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Renzi abre crise política em Itália e sugere Draghi ou Gualtieri para primeiro-ministro
Em oposição à reforma ao sistema de justiça, o partido Itália Viva do ex-primeiro-ministro boicotou uma reunião do conselho de ministros transalpino e Renzi ameaça avançar com uma moção de censura ao ministro da Justiça. Se o fizer, Conte admite demitir-se.
Os últimos meses foram deixando sinais de que Itália poderia ter de enfrentar uma nova crise política mais cedo do que tarde e o momento parece ter chegado.
O senador e ex-primeiro-ministro Matteo Renzi, atualmente líder do Itália Viva, uma força sobretudo composta por dissidentes do PD (centro-esquerda), está contra a reforma ao sistema de justiça apoiada pelo executivo italiano e, como tal, poderá precipitar a queda do primeiro-ministro, Giuseppe Conte.
Esta quinta-feira, Renzi recorreu ao Facebook para passar uma mensagem arrasadora para Conte, considerando que o primeiro-ministro não reúne condições para prosseguir à frente do governo italiano e desafiá-lo a formar uma nova coligação se pretender continuar a governar.
Entretanto, o jornal La Repubblica avança que Matteo Renzi vai concretizar a ameaça e submeter o ministro da Justiça, Alfonso Bonafede, membro destacado do Movimento 5 Estrelas, a uma moção de censura em meados de março.
Por sua vez, e depois de considerar que se Renzi avançar com a censura fica sem condições para prosseguir como primeiro-ministro, o independente Conte já avisou que só continuará a governar de acordo com o programa de governo aprovado pelo parlamento, excluindo a possibilidade de vir a liderar um terceiro governo (ou seja, uma nova coligação). Giuseppe Conte chefia, desde setembro, uma coligação que conta com o 5 Estrelas e o PD como maiores partidos, mas que conta também com o partido de Renzi, embora numa posição minoritária.
O partido de Renzi intensificou nas últimas semanas a oposição ao governo que apoia, chegando mesmo a votar com a oposição em diplomas recentes como a construção de autoestradas.
"Oposição mal-educada"
Conte considera "ilógica e paradoxal" a atitude adotada pelo Itália Viva, que classifica de "oposição mal-educada". Na última noite, Conte falou ao telefone com o presidente italiano Sergio Mattarella, do qual ouviu apelos para se evitar uma crise de largo espetro.
Com a reforma do sistema político (redução de deputados) a ser votada em referendo no próximo mês, o presidente e o primeiro-ministro, segundo escreve a imprensa italiana, querem evitar o regresso às urnas antes do outono.
Todavia, para Matteo Renzi são três as possibilidades em cima da mesa, sendo que o senador garante estar pronto para qualquer uma delas: o governo trabalhar e seguir em frente (deixando cair a reforma da justiça); o executivo abrir uma crise e formar-se um novo governo; ou eleições antecipadas.
Para os primeiros dois cenários, Renzi avança duas propostas para primeiro-ministro: o atual ministro das Finanças, Roberto Gualtieri; ou Mário Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu, à frente de um executivo institucional.
Depois da crise aberta pelo ex-ministro do Interior, Matteo Salvini, que fez a Liga sair da coligação com o 5 Estrelas, sendo substituída pelo PD e outras pequenas forças mais à esquerda, Itália tem sido governada por um executivo pró-europeu.
O apoio do Itália Viva no Senado é determinante para assegurar uma frágil maioria do executivo na câmara alta do parlamento transalpino.
A ainda controlada nova crise política em Itália, agravada pela contestação interna no 5 Estrelas quanto à participação no governo, não se refletiu numa subida expressiva dos juros da dívida pública transalpina, que, no prazo a 10 anos, avançam 1,1 pontos base para 0,913%.