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Presidente de Itália anuncia que a sua demissão é "iminente"
Menos de dois anos depois de ter sido reeleito para o seu segundo mandato como presidente da República de Itália, algo inédito na história da política do país, Giorgio Napolitano anunciou que "está iminente o fim do meu mandato presidencial”. Próximo do saída, Napolitano deixa elogios à governação de Matteo Renzi.
O percurso político no activo do ainda presidente da República italiana Giorgio Napolitano está perto de chegar ao fim. Aos 89 anos e quase 70 anos depois de ter aderido ao Partido Comunista Italiano, Napolitano anunciou, esta quinta-feira, que "está iminente o fim do meu mandato presidencial".
Num discurso perante o corpo diplomático italiano em pleno palácio Quirinal, residência oficial do chefe de Estado italiano, Napolitano afirmou que "com o aproximar do fim do ano e a iminente conclusão do meu mandato presidencial, inevitavelmente haverá que efectuar algumas considerações sobre o período complexo e conturbado que estão a atravessar a Itália, a Europa e o mundo", segundo cita o La Repubblica.
Eleito em Abril de 2013 para o segundo mandato presidencial de sete anos com largo apoio parlamentar, Giorgio Napolitano beneficiou do incomum consenso em torno da sua figura política, tornando-se o primeiro presidente da República a ser reeleito. Em 2006, o homem, então senador, nascido na região de Nápoles, foi eleito para o primeiro mandato.
A instabilidade política e a dificuldade para formar governo após as legislativas que em 2013 deram a vitória ao PD, na altura liderado por Pier Luigi Bersani, levou Napolitano, perto de completar 88 anos, a aceitar a recondução no cargo poucos dias após a sua nomeação enquanto senador vitalício da câmara alta do parlamento italiano. A sua escolha, devida à sua capacidade para gerar consensos, seria posta à prova e rapidamente superada por Napolitano, que teria um papel determinante na formação do Executivo que seria liderado por Enrico Letta.
Já em Fevereiro deste ano, após nova crise política, desta feita no seio do PD, Napolitano nomeou Matteo Renzi primeiro-ministro, o quinto chefe de governo do seu consulado presidencial depois de Romano Prodi, Silvio Berlusconi, Mario Monti e Letta.
Com mandato até 2020, o presidente italiano em funções assegurou esta tarde que "quando Itália tiver de fazer contas para a substituição do presidente da República, não surgirá nenhum tipo de problema". Lembrando a indefinição política sentida há menos de dois anos, Napolitano acredita que tal não se repetirá depois da sua saída.
Napolitano elogia "coragem" de Renzi que se mostra tranquilo face à eleição de novo presidente
A máxima figura institucional de Itália aproveitou a ocasião para elogiar o trabalho do governo chefiado por Renzi. "É um trabalho difícil e não imune a incertezas", legitimou Napolitano, que asseverou que não havia "alternativas para aqueles que, como nós, acreditamos nas potencialidades do nosso país".
O trabalho até agora desempenhado e o espírito reformista demonstrado pelo Executivo de Renzi merece o assentimento de Napolitano. Isto apesar das fortes críticas que ainda na última sexta-feira levaram à primeira greve geral da história da República italiana, organizada pelos maiores sindicatos em oposição a um governo de esquerda.
A governação de Renzi representa "um esforço corajoso para desatar alguns nós e corrigir males antigos que travaram o desenvolvimento do país e desequilibraram a estrutura da sociedade italiana e do seu sistema político", insistiu Napolitano mostrando assim a sua concordância face à aprovação da reforma da lei laboral. Para o início de 2015 está na forja a reforma da lei eleitoral e do sistema de justiça.
Na linha do defendido por Napolitano, Matteo Renzi também se mostrou tranquilo perante a necessidade de escolher um presidente. Em Bruxelas, onde se encontra para o encontro do Conselho Europeu, o governante transalpino assegurou que "não teremos problemas para a eleição do chefe de Estado".
"Creio que o parlamento já aprendeu a lição de 2013 e estou absolutamente convencido que fará aquilo que deve fazer", acrescentou Renzi, citado pelo Corriere della Sera, antes de dar o exemplo da Grécia como algo a evitar. É previsível que a questão da eleição do próximo presidente seja colocada nas discussões parlamentares já em Janeiro e Renzi terá, seguramente, de encontrar aliados num parlamento bem mais dividido do que há cerca de seis meses.