

 

Apesar de não se saber ainda quais as forças políticas que irão suportar o próximo governo, é seguro que os partidos de Poroshenko e de Yatsenyuk farão parte do próximo executivo ucraniano, beneficiando de confortável maioria parlamentar.

 

Além destes dois partidos, também o Pátria, de Yulia Tymoshenko, a principal figura da Revolução Laranja, deverá apoiar e integrar o próximo governo.

Reagindo ao mau resultado do Pátria, que se ficou pelo sexto lugar com 5,6% dos votos, ligeiramente acima da fasquia dos 5%, mínimo exigido para aceder à Rada Suprema, Tymoshenko já assegurou que irá apoiar todas as medidas que tenham em vista a progressiva aproximação, com o objectivo final de integração, da Ucrânia à União Europeia (UE) e à NATO.

 

Também surpreendente foi a relativamente elevada votação no Bloco da Oposição, força que sucede ao antigo Partido das Regiões e que agrega os apoiantes do antigo presidente Viktor Yanukovych, deposto em Fevereiro na sequência das manifestações na praça Maidan, em Kiev. O Bloco da Oposição ficou em quarto com 7,6%.

 

Ainda acima da fasquia dos 5% ficaram o Partido Radical (6,4%) e o Partido "Svoboda" (União Pan-Ucraniana) (6,3%). Outro dado histórico com nota de registo nas eleições legislativas deste domingo prende-se com a não eleição, pela primeira vez na história democrática do país, de nenhum representante do Partido Comunista ucraniano.

 

Conciliação desafiadora

 

Mais do que um partido vencedor, as eleições parlamentares deste domingo confirmaram a vitória, por uma margem bastante confortável, das forças políticas pró-ocidentais. A Rada Suprema será, portanto, representada por uma larga maioria pró-europeia.

 

No entanto, apesar das mudanças que os resultados parecem indiciar, propiciadas, por exemplo, pelo facto de se tratar do parlamento "mais jovem" de sempre, constituído por muitos políticos reformistas, provenientes de várias áreas, como o jornalismo, as autoridades de Kiev têm ainda muito trabalho pela frente.

 

Isto porque se é certo que os partidos de Poroshenko e Yatsenyuk vão liderar o próximo governo, as divergências entre estes dois políticos permanecem, aparentemente, de difícil conciliação. Divergências exponenciadas pelo agravar da situação económica, perspectivando-se uma contracção do PIB de entre 7% a 10% este ano.

 

Poroshenko defende que a solução para a actual crise no leste do país, nas regiões de Donestk e Luhansk, que opõe as autoridades de Kiev às forças separatistas pró-russas, terá de passar necessariamente por um processo pacífico.

 

Já Yatsenyuk, que tem recorrido por inúmeras vezes a uma narrativa anti-Rússia bastante agressiva, apoia uma acção unilateral de força que termine com as aspirações independentistas nas regiões do Donbass.

 

Para já, aquilo que parece ser mais provável passa pela manutenção de Yatsenyuk no cargo de primeiro-ministro, posição que ocupa interinamente desde a deposição do ex-presidente pró-russo Viktor Yanukovych.

 

Sabe-se, porém, que o presidente russo Vladimir Putin tentará exercer pressão no sentido de a escolha para próximo primeiro-ministro da Ucrânia passar por uma figura distante dos acontecimentos de Maidan.

 

Numa altura em que Kiev e Moscovo ainda não alcançaram um acordo para o abastecimento de gás natural russo, uma necessidade exacerbada pela proximidade do Inverno no leste europeu, Putin poderá tentar jogar este trunfo para impor um nome menos crítico do Kremlin do que Yatsenyuk. Ver-se-á se Poroshenko está disposto a ceder.

 

Eleições pouco participadas e com focos de preocupação

 

Segundo dados da comissão eleitoral que conduziu o processo de votação destas legislativas ucranianas, citados pela agência ucraniana Interfax, a participação eleitoral às 16 horas em Kiev, tendo em conta 127 das 198 circunscrições eleitorais do território ucraniano, situava-se nos 40,42%.

 

Como tal, verifica-se que a participação não terá sido muito elevada. Todavia, segundo explica a Euronews, é habitual que as legislativas ucranianas registem menor adesão do que as eleições presidenciais.

 

Fraca participação agravada pelo facto de em várias circunscrições do leste do país, localizadas nas regiões de Donetsk e Luhansk, que estão controladas pelas forças separatistas pró-russas, não ter havido lugar a nenhuma votação. Estas regiões terão eleições regionais, convocadas pelos separatistas que auto-proclamaram a independência das regiões de Donetsk e Luhansk, no próximo dia 2 de Novembro. Na Crimeia, região anexada por Moscovo, também não houve nenhuma votação.

 

A BBC escreve que os observadores da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) revelavam preocupação ao longo do dia. O líder da missão da OSCE na Ucrânia, o sueco Kent Harstedt, terá mesmo dito que foi o processo eleitoral mais desafiador entre todos aqueles em que já participou como observador.

 

Já o presidente Poroshenko, que durante o dia efectuou uma visita surpresa a Kramatorsk, na região de Donetsk, para mostrar o seu apoio e solidariedade ao exército que se encontra na região oriental do país. Porque prosseguem os combates com os separatistas apesar do cessar-fogo assinado no passado dia 5 de Setembro.

 

Numa mensagem via Twitter citada pela BBC, ainda antes das urnas fecharem, Poroshenko anunciava aquilo que todos sabiam: "Votei por uma Ucrânia unida, indivisível e europeia".

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