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Os refugiados da discórdia fazem crescer (um pouco) a economia

A crise dos refugiados domina o Conselho Europeu de quinta e sexta-feira. A discórdia política contrasta com um quase consenso da análise económica: a entrada de refugiados tenderá a estimular, ainda que pouco, o crescimento.

Refugiados: O êxodo de refugiados que atravessaram o Mediterrâneo em busca de salvação, rumo às costas de Itália e da Grécia, e que logo se tornou muito mais vasta, abrangendo outras vias terrestres (a começar pela Turquia), foi pautado pelo ritmo de mortes em naufrágios no mar que separa a África da Europa.
17 de Março de 2016 às 17:21
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A crise de refugiados assumiu-se como o principal desafio da UE (União Europeia), forçando a negociações que colocaram a relações UE- Turquia no centro da política europeia, e levaram a Europa a um acordo que, para alguns, desafia os limites da lei. O tema está no centro do Conselho Europeu que decorre quinta e sexta-feira. Mas se a discórdia política é grande, entre economistas há consenso: a economia da UE deverá crescer no médio prazo, embora muito dependa da capacidade de integrar os refugiados no funcionamento da economia.

 

Nos últimos meses têm-se multiplicado as análises sobre os impactos económicos do fluxo de migrantes para a União Europeia. Uma primeira análise da Comissão Europeia ao tema, publicada ainda no final de 2015, admite mais três milhões de migrantes a chegar à Europa até final de 2017, elevando para quase quatro milhões o número de refugiados entre 2014 e 2017.

 

Os impactos diferem de país para país, com a Comissão a esperar um aumento modesto de curto prazo nos défices públicos e no crescimento da UE.

Nos países que recebem mais refugiados, mas que deverão funcionar como pontos de passagem para o resto da Europa – casos de Itália, Grécia ou Hungria – é esperado um aumento da despesa pública em operações de resgate, registo e apoios alimentar e médico. Nos países receptores, a despesa pública também aumentará para fazer face a necessidades de habitação, formação e inserção social.

O aumento de despesa pública significará um estímulo ao crescimento no curto prazo nos respectivos países, embora pequeno – visto que os aumentos de despesa também serão relativamente modestos. Bruxelas aponta para valores médios em torno dos 0,2% do PIB em 2015 e em 2016, e chegando aos 0,5% na Suécia (o país com mais refugiados em proporção da população).


No médio prazo, o mais importante é capacidade de integração dos refugiados no país. Se bem conseguida, em particular integrando-os na mão-de-obra disponível, o efeito sobre o crescimento da economia e as contas públicas tenderá a ser positivo. Novamente, tudo depende dos países e das suas estruturas económicas e sociais, assim como dos níveis de formação dos migrantes. Tendo em conta o envelhecimento populacional europeu, mais mão-de-obra disponível é, em princípio, um factor positivo – embora possa implicar efeitos negativos para os trabalhos com menores exigências de qualificação no país, refere o estudo da Comissão Europeia.

Em balanço, os economistas de Bruxelas, que assumem a dificuldade de simular um choque desta natureza, avançam com um possível impacto positivo no crescimento da UE de até 0,25% em 2017, e um aumento do emprego por via da pressão negativa sobre os salários.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) publicou já em Janeiro deste ano um estudo detalhado sobre os impactos e desafios económicos da crise de refugiados na Europa. Tal como a Comissão Europeia, o FMI salienta os efeitos negativos sobre os salários dos empregos com menores exigências de qualificação, e espera um efeito positivo sobre o crescimento económico da UE, que dependerá em grande medida da capacidade dos países desenharem políticas de integração dos refugiados nos respectivos mercados de trabalho:

 

No curto prazo, o efeito macroeconómico do fluxo de refugiados deve ser um aumento modesto no crescimento do PIB, reflectindo a expansão orçamental associada aos apoios aos refugiados, assim como à expansão de mão-de-obra à medida que os que chegam começam a entrar no mercado de trabalho. O efeito está concentrado nos principais países de destino (Áustria, Alemanha e Suécia). Os impactos dos refugiados no médio e longo prazo depende de como forem integrados no mercado de trabalho.

Antes destes dois estudos o "think tank" Bruegel fez um apanhado de outras análises, aplicadas a outras crises e contextos, que apontam para efeitos agregados positivos a neutros sobre o crescimento.

 

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