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Obama avisa em Berlim que a democracia não pode ser tida como garantida
Obama está em Berlim na última viagem à capital alemã enquanto presidente dos Estados Unidos. Depois de conversar com Angela Merkel e perante o recrudescimento dos extremismos e do populismo, tanto na Europa como nos Estados Unidos, Obama quis lembrar que a democracia não é um dado adquirido.
No último périplo europeu e na sexta e última visita à Alemanha como presidente dos Estados Unidos (EUA), Barack Obama começou por se referir à chanceler alemã, Angela Merkel, como "provavelmente, a minha mais próxima parceira internacional".
Obama prosseguiu dizendo que Merkel "foi uma parceira extraordinária" e assumiu que "se fosse alemão poderia apoiá-la" nas legislativas de 2017. Dando seguimento à troca de elogios, Merkel destacou a "capacidade de liderança" do presidente norte-americano que permitiu, entre outras coisas, mudar "a atitude dos EUA" e proporcionar o acordo sobre as alterações climáticas.
Barack Obama aproveitou para fazer a defesa da democracia, lembrando que "existe uma tendência para assumir" como garantidos os "nossos sistemas de governo e o nosso estilo de vida. Mas não são".
O momento escolhido para estas afirmações não é certamente alheio à vitória de Donald Trump nas presidenciais americanas da semana passada. Nem o será ao crescimento de forças políticas populista em vários países europeus, incluindo na Alemanha. "Se não distinguirmos entre argumentos sérios e propaganda, então temos problemas" resumiu.
Num momento de grandes dúvidas sobre a relação custo-benefício da globalização, Angela Merkel e Barack Obama reiteraram o compromisso em relação ao multilateralismo económico mas também político.
Obama : Merkel a été "une partenaire extraordinaire" https://t.co/e4bt36wysS pic.twitter.com/Kzqwi72EOI
— lalibre.be (@lalibrebe) 17 de novembro de 2016
Ainda assim, Merkel sustentou que "a globalização tem de ser politicamente moldada" para corrigir assimetrias. Já Obama salientou que "o progresso não é inevitável" e, recordando a história da Alemanha no pós-guerra, recordou que "é a adesão aos valores com que nos preocupamos" que pode assegurar um melhor futuro para todos.
Obama e Merkel gerem danos antes de Trump assumir a presidência
Boa parte das declarações de Merkel e Obama serviram para demonstrar que os interesses de Washington continuam alinhados aos de Berlim e Bruxelas. O contexto é o da eleição de Trump, que durante a campanha colocou em causa o compromisso relativamente à NATO e defendeu políticas proteccionistas sob o lema de "América primeiro".
"Os nossos interesses estão alinhados", salvaguardou a chanceler que lembrou que "precisamos desta cooperação" transatlântica. Pelo seu lado, Obama assegurou o compromisso dos Estados Unidos no que concerne à "nossa aliança com os parceiros da NATO".
A este respeito e também sobre a alegada proximidade de objectivos entre Trump e o presidente russo, Vladimir Putin, Obama disse sentir-se "encorajado pela insistência do presidente eleito em como o compromisso face à NATO não mudou", acrescentando ter "esperança que [Trump] não adopte simplesmente uma abordagem de ‘realpolitik’".
"A minha esperança é que o presidente eleito mantenha uma abordagem construtiva (…) mas que também se levante perante a Rússia quando esta se desviar das normas internacionais", afirmou Obama.
Durante este encontro, em que ficou patente a proximidade entre Obama e Merkel – dois líderes que nem sempre estiveram "em sintonia", recordou o presidente norte-americano –, foi ainda realçada a importância de prosseguir negociações para a conclusão do Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP, na sigla original), que podem estar em risco depois das inúmeras críticas de Trump contra todos os acordos comerciais assinados por Washington.
O conflito ucraniano, a guerra contra o terrorismo, designadamente contra o Estado Islâmico (EI) e a guerra na Síria, foram outros temas abordados. Obama aproveitou para agradecer o esforço de Berlim e do povo alemão no acolhimento de refugiados, afiançando que "não estão sozinhos a lidar com este desafio que precisa de uma resposta internacional" e de um apoio "mais robusto dos EUA". Ver-se-á como Donald Trump irá lidar com estes temas.