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Conselho Europeu longe de acordo em jantar tenso. "Frugais" querem mais cortes nas subvenções

Os “cinco frugais” pretendem reduzir o valor do fundo de recuperação e baixar os apoios a fundo perdido para 350 mil milhões de euros. O presidente do Conselho Europeu, Merkel e Macron não vão além de um corte para 400 mil milhões de euros.

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Três dias de negociações intensas e dezenas de reuniões bilaterais foram insuficientes para os líderes da União Europeia chegarem um entendimento até ao jantar que decorre esta noite em Bruxelas, altura em que persistem grandes divisões entre o bloco de cinco países conhecido por “frugais” e os restantes estados-membros da UE.

À mesa do tenso jantar que decorre no plenário do Conselho Europeu, o cenário mais provável aponta para um fracasso. Holanda, Áustria, Dinamarca e Suécia, grupo a que se juntou a Finlândia, estão isolados do resto da UE, mas mostram-se intransigentes na redução adicional das subvenções do plano de recuperação da pandemia

Pode ser um herói no seu país durante alguns dias, mas dentro de algumas semanas será apontado como o responsável perante todos os europeus por bloquear uma resposta europeia adequada e efetiva Primeiro-ministro italiano referindo-se a Mark Rutte, primeiro-ministro da Holanda, durante o jantar do conselho europeu

O grupo de países liderado pelo primeiro-ministro holandês Mark Rutte pretende reduzir o valor do fundo de recuperação para 700 mil milhões de euros. E que o dinheiro seja dividido em partes iguais em subvenções e empréstimos com juros reduzidos, ambas com fatias de 350 mil milhões de euros. Uma solução bem distinta da proposta formulada inicialmente pelo presidente do Conselho Europeu (500 mil milhões em subvenções e 250 mil milhões em empréstimos) e que no sábado já tinha sido revista para ir ao encontro das pretensões dos “frugais”.

Charles Michel tinha cortado o montante do fundo de recuperação da UE a distribuir pelos países a fundo perdido de 500 para 450 mil milhões. E transferiu esse valor para a rubrica a conceder a título de empréstimos (300 mil milhões de euros), mantendo o montante global de 750 mil milhões de euros de dívida conjunta que a Comissão Europeia se propõe assegurar junto dos mercados.

Mark Rutte comentou que esta proposta representava um “passo na direção certa”, mas exigiu que presidente do Conselho Europeu fosse mais longe. Mas Charles Michel, Merkel e Macron colocaram o limite mínimo das subvenções nos 400 mil milhões de euros.

Mais vale chegar a acordo sobre um plano ambicioso, mesmo que demore mais algum tempo Christine Lagarde, presidente do BCE

Europa dividida e jantar tenso

Com os dois lados ainda longe de um consenso, ao início da noite de deste domingo vários líderes europeus admitiam um prolongamento nas negociações até segunda-feira, a tempo de ter uma solução antes da abertura dos mercados europeus.

A Europa já por diversas vezes conseguiu fechar acordos improváveis após maratonas negociais pela noite dentro. Mesmo que tal se repita agora, parece certo que o fundo de recuperação não terá o “poder de fogo” previsto no início e o Conselho Europeu mostra uma vez mais como são profundas as divisões, sobretudo norte-sul e leste-oeste na Europa.

No jantar deste domingo, um dos líderes dos “frugais” rebateu as críticas de que estavam a ser intransigentes, lembrando que entraram neste Conselho Europeu a defender ausência de subvenções e agora estavam dispostos a aceitar 350 mil milhões de euros. Já do outro lado a cedência tinha sido a redução de “apenas” 50 mil milhões de euros nos apoios a fundo perdido, apontou o este líder de governo, segundo o relato do Político.

A dificultar o acordo está também o próximo quadro financeiro plurianual (2021-27), que foi mantido em 1,074 mil milhões de euros e os frugais pretendem menos ambicioso para reduzir as respetivas contribuições nacionais. Além disso continuam também a defender que se mantenha o mecanismo de rebate, uma espécie de desconto aplicado em benefícios dos contribuintes líquidos para o orçamento comunitário.

Há ainda um outro bloqueio, porventura o mais sensível de todos e que tem Mark Rutte como principal promotor. Trata-se do chamado modelo de gestão das reformas e investimentos que os Estados-membros terão de prosseguir, como contrapartida para o recebimento dos fundos.

Durante as negociações ouvi toda a gente, mostrei o máximo de respeito. O meu desejo é que alcancemos um acordo e que amanhã os jornais tragam na primeira página que a União Europeia alcançou uma missão impossível.  É este desejo que tenho no meu coração Charles Michel, presidente do Conselho Europeu

O confronto verbal subiu de tom ao longo do dia de hoje, com o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, a dizer que o acordo estava bloqueado “por causa do tipo holandês” e o primeiro-ministro italiano a considerar que a “Europa está a ser chantageada”. 

Segundo o Político, Conte atacou Rutte de forma violenta durante o jantar. "Pode ser um herói no seu país durante alguns dias, mas dentro de algumas semanas será apontado como o responsável perante todos os europeus por bloquear uma resposta europeia adequada e efetiva" à crise pandémica, terá dito o primeiro-ministro italiano ao chefe de governo holandês, durante o jantar, acusando Mark Rutte de destruir o mercado único europeu.

O presidente do Conselho Europeu fez uma intervenção emocionada durante o jantar, lamentando que as várias alterações efetuadas à sua proposta tenham sido insuficientes para selar um acordo.

"A questão agora é a seguinte: são os líderes dos 27 capazes de construir uma Europa de confiança e unida", ou pelo contrário "vamos apresentar a face de uma Europa fraca e minada pela desconfiança?"

"Durante as negociações ouvi toda a gente, mostrei o máximo de respeito. O meu desejo é que alcancemos um acordo e que amanhã os jornais tragam na primeira página que a União Europeia alcançou uma missão impossível.  É este desejo que tenho no meu coração", disse Charles Michel, citado pelo político.

Já depois das 23h00 em Bruxelas o presidente do Conselho Europeu interrompeu a reunião por 45 minutos, que deverá servir para fazer um último esforço em busca de um compromisso, devendo de seguida Charles Michel anunciar se as negociações prosseguirão ou se dá por terminada esta cimeira.

A presidente do BCE transmitiu uma mensagem que pode ser entendida como um tranquilizador para os mercados. “Mais vale chegar a acordo sobre um plano ambicioso, mesmo que demore mais algum tempo”.



(notícia atualizada às 23:09 para dar conta de interrupção da reunião por 45 minutos)

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