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May confirma cancelamento da votação e anuncia negociações urgentes com UE
Depois de confirmar o cancelamento da votação sobre o acordo de saída da UE, primeira-ministra britânica partilha das preocupações dos deputados britânicos relativamente ao "backstop" para evitar uma fronteira rígida entre as duas Irlandas. Como tal, May revelou que vai encetar negociações com carácter de urgência para discutir eventuais alterações à solução encontrada.
A líder dos conservadores começou por justificar o adiamento da votação prevista para esta terça-feira dado que o "acordo seria rejeitado por larga margem", para depois insistir na ideia de que o acordo em cima da mesa é o "melhor possível" e reiterar que não haverá nenhum compromisso negociado com Bruxelas que não inclua o "backsotp" para a fronteira irlandesa, reconhecendo que esta questão está a gerar "profunda preocupação" junto do parlamento.
A governante acredita que esta via poderá permitir corresponder à vontade dos deputados que rejeitam um acordo que poderia prolongar indefinidamente a permanência da Irlanda do Norte no mercado único, criando uma situação de excepção que colocaria em causa a integridade do território do Reino Unido, possibilidade rejeitada pelos conservadores "hard brexiters" e pelos unionistas irlandeses (DUP) de cujo apoio depende o executivo conservador.
May lembrou que o acordo obtido com a UE tem como objectivo encontrar soluções que evitem o accionamento do chamado mecanismo de salvaguarda e, se as mesmas não fossem encontradas, haveria a possibilidade de prolongar o período de transição. Porém, a líder dos "tories" reconhece não ter conseguido convencer os deputados da viabilidade desta via.
Todavia, a Comissão Europeia já disse esta manhã que não existe margem para renegociar nem o acordo que estabelece os termos do Brexit nem a declaração política que define os parâmetros que devem nortear a relação futura entre as partes.
Perante o avolumar da incerteza e a possibilidade real de mesmo um hipotético acordo renegociado com Bruxelas não merecer apoio dos deputados britânicos, Theresa May acrescentou ainda que o seu governo está plenamente preparado para uma situação de não acordo - uma saída impreparada e sem prévio estabelecimento do regime jurídico que deve enquadrar as relações entre os dois blocos.
Ou seja, certo é que Theresa May recusa um cenário que passe pela realização de um novo referendo, considerando que essa hipótese iria "dividir ainda mais" o país. É que apesar de em 2016 ter votado pela permanência, May recorda que assumiu o cargo de primeira-ministra com a responsabilidade de cumprir o mandato resultado do referendo que deu a vitória ao Brexit. E dada a posição dos parlamentares, questiona se "esta câmara quer mesmo cumprir o Brexit". Se a resposta for sim e a intenção passar por uma solução negociada, May sublinha que todos têm de contribuir para alcançar um compromisso com a União.
May dispara em todas as frentes
No primeiro caso, recordou que seria necessário ceder na liberdade de circulação de pessoas, uma prerrogativa que Londres exigiu recuperar para si; depois frisou que não há acordo possível sem "backstop", uma linha vermelha para Bruxelas; a finalizar notou os "danos significativos" para o Reino Unido inerentes a uma saída desordenada.
Como esperado, o discurso da primeira-ministra foi recebido com risos e apupos da oposição, maioritariamente contrária ao acordo em cima da mesa (a que se soma boa parte dos próprios deputados "tories"). O secretário-geral dos trabalhistas, Jeremy Corbyn, considera que May "perdeu o controlo do processo" e sustentou que "de nada serve" que May volte a Bruxelas para depois levar para Londres "o mesmo acordo". Corbyn insiste na necessidade de novas eleições. (Notícia actualizada pela última vez às 16:30)