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Podemos vota continuidade de Iglesias após polémica com compra de casa por 600 mil euros

Os resultados do referendo vão ser conhecidos na próxima segunda-feira e podem ditar a saída do líder do partido e da porta-voz parlamentar.

EPA
21 de Maio de 2018 às 14:27
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O líder do Podemos, Pablo Iglesias, e a sua companheira Irene Montero, que é a porta-voz do partido, estão debaixo de fogo em Espanha devido à aquisição de uma casa no norte de Madrid por 600 mil euros.

 

Face à chuva de críticas de que foram alvo, ambos decidiram convocar um referendo para deixar nas mãos dos militantes do partido a sua continuidade no Podemos. Esta segunda-feira soube-se quando decorrerá a votação e o número de pessoas que podem votar. O referendo começa na terça-feira, 22 de Maio, e só terminará no domingo, pelas 14:00.

 

Os resultados serão conhecidos na segunda-feira, sendo que o apuramento dos votos ficará a cargo de uma empresa externa de auditoria. Podem participar na votação os 487.772 que estavam inscritos no partido até sexta-feira passada.

 

O caso já tem alguns dias em Espanha, mas continua a marcar a actualidade política no país vizinho. Tudo porque Pablo Iglesias e Irene Montero compraram uma casa de 268 metros quadrados, com piscina, por 600 mil euros. Para o efeito contraíram um crédito de 540 mil euros, que pressupõe uma prestação mensal superior a 1.600 euros.

 

A polémica ganhou especial relevo porque o líder do Podemos criticou duramente o ex-ministro da Economia, Luis de Guindos, por este ter comprado um apartamento de luxo, precisamente por 600 mil euros. "Confiariam a política económica de um país a alguém que gasta 600 mil euros num apartamento de luxo", questionou Iglesias em 2012.

 

"Não há nada de errado num político de esquerda comprar uma casa por 600 mil euros. O problema são os comentários anteriores", afirmou à Bloomberg o analista político António Barroso.

 

Os dois responsáveis do Podemos ainda tentaram separar os dois casos, com Irene Montero destacar que a casa que pretende comprar é para um "projecto familiar" - o casal vai ter gémeos em breve – ao contrário de Guindos, que comprou para especular. Mas a porta-voz do Podemos ficou sem resposta quando na conferência de imprensa de há dias foi questionada como sabia que Guindos estava a especular com a compra do apartamento de luxo. Segundo o El Pais, Montero ficou em silêncio durante 12 segundos e não escondeu o embaraço em justificar o caso.  

 
"Dar a cara"

A opção passou por colocar o futuro político dos dois nas mãos dos militantes e foi anunciada sábado. "Quando se coloca em causa a credibilidade de alguém, esse alguém não se pode esconder e tem que dar a cara", afirmou o líder do partido, conhecido pelo habitual discurso critico contra as elites. "Se nos disserem que temos que nos demitir, demitir-nos-emos", afirmou o líder do Podemos. "Se nos disserem que nos devemos envergonhar, não somos nós que os vamos julgar. São as pessoas do Podemos, os que estão inscritos, que devem avaliar", disse Montero.

 

Os militantes vão ser chamados a responder à questão: "Considera que Pablo Iglesias e Irene Montero devem continuar com os cargos de secretário-geral e porta-voz parlamentar do Podemos?".

 

As críticas a Iglesias e Montero também surgiram dentro do partido. O presidente da câmara de Cádiz argumentou que o código ético do Podemos "não é uma formalidade, mas sim um compromisso de viver como as pessoas comuns para as poder representar nas instituições e supõe renunciar a privilégios como salários excessivos". O presidente da câmara de Valência destacou a necessidade de "ser coerente no que dizemos com o que fazemos".

 

Já a direcção do Podemos optou por defender os dois políticos, considerando que Iglesias e Montero estão a ser alvo de uma campanha de perseguição.

 

Iglesias declarou em 2016 que era titular de 126 mil euros em depósitos bancários e uma vivenda que adquiriu em 2013. A deputada Montero aufere um salário anual de 76.903,74 euros e em Maio do ano passado tinha declarado poupanças de quase 19 mil euros. Tal como os restantes membros do Podemos, ambos só podem auferir um salário correspondente a três salários mínimos (passará a quatro quando forem pais). O salário mínimo em Espanha é de 825 euros, o que significa que cada um deles aufere um salário de 2.475 euros, que passará para 3.300 euros quando os gémeos nascerem.

 

"Com os dados públicos que conhecemos, parece que o casal assumiu riscos acima do que é aconselhável", disse à Bloomberg Juan Villen, especialista em crédito hipotecário da firma Idealista. "Não são um bom exemplo ao endividarem-se desta maneira, especialmente numa altura em que estamos a pedir cautela ao sector financeiro para evitar os excessos do passado", acrescentou.  

 

Em 2017 Iglesias reforçou a liderança do partido ao recolher 89% dos votos nas eleições do Podemos, passando a controlar 60% da direcção.

 

Não havendo uma relação directa entre os casos em questão, em 2016 foi noticiado que o Governo venezuelano, liderado pelo então presidente Hugo Chávez, investiu mais de 7 milhões de euros num projecto político que tinha como objectivo criar uma força bolivariana em Espanha que resultaria no nascimento do Podemos.

 

O financiamento atribuído à Fundação CEPS (Fundación del Centro de Estudios Políticos y Sociales),  aliado ao movimento dos Indignados, esteve na génese da criação oficial do Podemos no início de 2014. A CEPS teve presença na Venezuela até ao ano de 2012. Um documento a que o El Confidencial teve acesso referia que Pablo Iglesias foi um dos principais beneficiários dos fundos recebidos pela CEPS.

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