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Coface adverte: Risco político na Europa nunca foi tão alto
Nunca governos e empresas enfrentaram um cenário com tamanha incerteza como em 2017, advertiu a Coface na sua conferência anual sobre risco, onde se ouviram rasgados elogios aos investidores portugueses na Polónia.
Eleições na Holanda, em França e na Alemanha, todas elas com potencial para mudar radicalmente a paisagem e as prioridades políticas em toda a Europa; arranque das negociações da saída do Reino Unido da União Europeia que poderão exacerbar as tensões internas num continente que deverá continuar a atrair fluxos migratórios consideráveis; possibilidade de novos percalços no financiamento do terceiro resgate à Grécia caso o FMI não aceite partilhar a factura; e, "last but not least", os impactos da administração de Donald Trump, que podem conduzir a uma nova desaceleração do comércio mundial devido ao cancelamento de acordos regionais (com a Ásia e com a Europa ) ou levarem, em contrapartida, a uma aceleração da maior economia do globo, através da prometida descida de impostos e da aposta no investimento em infra-estruturas.
Tudo cruzado, e a conclusão é que nunca governos e empresas na Europa tiveram pela frente um ano tão difícil de prever como 2017, alerta a Coface, líder mundial no ramo de seguros de crédito, que realizou em Paris nesta terça-feira, 24 de Janeiro, o seu XXI colóquio anual sobre risco.
"Antecipar riscos é cada vez mais difícil, não obstante nunca ter sido tão grande o acesso à informação e a complexidade dos modelos que temos à nossa disposição para os prever", sublinhou Xavier Durand, CEO da Coface. "O passado muito recente mostra-nos que não conseguimos antecipar o resultado de uma eleição uma hora antes desta se realizar, nem prever a evolução da cotação do petróleo no prazo de meros três meses".
Assumidas as incertezas que envolvem os próprios cenários de risco, em caso de "risco político grave, a França crescerá metade", ilustrou Julien Marcilly, economista-chefe do grupo segurador, numa alusão à possibilidade de vitória nas presidenciais de Maio de Marine de Le Pen, líder da Frente Nacional, partido de extrema-direita, com posições anti-europeias e anti-globalização. No cenário central, a Coface antecipa que a segunda maior economia do euro cresça 1,3%.
"A boa notícia é que saímos da fase da austeridade orçamental e, sem ter entrado numa fase expansionista, temos crescimento económico, ainda que muito moderado e inferior, no caso da Zona Euro, ao registado no ano passado", acrescentou Marcilly. A Coface prevê que, em média, os países da união monetária cresçam 1,6%, uma décima abaixo do ritmo de 2016.
Outra meia boa notícia é que a falência de empresas vai continuar a cair em todos os países do euro; em contrapartida, a criação de empresas está em níveis historicamente baixos. Isto deve-se, em larga medida, à política ultra-acomodatícia do BCE que, segundo Marcilly, está a facilitar a sobrevivência de empresas potencialmente não viáveis, desviando recursos de novos projectos.
Investidores portugueses elogiados em Paris
Olhando para o velho continente, as economias mais dinâmicas prometem continuar a ser as do Leste, caso da Polónia, da Hungria e da República Checa. Não obstante serem governadas por executivos controversos e potencialmente mais frágeis, são estes os países que podem surpreender pela positiva os empresários, consideram os economistas da seguradora de crédito francesa.
A audácia dos investidores portugueses na Polónia foi, aliás, alvo de rasgados elogios de Bozidar Djelic, orador da conferência, antigo ministro das Finanças da Sérvia, actualmente à frente da gestão da Lazard, que incitou as empresas europeias a seguirem o seu exemplo, explorando novos mercados e oportunidades. A Polónia deverá crescer neste ano 3,1%, mais do dobro dos 1,3% que a Coface prevê para a economia portuguesa. A Jerónimo Martins tem sido uma das empresas portuguesas que mais têm investido no país.
* a jornalista viajou a Paris a convite da Coface