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Bataclan reabre com concerto de Sting um ano após ataque terrorista em Paris

O Bataclan, onde há um ano Paris foi alvo de um ataque terrorista, reabriu este sábado. A Agência Lusa conta o que se passou este sábado, dia em que a sala de espectáculos reabriu com um concerto de Sting.

Reuters
13 de Novembro de 2016 às 10:41
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"Medo", "estranho", "a vida continua" são expressões usadas pelos residentes do bairro do Bataclan, em Paris, um ano depois dos atentados de 13 de Novembro, que fizeram 90 mortos nesta sala de concertos, reaberta no sábado com um concerto de Sting.

Filomena Gomes trabalha no café do Bataclan, há 18 anos, onde faz limpezas, e já regressou ao local, mas com alguma "impressão", até porque conhecia um segurança que lá morreu.

"Impressão. Parece que tudo mexia. Eu tenho muito medo dos mortos (...) A gente vive aqui, passa em frente e vem sempre isto à memória. (...) De manhã, quando entrei lá, às seis da manhã, tive medo, tive medo", descreveu a portuguesa à agência Lusa.

Para Natália Teixeira Syed, uma das porteiras que há um ano acolheu dezenas de sobreviventes do Bataclan, no pátio do seu prédio, a reabertura da sala de espectáculos é uma coisa boa para "reanimar o bairro", mas não deixa de ter um sentimento "estranho".

"Hoje é um sentimento um bocado estranho, é a mesma sensação que a gente teve no ano passado. Hoje e amanhã [domingo, em que se assinala um ano de atentados], vai ser assim um bocado estranho, porque a gente já tinha retomado o gosto à vida e agora parece que a gente está a voltar atrás", disse Natália Syed à Lusa.

Margarida de Santos Sousa, outra das porteiras que abriu as portas do prédio aos sobreviventes do ataque de 13 de Novembro, sente um certo "nervosismo" com a reabertura, mas diz que é "uma etapa a passar".

"É triste, porque faz lembrar o que se passou há um ano. Claro que nos faz ainda mais relembrar aquilo que se passou. A gente não esqueceu e não vamos esquecer, mas temos de continuar a viver", explicou.

Entre os curiosos que passaram para ver, há três amigos portugueses, dois de férias que "vieram passear" e um que vive em Paris, desde Setembro do ano passado.

"Isto para mim não é nada de novo. No ano passado traumatizou-me mais porque se via pessoas a chorar, via-se flores (...) Claro [que o Bataclan deve reabrir]. Porque é que a vida há-de parar? As pessoas devem continuar a vida normal", considerou Mário Ferreira.

Bluenn Quillerou é médica psiquiatra do hospital Saint-Antoine, que acompanhou "entre 250 a 300 pessoas", na sequência dos atentados, e passou junto ao Bataclan em sinal de solidariedade com as vítimas, porque "a vida continua".

"A reabertura do Bataclan mostra que há vida, que é possível renascer das cinzas. Simbolicamente é importante. Dos meus pacientes, muitos não querem voltar aqui e alguns ainda não se sentem preparados. Houve outros sobreviventes que já vieram, quando se abriu a sala especialmente para eles, mas preparámo-los devidamente antes", contou a psiquiatra.

Esta noite, grande parte do boulevard Voltaire está cortada ao trânsito e, do lado do Bataclan, só passam as pessoas com bilhete para entrar na sala, enquanto do outro lado da estrada se concentram os jornalistas, alguns curiosos e pessoas que vêm deixar ramos de flores e acender velas.

A esta hora ainda há pessoas na fila para entrar num concerto carregado de simbolismo em que o cantor britânico Sting, num comunicado publicado no seu 'site' afirma: "Na reabertura do Bataclan temos duas importantes tarefas: primeiro, recordar e homenagear aqueles que perderam as suas vidas no ataque de há um ano, e, segundo, celebrar a vida e a música que este histórico teatro representa".

Sting evocou vítimas 


O cantor britânico Sting evocou no sábado as vítimas do ataque à sala de concertos Bataclan, em Paris, com um minuto de silêncio, e sublinhou a necessidade de celebração da vida com a música, naquele "lugar histórico".

Um ano após os atentados de 13 de Novembro de 2015, a música regressou à sala de especáculos, onde 90 espectadores foram mortos por um grupo de terroristas do Estado Islâmico, com um concerto de homenagem às vítimas.

"Esta noite temos duas tarefas a conciliar: primeiro, recordar os que perderam a vida no ataque, e, depois, celebrar a vida, a música, neste lugar histórico", disse o cantor britânico em francês, antes de fazer um minuto de silêncio.

Acompanhado pelo trompetista franco-libanês Ibrahim Maalouf, o cantor interpretou a primeira parte da canção "Fragile", seguida de "Message in a Bottle", uma das mais conhecidas do grupo Police, banda na qual foi o principal compositor, cantor e baixista, antes de seguir carreira a solo.

Na sala com cerca de 1.500 lugares, muitos dos sobreviventes e familiares das vítimas, entidades oficiais e fãs de Sting escutaram o cantor, comovidos, alguns em lágrimas.

As receitas do concerto, com duração aproximada de uma hora, serão entregues a duas associações de vítimas, e o espectáculo foi filmado e será difundido por vários canais franceses e pela TV5 Monde para todos os continentes na segunda-feira à noite.

O antigo líder dos Police é o primeiro artista a entrar neste palco desde o ataque realizado em pleno decurso do concerto do grupo de rock norte-americano Eagles of Death Metal.

"É a primeira vez que vou a um local público desde há um ano. Nunca mais fui ao cinema ou a um concerto, recebia as compras em casa, onde fiquei o tempo todo", confessou um dos sobreviventes.

"Esta noite retomo a minha vida como era antes", acrescentou.

Dois membros do grupo Eagles of Death Metal não foram autorizados a entrar no concerto de Sting, devido a declarações polémicas, indicou à agência noticiosa France Presse o co-director do espaço.

"Eles vieram e eu mandei-os embora, porque há coisas que não se perdoam", disse Jules Frutos após o concerto, pelo facto de o cantor do grupo norte-americano, Jesse Hughes, ter avançado a hipótese de o atentado ter sido preparado do interior da sala de concertos.

O Bataclan reabriu com uma programação que incluirá, em Janeiro, um concerto da banda portuguesa Resistência. Tim, Fernando Cunha, Miguel Ângelo, Olavo Bilac, Fernando Júdice, Pedro Jóia, Mário Delgado, Alexandre Frazão e José Salgueiro são os Resistência que vão tocar em Paris, disse à agência Lusa um dos músicos.

A banda portuguesa vai actuar no dia 29 de Janeiro, no âmbito das celebrações dos 25 anos da associação de jovens lusodescendentes Cap Magellan, como disse à Lusa uma das suas dirigentes.

"Quando soubemos que a sala ia reabrir em finais de 2016, fizemos o necessário para [o concerto] ser no Bataclan. Um grupo que se chama Resistência dar um concerto no Bataclan, com toda a história recente e o simbolismo da sala, pareceu-nos uma escolha natural", disse Luciana Gouveia, delegada-geral da associação.

O projecto Resistência surgiu no início da década de 1990, reunindo vários músicos, provenientes de diversas bandas, com um repertório assente em novos arranjos musicais de canções existentes.

A sala Bataclan, localizada no centro da capital francesa, foi um dos alvos dos atentados da noite de 13 de Novembro do ano passado, que causaram um total de 130 mortos.

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