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O dia em que em Londres se cantou o Hino da Alegria

Esta quarta-feira o Reino Unido oficializou o pedido de saída da União Europeia. Um passo que não foi indiferente a alguns britânicos que aproveitaram para entoar vozes de protesto contra o divórcio. O Hino da Alegria foi o som escolhido para acompanhar os protestos.

Neil Hall/Reuters
29 de Março de 2017 às 20:45
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"É um crime". "É um retrocesso à democracia". "Sair do mercado único europeu só vai trazer problemas para o Reino Unido". Palavras de ordem das poucas dezenas de manifestantes que, à porta do parlamento britânico, aguardavam a oficialização do pedido de saída do Reino Unido da União Europeia. 

 

Apesar de em número reduzido, até em comparação com o manifesto que decorreu no fim-de-semana, as vozes dos manifestantes não passavam indiferentes a quem passava por Westminster, na sua maioria turistas. O eco do hino da alegria, de Beethoven, adoptado como hino oficial da União Europeia, ajudava a atrair a curiosidade.

 

O grupo de cinco cantores, que entoava a Ode à Alegria, como também é conhecida, distribuia folhas com a letra de Friedrich Schiller para tentar captar mais vozes.

 

Simon Wellfisch, músico, encabeçava o grupo. Ao Negócios, explicou que tinha decidido ir manifestar o seu descontentamento por achar o Brexit "um crime, um retrocesso à democracia".

 

"Toda a gente fala do que pode acontecer ao Reino Unido com a saída da UE. Mas ninguém está a falar dos danos que pode ter para o resto da Europa". "A minha mãe sobreviveu a Auschwitz e tenho ligações à Alemanha, que tem um sistema mais democrático", acrescentou.

 

O protesto, através do hino da alegria, não foi por acaso. Além de ser músico, Simon Wellfisch ainda tem esperança que de alguma maneira o Brexit não se concretize, mesmo depois de esta quarta-feira ter sido accionado o "chapter 50" [artigo 50,º do Tratado de Lisboa]. E que vai mudar o futuro do Reino Unido, mas que parece não ter perturbado a rotina diária e a calma característica dos britânicos. Pelas ruas de Londres e transportes públicos a palavra Brexit só fazia ruído nas primeiras páginas dos jornais.

 

"Se sairmos do mercado único, o Reino Unido vai ter problemas", alertou.

 

Uma opinião partilhada pelos membros do movimento Open Britain, que também não quis deixar de marcar presença esta quarta-feira à porta do Parlamento.

 

James Mcgary, representante do movimento, considera "pouco provável" que o processo não avance, tendo em conta o passo que foi dado esta quarta-feira.

 

"O importante agora é saber a conclusão e o impacto das negociações" para concluir o Brexit, que vão decorrer no máximo nos próximos dois anos, explicou. E aproveitou para deixar um pedido aos restantes países europeus: "Façam campanhas para o Reino Unido ficar próximo de vocês".

 

Outro manifestante, que integrava este movimento, confessou ao Negócios que o maior receio é o de desempregos no futuro. "Principalmente nas fábricas que têm um grande número de profissionais estrangeiros", contou o britânico que é director de uma fábrica, e que preferiu não ser identificado.

 

Já outra britânica, de passagem por Westminster, alertou que, além da questão do desemprego, esta opção britânica "vai fazer com que os estrangeiros sintam que não são bem-vindos". "É estúpido este processo", desabafou.

 

Nicky Pillaccaoply, com naturalidade italiana mas em Londres há mais de 30 anos, foi um dos transeuntes que pararam para ouvir os cânticos contra o divórcio do Reino Unido com a União Europeia.

 

"Não tenho receio" que o Brexit possa ter algum impacto negativo "para mim ou para a minha família", disse. "Acho que vamos sair lentamente e suavemente", por isso, não antecipa grandes impactos.

 

Outra manifestante do movimento Open Britain, também de origem italiana, considera que o Brexit "é um erro". "Eu estou casada com um britânico e os meus filhos já nasceram cá. Mas sempre quisemos que eles pudessem ir estudar para fora. E agora? Será mais difícil? E o que vai acontecer ao emprego dos emigrantes? Vão ficar sem emprego?", questionou.

 

Perguntas para as quais ainda não há respostas concretas. E que só serão conhecidas nos próximos tempos, depois das negociações para o Brexit.

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